segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Este Macau não é para os novos (Chao baby)


A Associação do Novo Macau Democrático (ANMD), foi a par da União para o Desenvolvimento e Progresso o grande derrotado das eleições de ontem. Foi um dia para esquecer para democratas e operários, que perderam um deputado cada, e viram a sua votação baixar significativamente, especialmente os operários, que ficaram com quase metade dos votos de 2009. Mas se nisto dos sectores tradicionais as coisas andam um pouco ao sabor dos ventos soprados pelas associações que os compõe, o que dizer do fracasso da principal lista da pan-democracia? O que aconteceu com o Novo Macau, que era sempre a força mais votada em sufrágios anteriores?

Em primeira análise, a divisão da plataforma da ANMD em três listas pode ser uma das explicações para o “crash” da democracia nestas eleições. Mas será mesmo assim? O resultado de Jason Chao não foi assim tão significativo para explicar tudo, pois os quase dez mil votos que Ng Kwok Cheong e Au Kam San perderam em relação a 2010 não foram parar aos Liberais da lista 2. Assim fosse, e até se podia falar de um resultado assim-assim. A realidade é apenas esta: os democratas perderam votos. O somatório dos votos das três listas é inferior ao das duas de 2009, e pela primeira vez desde 1992 o Novo Macau não subiu em número de eleitores. Mas porque carga de água?

Outra razão apontada para este desastre dos democratas foi a diminuição em termos de afluência. É uma explicação mais sensata, de facto, pois os eleitores do Novo Macau são normalmente pessoas descomprometidas com outras listas com um eleitorado mais específico, que se sente quase na obrigação de ir votar de modo a eleger o seu “líder”. Mas mesmo nesse caso, isso deve ter prejudicado mais a lista de Jason Chao que as outras duas. Realmente é pena que o apoio que os Liberais pareciam ter tenha mudado de ideias, ou preferido ficar em casa ontem. Não basta achar os ideais porreiros, sair à rua a fazer barulho e chatear a polícia. Na hora H é preciso ir lá pôr o voto na urna, para que tudo isso faça algum sentido. Os votos de Ng Kwok Cheong e em parte o de Au Kam San vêm da parte dos residentes da classe média ou média-baixa, chineses de Macau de segunda ou terceira geração, e nem sempre são jovens. Mas se estes votos não foram nem para Jason Chao, nem perdidos na preguiça dos eleitores, para onde foram eles?

Avanço com uma teoria: foram para Chan Meng Kam e para Mak Soi Kun, e alguns mesmo para os “kai-fong”. É na zona norte da cidade que tudo se decide, e quem tiver ali mais votos, ganha as eleições. Nos últimos anos foi o Novo Macau quem mais votos obteve neste núcleo onde reside mais de um terço da população, este ano os “nortenhos” foram atrás de outra banda. Não compreendo bem porquê; o Novo Macau manteve-se igual a si próprio na última legislatura, os seus deputados foram outra vez os únicos a pisar os calos ao Executivo, continuaram a ser uma voz incómoda, um contraponto à nomenclatura estabelecida, tudo isso. Não estiveram envolvidos em escândalos de corrupção, e que se saiba não há notícia de concubinas na China ou Ferraris nas suas garagens. Não viraram as costas a ninguém e mantiveram sempre a sua sede ao dispôr da população, procurando ajudar a tratar dos seus problemas, a ouvi-los, e conseguiram mesmo renovar os seus quadros, especialmente com a entrada de Sulu Sou, que ainda por cima esteve exímio nos debates televisivos. Que grande porra…afinal o que se passa?

Talvez os eleitores mais oscilantes do Novo Macau estejam contentes com o desempenho do Executivo, e acharam que deviam começar a colocar a cruzinha noutra força menos confrontatória, e mais dialogante. Pode ser isso. Se calhar a vida corre-lhes bem, ou os residentes que adquiriram a tal habitação económica tão generosamente construída pelo governo votavam todos em Ng Kwok Cheong, e agora que estão contentes acham que já não é mais necessário. É difícil encontrar uma razão concreta, até porque normalmente ninguém se assume como eleitor do Novo Macau. Já viram mais alguém a entregar propaganda dos democratas a não ser os seus próprios elementos? Vêm por ali malta com camisolas do Novo Macau, senhoras com leques onde se vê o seu dístico imprimido, ou velhinhas com porta-chaves verdes e brancos com um desenho do farol da guia? Pelo menos o Chan Meng Kam tinha batatas fritas e tudo.

A verdade é esta: a maioria silenciosa eclipsou-se nestas eleições, e isso deixa-me triste. Primeiro porque gostaria de ver Jason Chao na AL, pois seria uma lufada de ar fresco, e poderia levar ao hemiciclo temas fracturantes que ainda são tabu. Não sei porque é que as pessoas associam “fracturante” a qualquer coisa de mau, de demoníaco, como se fosse um apelo à anarquia e à desordem social, um mergulho no caos. Não há nada que não possa ser discutido, desde que tenha validade para a sociedade no seu todo. Só falta alguém com coragem para fazê-lo, para tomar a iniciativa. Não concordo com o Paulo Rêgo quando sugeriu que o facto de Jason Chao se ter assumido como homossexual tenha prejudicado a sua imagem. A verdade, verdadinha é que a malta não foi pôr o voto onde andou a botar falatório. Foi só garganta.

Finalmente penso que esta derrota dos pró-democratas revela algum conformismo onde ele não devia existir. Acredito que haja quem tenha aberto o champanhe com a derrota do Novo Macau, mas eu fico apreensivo que os votos da chamada “oposição” tenham ido parar aos compadres de Fujian e de Jiangmen, aos “kai-fong” ou à malta dos casinos. Não acho que os problemas como a falta de habitação, a especulação imobiliária, a poluição, o trânsito e a qualidade dos transportes públicos, a dependência da economia no sector do jogo, a inflação e a perda de qualidade de vida dos cidadãos tenham sido resolvidos, nem consigo apontar para nada de relevante que tenha sido feito em prol dos direitos civis e humanos, da igualdade de géneros, ou da protecção dos animais. É caso para perguntar: estão a rir do quê? Quando chegar a hora de sair à rua em nome dos problemas a que o Executivo faz vista grossa, ou das questões importantes, como a reforma política, que teimam em manter guardadas “na gaveta”, peçam lá ao Chan Meng Kam ou ao Mak Sio Kun que o façam, que se juntem a vocês. Afinal foi essa a vossa escolha.

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