Um inquérito realizado entre os magistrados em Portugal pelo Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra deixou a Procuradora-Geral da República "preocupada", e promote deixar os portugueses aborrecidos, pelo menos. À pergunta "Concorda com a afirmação de que "alguns cidadãos não têm uma cultura política suficiente para fazerem opções em eleições?", a maioria dos juízes respondeu que "concorda", quando as outras opções era "discorda" e "nem uma nem outra". Isto vale por dizer que os eleitores portugueses "são burros", e se temos um Governo que desgoverna, a culpa é sua (a dos eleitores, portanto, e já agora sua também).
Achei piada a esta notícia do JN, e não pude deixar de estabelecer um paralelo com as eleições legislativas do Domingo passado em Macau. No telejornal da TDM de ontem (sexta-feira), foi feita uma excelente reportagem sobre os resultados eleitorais, onde se entrevistaram politólogos, académicos e gente anónima, apanhada ao acaso na rua. Aos "especialistas" permitam-me que vos diga apenas isto: não sabiam, não faziam ideia, nunca vos passou pela cabeça um resultado destes, digam o que disserem. Podem ter acertado numa coisinha ou outra, na subida deste ou na descida daquele, mas corto a piroca e colo-a na testa se me provarem que estavam à espera que a lista de Chan Meng Kam elegesse três deputados e a lista de Mak Soi Kun elegia dois. Fica apostado.
Gostei de ouvir algumas das opiniões dos residentes, especialmente a dos que consideram que este resultado foi "negativo" para Macau, e que colocou mais poder nas mãos do sector empresarial, enquanto fez o sector pró-democrata perder a voz. Um dos entrevistados foi mesmo mais específico, dizendo-se "triste como cidadão de Macau" que tenha vencido uma lista de Fujian. Não é preciso ser politólogo para perceber isto: foi mau. Por muita simpatia pessoal que possamos nutrir por este ou aquele candidato, votar em grupos de interesses vai dar mais força a esses interesses, e não ao colectivo.
As eleições são uma oportunidade para mudar algo, de avaliar o desempenho dos politicos. É a única arma ao serviço do povo em democracia, que assim pode pelo menos "mudar as moscas", mesmo que a caca se mantenha fedorenta e fumegante. Não concordo que se deva culpar os eleitores pelos males da governação, mas sem dúvida que esse é um dos maiores defeitos da democracia: manda a maioria, mesmo que a maioria seja burra. Solução? Emigrar, claro. Mas se estão à procura de um local onde se levem as eleições a sério e exista realmente uma cultura democrática, não recomendo Macau.
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