A guerra entre a TV Cabo e os anteneiros ainda mexe, e continua a ser uma dor de cabeça para o Executivo, que procura agradar a gregos e troianos. Por um lado a TV Cabo tem a lei do seu lado, pois o contrato celebrado com o Governo dá-lhe legitimidade para reclamar a exclusividade na transmissão de muitos canais actualmente disponíveis em sinal aberto. Disponíveis, e portanto em situação de ilegalidade, graças aos tais anteneiros, que transmitem o sinal dos canais mais vistos pela população, e que durante anos procuram benefícios que o seu estatuto de "piratas" lhes impede de obter. De quando em vez os anteneiros aborrecem-se, cortam o sinal e a esmagadora maioria dos lares em Macau – que não assinam a TV Cabo – ficam sem TV ao serão. Isto é mau para a harmonia, privar os residentes dos seus programas favoritos ao serão. A maioria não quer saber dos acordos cozinhados entre o Governo e os emissores de sinal, querem é ver as palhaçadas dos concursos e as novelas dos canais de Hong Kong. Mesmo que quisessem cumprir e ficar na legalidade, a maioria dos edifícios não está preparada para receber as emissões, e equipá-los para o efeito seria uma tarefa dispendiosa e sobretudo morosa. A TV Cabo tem a lei do seu lado, pois, mas "so what"?
Recentemente ambas as partes sentaram-se à mesa, e chegaram a um acordo. A TV Cabo, como quem dá um doce, deixou os anteneiros transmitir alguns dos seus canais em sinal aberto, mas outros deixaram de chegar à casa de grande maioria dos telespectadores. Alguns destes canais, como a CCTV5, eram bastante populares, e o acordo deixou um sabor amargo entre a população local. Num dos programas do fórum da TDM, um representante da TV Cabo defendeu-se dizendo que o acordo "foi o possível", e que mesmo assim "ficaram a perder dinheiro". Isto traduzido do o dialecto mais falado em Macau, o dos cifrões, significa que "não ganharam tanto como ganhariam" cortando as pernas aos anteneiros, portanto "se não ganharam, perderam". Perante a insatisfação popular, o Executivo quer renegociar, de modo a que os lares tenham acesso a mais canais gratuitos, e daqui a um ano, quando terminar o contrato com a TV Cabo, o serviço de emissão de sinal de televisão será liberalizado, e isto pode ser bom, ou nem por isso. Depende. Senão vejamos.
A abertura de um concurso público para transmissão de sinal televisivo tem desde logo a vantagem de terminar com a guerra entre a TV Cabo e os anteneiros. Significa ainda o fim dos anteneiros, e dificilmente a TV Cabo será a escolhida; nem deve concorrer, e deverá remeter-se a transmitir os canais incluídos no seu pacote que nunca foram "pirateados" pelos anteneiros. O serviço de televisão por cabo em Macau é bastante fraquinho, e basta ligar a TV num hotel de qualquer país ou território da região para constatar as limitações da TV Cabo local, quer em oferta, quer em qualidade. Um dos requisitos deverá ser que qualquer casa em Macau deve receber o sinal transmitido pela nova concessionário, e como há quem diga que "é melhor o Diabo que a gente já conhece", aqui entra a CTM. Isso mesmo, a companhia de telecomunicações de Macau quer entrar na corrida à televisão. É aqui que a porca torce o rabo. A CTM? A TV Cabo das telecomunicações? Devíamos era ter anteneiros na internet. Isso é que me dava gozo.
A ideia é dotar o território de um sistema semelhante a outros países, onde através da compra de um único pacote, o consumidor fica com acesso à rede móvel, à internet e à TV. Em Portugal este tipo de serviço é há muito providenciado pela MEO, e com resultados satisfatórios. Mas a CTM não é a MEO. A CTM não é MEO, nem é TEO, nem é de ninguém. A TDM providencia um serviço medíocre, caro e de validade questionável. Se há outra companhia que conseguisse providenciar um serviço melhor que a CTM e a preços competitivos? Há...qualquer outra, mas não deixam! Se há algo que o Governo se devia empenhar era acabar com o monopólio da CTM, como fez com a TV Cabo, em vez de lhes dar mais um "brinquedo". Com a CTM encarregada do sinal de televisão, vamos ter jogos de futebol em directo que já acabaram mas que na TV ainda estão no intervalo, e como não há "cabos sub-aquáticos" de televisão para serem mordidos por tubarão, justificam-se com os "cabos aéreos" onde colidiu um albatroz. Quando ficarmos sem sinal de TV devido a um dos famosos "apagões" da CTM, vão justificar-se com um palerma qualquer que confundiu o botão do quadro com o do ar-condicionado. Quem se esqueceu de uma conta de 30 patacas que ficou por pagar há dois anos, fica de uma assentada sem telemóvel, internet e televisão, como é política da CTM – isolado do mundo. Liberalizem, echam-nos de canais e tudo isso, mas mais CTM não, por favor! Já chega.
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