Tenho acompanhado com alguma atenção a guerra de palavras entre José Pereira Coutinho e Carlos Morais José, este na condição de director do jornal Hoje Macau, contra o qual o deputado e presidente da ATFPM se insurgiu durante a última campanha eleitoral, acusando-o de ter uma agenda secreta para denegrir a sua imagem. Acho lamentável este diz-que-disse, este fez-não-fez, este é-não-foi, enfim, tudo o que é digno de uma lavagem de roupa suja, de uma zanga de comadres. E de facto penso que nem sempre as relações tiveram este acentuado odor a azedo entre as partes beligerantes, pois se a memória não me atraiçoa, Pereira Coutinho chegou a assinar uma coluna de opinião semanal ou quinzenal no Hoje.
A relação entre os politicos e a imprensa nunca foi pacífica em parte alguma do planeta, e Macau não é excepção. Longe vão os tempos em que um jornal servia de arma de arremesso politico, e actualmente a imprensa em português no território tem um impacto muito menor do que há vinte ou trinta anos, onde as tricas palacianas ecoavam com decibéis que chegavam a Lisboa, e podiam marcar a imagem das elites locais para o melhor e para o pior. Um chinês que ficasse a par deste pingue-pongue entre o deputado e o director do Hoje Macau encolhia os ombros, considerava-lhe uma “cosanostra”, e remetia o assunto para a apreciação da nossa tribo. Em tempos idos, ou Coutinho era mandado apresentar-se no Ministério na segunda-feira seguinte ou Morais José era metido no “jet-foil” e passava a “persona non grata” por estas bandas. Ambos se recordarão ainda desses tempos, certamente.
Não posso concordar de todo com a posição de Pereira Coutinho, que no início da peleja deu a entender que não simpatiza com a imprensa negativa para a sua imagem, e sabendo que o português é um idioma falado e entendido por boa parte do seu eleitorado, sentiu o toque, e apontou baterias contra o jornal, que acusa de o “difamar”, quando tudo o que fez foi dar uma notícia, e sempre sem afirmar categoricamente que se tratava de um facto verídico e comprovado. Dá a entender que Coutinho ou alguém na sua equipa leu as “gordas” e fez soar o alarme, sem reflectir no conteúdo. O director do Hoje, que fez o que lhe compete na defesa da sua dama, tem razão ao sentir-se indignado com as acusações que o deputado lhe fez, mas a argumentação parece assentar sobretudo em quezílias pessoais – quais, ignoro, e não me atrevo a adiantar motivos, mas é interessante a forma como a defesa da integridade do jornal e dos seus profissionais passou tão depressa à avaliação do desempenho do deputado nos cargos que desempenha.
Sabendo que Pereira Coutinho é uma personalidade que tem cuidados especiais com a sua imagem pública, e procura ser uma figura de consenso junto da comunidade portuguesa e macaense, duvido que leve esta intifada mais longe. Carlos Morais José, que já vi argumentar e contra-argumentar ao ponto de deixar o seu oponente desarmado – e por essa razão e outras sempre o admirei – parece aqui estar a ser movido por questões pessoais, que repito: desconheço e sobre as quais me recuso a especular. Os resultados da Nova Esperança nas últimas eleições reforçam a imagem de Pereira Coutinho, e demonstram que mais do que capacidade deste de “tirar nabos da púcara”, os eleitores depositaram nele a sua confiança, acreditam no seu projecto e reconhecem-lhe mérito. Se isto significa que o eleitorado é inapto ou que acredita em contos da carochinha, então outro galo canta nesta capoeira. O que era bonito era que trocassem galhardetes como os capitães das equipas de futebol: apertassem as mãos, e apelassem ao “fair-play”.
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