segunda-feira, 9 de setembro de 2013

De boas intenções...


Já alguma vez receberam felicitações de alguém de quem só esperavam receber um tiro ou uma carta armadilhada? Já? Então sabem como se sentiram os israelitas, que ficaram meio embasbacados com as boas intenções de um dos seus piores inimigos. Celebrou-se na sexta-feira o Rosh Hashanah, o ano novo judaico, e Israel recebeu os votos de um feliz ano de Hassan Rouhani, presidente do Irão, e do seu ministro dos negócios estrangeiros, Javad Zarif. O discurso oficial do Irão e dos seus líderes nos últimos anos aponta no sentido da “aniquilação total do estado sionista de Israel”, assim, sem mais nem menos, como quem amachuca uma folha de papel e joga na cesta do lixo. Esta animosidade do estado islâmico xiita, a juntar à sua proximidade geográfica com Israel, levantou sérias preocupações quando o Irão começou a desenvolver o seu programa nuclear. Mas desta feita, o que chega dos persas não são ameaças, mas simpatia, naquilo que é entendido como uma aproximação mais diplomática do novo executivo de Teerão.

Rouhani mandou os votos de feliz ano judaico da sua conta do Twitter, que abriu durante a sua campanha para a presidência do Irão, em Junho passado. Zarif, que foi escolhido pelo novo presidente para a pasta dos negócios estrangeiros, optou pela mesma rede social para felicitar os vizinhos. O chefe da diplomacia iraniana, que fez a universidade em Denver, nos Estados Unidos, acrescentou mesmo que “o Irão nunca negou oficialmente o Holocausto, e a pessoa que o fazia já não está no governo”, referindo-se indirectamente ao antecessor de Rouhani, o temível Mahmoud Ahmedinejad, que não travaria numa passadeira onde estivessem a passar criancinhas israelitas, quanto mais mandar-lhes mensagens de boas festas. A opinião pública israelita recebeu a notícia com alguma apreensão e até desconfiança – quando a esmola é muita… Entre os que se congratulam com a demonstração de amizade, há os que não acreditam nem por um segundo que os iranianos os querem bem, e ainda os que consideram que tudo não passa de uma operação de charme, e que nada mudará nas relações entre os dois países. Sejam quais forem as intenções dos líderes do país dos ayatollas, mandaram apenas votos de bom ano, e não juntaram ao cartão nenhum míssil. Não é ainda um final feliz, mas é um bom começo.

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