A campanha eleitoral para as eleições legislativas do próximo dia 15 teve início na noite de sexta-feira, e durante quinze dias vamos ter uma cidade colorida com as cores das 20 listas concorrentes, carros nas ruas a fazer poluição sonora, desconhecidos a entregar folhetos, autocolantes, panfletos e outras porcarias inúteis que além de serem um desperdício de meios, são também um atentado ao meio-ambiente. O incómodo que é a campanha de rua só dá mesmo vontade de ficar em casa, trancar as portas e selar as janelas, esperando que passe o tufão eleitoral. Da paz do lar, a única coisa que nos lembra que estamos em campanha até dia 13 são as notícias na TDM, e depois disso, lá pelas nove e pouco, o espaço de antena reservado aos candidatos. E isto meus amigos, é delicioso. Citando um dirigente desportivo da nossa praça, “é a sobremesa depois do jantar”.
O tempo de antena das eleições legislativas em Macau é completamente diferente daquele a que estamos habituados a ver em Portugal. Com excepção dos partidos mais pequenos, que com os poucos meios ao seu dispôr montam uma coisa engraçada, por vezes dentro do género “kitch”, os grandes partidos dão-nos uma seca que nem dois galões de creme hidradante aliviam. Os PS, PSD, CDU, PP e até o Bloco, de que recordo com saudade os tempos de antena do PSR, chegam-nos com imagens de comícios, bandeiras desfraudadas, comentários vazios de figuras públicas, enfim, uma chatice. Em Macau têm todos piada, cada um ao seu estilo, Não consigo deixar de rir com todos, sem excepção, mesmo quando fazem o possível e o impossível para serem levados a sério.
Ontem à noite o primeiro espaço foi reservado à lista 7, o Observatório Cívico, encabeçada por Agnes Lam e que conta nas suas fileiras com o único candidato português, o arquitecto Rui Leão. Gostei, foi ambicioso, rasgadinho, a candidata falou bem e demonstrou estar em forma para agarrar o tachinho que lhe escapou em 2009, mas não consegui deixar de rir. A parte em que os candidatos ficam de pé no topo de um edifício, posicionados como peças num tabuleiro de xadrez e contemplando o infinito foi demais. Bué da radical, meus. Agnes Lam falou em cantonense, e por acaso não reparei se as legendas eram em português ou inglês, e agora pensando melhor não tenho a certeza se haviam legendas de todo, pois nestas divertidas curtas-metragens o conteúdo é o que menos importa.
E prova disso é o tempo de antena seguinte, da responsabilidade da lista de Melinda Chan – não esperem que saiba de cor ou que me recorde do número de cada uma. Os elementos da lista debatiam sabe-se lá o quê sentados na mesa de um escritório, talvez “temas importantes do território e da vida dos residentes de Macau”, representavam mal e cada vez que um falava, os restantes abanavam a cabeça em concordância. Antes de um começar a falar, já os outros abanavam a mona como quem diz “sim, sim, claro, quem fala assim não é gago”. Um dos candidatos desta lista tinha os dentes pretos. Aliás, ao contrário de outras legislações por esse mundo fora, em Macau descura-se a higiene oral, tão importante para a imagem de um politico que se preze. Daí que em muitos cartazes a maior parte dos elementos das listas aparece de boca fechada. Se estiver a fazer um ar sério, desde que não tenha pinta de mau, até resulta, mas se está a tentar sorrir fica com cara de parvo, como uma criança que meteu uma castanha a escaldar na boca e não consegue disfarçar a aflição.
Gostei do tempo de antena de Melinda Chan, mas o melhor estava guardado para o fim; a lista 10, de uma tal Associação para a Promoção da Democracia, Liberdade, Direitos Humanos e Estado de Direito de Macau (Ideais de Macau). Isto tudo. Para cortar caminho, chamemos-lhe apenas “Ideais de Macau”. O cabeça-de-lista Cheong Weng Fat, é um espectáculo. É de tal maneira um cromo que ameaça destronar do primeiro lugar dos cromos o activista Lei Kin Yun, que este ano insiste em apresentar-se com uma faixa amarela na enrolada à volta da testa, dando a aparência que partiu a cachola. O candidato dos Ideais de Macau apareceu ajoelhado em frente ao que se assemelhava a um altar. Leu num papel o que tinha para dizer, tremendo como varas verdes, e no fim debruçou a cabeça no chão em jeito de oração islâmica. Fiquei sem saber se o senhor é budista ou muçulmano, mas de uma coisa tenho a certeza: é um ‘ganda cromo. A seguir com atenção.
Seguiu-se um tempo de antena de uma das listas candidatas ao sufrágio indirecto, o tal que tem 12 candidatos para 12 lugares, e que promete ser extremamente competitivo (estou a ser sarcástico, é lógico…). Aproveitei para ir lavar a loiça do jantar. Mas no que toca ao sufrágio directo, isto dos tempos de antena promete, e não me posso esquecer de ficar atento às nove horas, onde durante estas duas semanas vai passar esta super-produção de comédia “made in Macau”. Haja qualquer coisa que salve esta campanha…
PS: Uma coisa que não entendo: porque raio se vestem a toda a hora a maioria dos candidatos com o uniforme da lista? É verdade que estamos em campanha e é preciso dar a conhecer a respectiva plataforma, e as suas cores, não vá algum eleitor distraído ou daltónico enganar-se e colocar a cruzinha no quadradinho errado, mas porque não se vestem como pessoas normais? Vê-los sempre com a mesma indumentária dá a impressão que não trocam de roupa, o que neste calor pode fazer com os eleitores se afastem deles, em vez de se aproximarem, como é a sua intenção. O pior caso é a Nova Esperança, de Pereira Coutinho, que a juntar a isto ainda faz questão de usar uma espécie de gabardina laranja, que com as altas temperaturas e a humidade causa impressão. Nota zero para o guarda-roupa, nesta campanha eleitoral.
Sem comentários:
Enviar um comentário