segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Autárquicas em revista


SÓ EU SEI, PORQUE FICO EM CASA

Realizaram-se ontem as eleições autárquicas em Portugal, que levaram os portugueses às urnas para escolher os presidentes de câmara e juntas de freguesia dos 308 concelhos do continente e ilhas. Mais uma vez o grande vencedor foi abstenção, com mais 47% dos eleitores a preferir usar o Domingo para fazer outra coisa qualquer, o que demonstra um crescente desinteresse pela coisa pública. Curiosa a forma como os portugueses castigam a incompetência dos seus politicos: abstendo-se. É como quem tem a oportunidade de mudar o que está mal mas prefere ficar quietinho. Dos mais de nove milhões inscritos, menos de cinco milhões foram votar; é como se uma metade deixasse a outra decider por eles. Foram registados 189.133 votos em brancos e 144.114 nulos. Incrível como há mais de 300 mil pessoas que se incomodam a sair de casa, ir até ao local da votação, apresentar o cartão de eleitor e aguardar a sua vez...para nada.


PS E OS INDEPENDENTES

O eleitorado resolveu "castigar" o Executivo do PSD, de Pedro Passos Coelho, dando uma vitória expressive à oposição, nomeadamente ao PS. Os socialistas conquistaram doze câmaras em relação a 2009, e o PSD perdeu trinta. A CDU foi outro vencedor, aumentando o número de municípios de 28 para 30, com relevo para a margem sul do Tejo, Alentejo e Algarve, bastiões comunistas desde 1974. Onze dos municípios foram ganhos por independentes, candidatos apoiados por grupos de cidadãos, e sem apoio dos partidos. Dos quatro concelhos mais populosos do país - Lisboa, Porto, Gaia e Sintra - a Invicta foi vencida por Rui Moreira, gestor que ficou popular pela participação no painel do programa de análise desportiva "Trio de Ataque". Outros concelhos mais concorridos vencidos por independentes foram Oeiras, onde ganhou Paulo Vistas, e Matosinhos, onde o vencedor foi Guilherme Pinto.



LISBOA DEU À COSTA

O socialista António Costa, o "Obama português", obteve uma vitória esmagadora em Lisboa, obtendo mais de 50% dos votos, traduzidos em onze dos dexassete mandatos em disputa. O grande derrotado foi Fernando Seara, ex-presidente da Câmara de Sintra, uma aposta falhada do PSD para conquistar a capital. Os sociais-democratas só estiveram na frente da edilidade alfacinha nos 40 anos de democracia após o fim do Estado Novo com Pedro Santana Lopes, entre 2002 e 2005, e antes disso com Krus Abecassis, mas em coligação com o CDS.


COM A CARA NO CHÃO

Algumas derrotas nestas autárquicas foram como um atestado de óbito politico a alguns dos candidatos. Além de Fernando Seara em Lisboa, Luís Filipe Menezes sai como grande derrotado no Porto, e mesmo a aposta do PS na Invicta, Manuel Pizarro, revelou-se uma grande desilusão. Francisco Moita Flores, que presidiu ao município de Santarem nos últimos anos, falhou redondamente em Sintra, dando sinais de desgaste politico. O Bloco de Esquerda provou não estar talhado para as autárquicas, perdeu a única câmara que detinha, Salvaterra de Magos, e só obteve oito mandatos no total nacional. Mas foi o PSD que somou as derrotas mais dolorosas; perdeu a Covilhã pela primeira vez, perdeu Gondomar, onde mandava há vinte anos, e talvez naquela que foi considerada a maior surpresa, perdeu sete municípios na Madeira. A ilha "laranja", governada pelo "sultão" social-democrata Alberto João Jardim, deu o pior resultado de sempre ao PSD, que nas legislativas vence habitualmente em todos os concelhos.


JOBS FOR THE BOYS

Algumas dos nomes de peso dos partidos normalmente mais votados aproveitaram estas autárquicas para se "abotoarem" a um cargo de edil, como que premiando a abnegação à sua cor política. O maior exemplo foi Bernardino Soares, figura de proa da nova geração de dirigentes da CDU, que venceu em Loures. Basílio Horta, que se celebrizou pela sua passage da direita para os últimos governos PS venceu em Sintra, com o apoio dos socialistas, e Ribau Esteves, um dos nomes grandes do PSD, foi uma das poucas alegrias dos sociais-democratas, vencendo em Aveiro. O PP, de que ainda não falei, teve uma votação discreta, elegendo apenas cinco presidentes de câmara, e nenhum nome sonante.


LEVANTA-TE E RI

Finalmente, e para isto não parecer tão sério, uma nota humorística. Alguns dos novos presidentes de Câmara têm nomes castiços, que convidam ao trocadilho. Um dos mais badalados durante a campanha foi o de Paulo Cegonho Queimado, candidato do PS à Chamusca. "Queimado" e "Chamusca" juntos cheira a esturro, mas a verdade é que o senhor foi mesmo o vencedor naquele município ribatejano. Hortênsia Chegado Menino ganhou em Montemor-o-Novo, Sílvia Tirapicos Pinto em Arraiolos e Manuel Condenado em Vila Viçosa. Este último vai sentir-se como peixe na água caso se veja a contas com a justiça no exercício do seu mandato. António Mestre Bota é o vencedor em Almodôvar, e João Português em Cuba (do Alentejo, entenda-se) - pelo menos não foi um dos irmãos Castro. Terminando nos Algarves, com convém, temos na liderança da câmara de Faro o nutritivo Rogério Bacalhau Coelho, e em Aljezur o diminutivo José Manuel Velhinho Amarelinho. Coitadinho. Desconheço se o candidato Angelo Fragoso, na imagem, conseguiu vencer na mítica freguesia da Picha, concelho de Pedrógão Grande, distrito de Leiria. Fico a esperar que tenha conseguido os seus intentos, e assim consiga levar a Picha para a frente, como prometeu.

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