Macau foi ontem a votos para eleger a V legislatura da RAEM. Em disputa estavam 14 lugares para deputado na Assembleia Legislativa pelo sufrágio directo, e 12 pelo sufrágio indirecto. Vamos falar deste último primeiro, para tirar logo essa palhaçada do caminho. Assim foram eleitos os 12 candidatos que concorreram às doze vagas. Nãããooo…a sério? Grande surpresa. Assim vamos ter durante mais quatro anos os srs. Chan Chak Mo, Cheang Chi Keong e Cheung Lap Kwan, que tanto têm contribuído para o bem público à custa de tanto sangue, suor e lágrimas. Nem havia Assembleia sem eles, que Deus nos livre de tal coisa. Além destes, vamos ter os irmãos do nosso chefe, o dr. Leonel Alves e os suspeitos do costume. Parece que há ali uma ou outra novidade, mas como desconheço as pessoas em causa, abstenho-me de comentar, pelo menos por enquanto.
Quanto ao sufrágio directo, operou-se uma verdadeira revolução. Ao contrário de há quatro anos, onde houve apenas uma alteração em termos de mandatos, este ano foram várias as listas que ganharam e perderam deputados. Não gostei dos resultados, e assumo tanto a falência das minhas previsões, como a minha derrota. A derrota da lista que apoiei é também a minha derrota, lógico, e não me vou demarcar do seu fracasso. Eles eram os meus candidatos, e eu o seu eleitor, por isso estamos ambos no mesmo barco. Isto não significa que obtivesse benesses em caso de vitória, tal como não perco o meu emprego porque um dos meus candidatos perdeu o seu. Em política somos todos intérpretes, eleitores e candidatos, e tocamos na mesma banda, e por isso celebramos o sucesso e sofremos com as derrotas. Antes de comentar com mais detalhe, vamos primeiro à vaca fria dos números. Vaca não, porca. A vaca é um animal demasiado nobre para associar a resultados deste calibre. A porca fria dos resultados, assim é melhor.
O grande vencedor deste sufrágio directo foi a lista 13, encabeçada por Chan Meng Kam, que não só obteve uma vitória esmagadora, com mais de dez mil votos (!) de vantagem sobre o 2º lugar, como conseguiu um feito inédito: eleger três deputados concorrendo apenas com uma lista. Assim a Chan Meng Kam junta-se Si Ka Lon, o que já era de prever, e ainda a sra. Song Pek Kei, uma estreia. A jurista que se apresentou como nº 3 desta lista dos Cidadãos Unidos de Macau ainda não deve ter descido à terra, e ainda pensa que está a sonhar. A lista de Chan Meng Kam registou uma subida muito acima das expectativas mais optimistas: dos 20 mil votos em 2005, desceram para 17 mil em 2009, e agora ultrapassam a fasquia dos 26 mil, o melhor resultado de sempre de uma só lista na história dos sufrágios em Macau.
Depois de Chan, e a mais de dez mil votos, como já referi, aparece a lista 8, a União Macau-Guangdong, de Mak Soi Kun. Esta foi a grande surpresa da noite, na minha opinião; Mak não só é reeleito, como ainda leva consigo para a Praia Grande o seu nº 2, o desconhecido Zheng Anting. Em terceiro ficou a lista 14, a dos “kai-fong”, que recuperam o segundo deputado perdido em 2005. E este deputado é nem mais nem menos que a infame Wong Kit Cheng, a jovem vice-presidente da Associação das Mulheres, que há pouco tempo foi notícia por ter afirmado que a vinda de enfermeiros portugueses para Macau podia colocar em risco a vida dos doentes. Pelos vistos dizer disparates compensa, e contra todas as previsões, os “kai-fong” foram a lista do chamado sector tradicional mais votada, batendo os operários nesse departamento.
Foto: Fernando C. Gomes
Os outros vencedores da noite foram Pereira Coutinho e Angela Leong, que ficaram separados por poucos votos. A Nova Esperança, assente na plataforma da ATFPM, a associação que representa os trabalhadores da administração, conseguiu eleger um segundo deputado, uma ambição antiga de Pereira Coutinho. Onde há quatro anos Rita Santos falhou, este ano Leong Veng Chai teve sucesso, e talvez esta operação de charme tenha tido resultados junto do eleitorado chinês. Com o voto dos macaenses dos funcionários públicos Coutinho pode sempre contar. Angela Leong não conseguiu levar Wong Seng Hong consigo para o hemiciclo, mas ficou perto, e sobretudo subiu em número de votos, provando que conta com o apoio de uma parte respeitável do eleitorado, mais do que apenas os funcionários da SJM. Melinda Chan foi eleita muito mais à vontade do que em 2005, quando se previam mais dificuldades, A sua MUDAR foi outra das listas que sai com a sensação de dever cumprido.
Falemos agora dos grandes derrotados, cujos resultados indicam uma grande viragem no sentido de voto da população em relação a 2009.
Assim as duas forças mais votadas nas últimas eleições, os operários de Kwan Tsui Hang e o Novo Macau, perderam um deputado cada. Kwan levou mesmo um enorme trambolhão nas urnas, perdendo quase metade dos votos que obteve há quatro. É irrelevante que o seu nº 2 fosse um desconhecido, ou tivesse pouco charisma. Podia até ser o Pato Donald, que os operários costumam contar sempre com uma grande falange de apoio entre os eleitores. Algo vai mal lá na fábrica. O Novo Macau perdeu um deputado, e pela primeira vez desde a criação da RAEM não foi a força mais votada, mesmo no conjunto das três listas. O terceiro deputado que a associação liderada por Ng Kwok Cheung conquistou em 2009, uma ambição antiga, ficou agora de fora. Não vamos ter mais Chan Wai Chi nesta legislatura. O resultado do Novo Macau tem um significado importante, e requer uma análise mais extensa, que guardarei para o post seguinte.
Das listas que não elegeram ninguém, destaque para Agnes Lam, que voltou a falhar na sua ambição que manifestou há quatro anos. Confesso que esperava que fosse eleita, apesar de não me rever na sua proposta, mas nestas eleições os votos nos grupos do “pro-establishment” ditaram as regras. Agnes Lam voltou mesmo a ficar outra vez atrás de Kuan Vai Lam, que em 2009 era nº 2 da lista 5. Paul Pun voltou a ficar de fora, pela quarta vez, e deve começar a procurar apoios junto de associações fortes se alguma vez quiser chegar a deputado. Só a Caritas não chega, até porque a maior parte das pessoas que esta apoia não votam. Jason Chao foi a grande desilusão pela negativa; não só não foi eleito, como nunca constou do top-20 durante toda a contagem, à medida que os resultados provisórios iam sendo divulgados. Parece que o apoio com que Jason Chao contava nunca chegou, e de nada valeu o seu protagonismo dos últimos meses. Era provavelmente o candidato mais mediático deste sufrágio.
Assim na composição da AL, e na parte que toca aos deputados eleitos pelo voto popular, vamos ter alterações significativas, e uma boa dose de caras novas. Assim Chan Meng Kam, Mak Soi Kun, Ho Ion Sang, Pereira Coutinho, Angela Leong, Kwan Tsui Hang, Ng Kwok Cheong, Au Kam San e Melinda Chan foram reeleitos, enquanto Si Ka Lon, Zheng Anting, Wong Kit Cheng, Song Pek Kei e Leong Veng Chai são as cinco estreias. Agora resta esperar que novidades podemos esperar estes catorze eleitos da população nos próximos quatro anos.
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