A RTPi tem transmitido de segunda a sexta a série “Bem-Vindos a Beirais”, uma produção da SP Televisão com um total de 75 episódios – é obra, e não sei se estão já todos gravados. O elenco conta com alguns nomes de peso, como Pêpê Rapazote, Lúcia Moniz, Dinarte Branco ou a sensual Oceana Basílio, mas infelizmente é uma desilusão, uma daquelas séries que dificilmente ficará na memória. “Bem-Vindos a Beirais” sofre do mesmo problema de muitas produções portuguesas do mesmo género: falta de ambição, argumento deficitário, representação medíocre e um provincialismo gritante. Com um elenco deste gabarito podiam ter aspirado a muito mais do que isto, e os actores mais talentosos ficam sem saber o que fazer com uma história tão pobrezinha.
A acção decorre na freguesia fictícia de Beirais, inspirada numa daquelas localidades com um apeadeiro onde por vezes para o inter-regiões e que ninguém ouviu falar. A maioria dos personagens reflecte a interioridade e o ruralismo das populações típicas destes lugarejos, a sua simplicidade, o seu regionalismo e tudo mais. Agora a pergunta que importa fazer: a quem interessa isto? A que público se dirige? Velhinhas que consomem apenas programação inofensiva, sem violência e que não as obrigue a puxar muito pela cabeça? Qualquer pessoa minimamente alfabetizada vai achar isto um martírio, que nem numa tarde de chuva com os outros canais avariados se suporta. Mais vale ler um livro.
Um dos sintomas que uma série/telenovela/filme portugueses são maus é a presença da GNR como autoridade-mor. Onde manda a GNR está o caldo entornado em termos de interesse, e já existem telenovelas de sobra a servir de exemplo. O papel de comandante da guarda republicana fica aqui a cargo de Luís Aleluia, que apesar de ser um tipo simpático e um actor mais-ou-menos, tem o azar de nunca lhe ter sido dado um papel em televisão ao nível do “menino Tonecas”, com que se celebrizou. Quando as despesas do humor ficam a cargo de Aleluia e de Noémia Costa, é muito mau sinal. Os restantes personagens são muito pouco interessantes, e os diálogos irrelevantes; uma autêntica fábrica de encher chouriços.
Existe um enredo contínuo que não chega a ser interessante ao ponto de o seguir, e dois mas num dos episódios episódios a que assisti debruçavam-se sobre inanidades. Num deles dois agentes funerários (Dinarte Branco e Miguel Dias) faziam contrabando de relógios de marca, quando um dos caixões que usavam para o efeito foi requisitado para um funeral, e oh oh oh que coisa engraçada. Noutro episódio foi roubada a imagem da Nossa Senhora das Dores da paróquia, e ai Jesus que já não se fazia a procissão, cruz credo, que cai o Carmo e Trindade. Que pobreza franciscana, já que estamos numa de religião e santinhos. Por vezes a série conta com a participação de alguns convidados, gente da música, do desporto ou outros “sabores do mês”, que nem chegam a ter um efeito paleativo na qualidade. É como um doente em coma que vai recebendo injecções para se manter vivo, mas nunca mais ficará consciente.
Cada episódio procura mostrar uma parte do país ainda tradicional, de gente simples e transparente, crente, que dança nos bailaricos, corta presunto com um canivete e bebe vinho de uma caneca de barro. Quer dizer, respeito toda a gente, sinto-me até comovido que exista um Portugal profundo, mas a que ponto isto pode dar uma série de ficção interessante? Até a população de um local igualzinho a Beirais ia achar isto tão interessante como ver as pessoas que entram e saem pela câmara instalada à porta do prédio. Não é nem original nem cómico, não traz nada de novo, enfim, dispensava-se. O melhor ainda é o tema original, interpretada por uma tal Carolina Archer: “bem-vindos a beirais, ai ai ai ai”. Ai ai sem dúvida nenhuma. Até dói.
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