O ano é de eleições para a Assembleia Legislativa, e tal como se previa Agnes Lam vai voltar a concorrer a um assento, contando para tal com a sua plataforma “Observatório Cívico”, que obteve pouco mais de 5 mil votos em 2009. Agnes Lam acreditou na altura que viria a captar um segmento de eleitores que lhe garantiria a eleição, e o fracasso deixou-lhe certamente um amargo de boca. A dose de lirismo com que a académica encarou o sufrágio pouco ou nada valeu dentro de um sistema tradicional, onde o que mais conta não é “ter voz”. A obtenção de um lugar no hemiciclo pela via directa passa sobretudo pelo realizável, pelo apoio das forças tradicionais e um certo “background”. É ingenuidade pensar que se pode lá chegar porque se é inteligente ou cursado. Não vou ao ponto de dizer que o lugar pode simplesmente ser “comprador”, mas ter dinheiro ajuda muito. Pelo menos é necessário ter uma plataforma que se mexa entre os interesses económicos do território, mesmo que as intenções sejam as melhores. É preciso ter amigos no Céu e no Inferno.
A candidatura do tal Observatório Cívico em 2009 foi entendida por alguns como uma estratégia para subtraír votos de um tipo de eleitorado que vota normalmente no Novo Macau Democrático. A “classe média” a que Agnes Lam pisca o olho não está orfã e à espera de uma luz que a guie. Quem não vota nos sectores tradicionais e goza de alguma independência na hora de colocar o voto na urna escolhe Ng Kwok Cheong e os seus pares, que apesar dos defeitos ainda constituem a coisa mais semelhante a um partido politico, em vez de um aglomerado de associações e interesses comerciais. É difícil educar o eleitorado no sentido de votar “em consciência” no que é melhor para Macau. Basicamente a maioria tem tendência a votar no que é melhor para si ou para os seus, e aqui Agnes Lam não tem nada para oferecer. Nem é garantido que os seus próprios alunos votem nela.
Ao apelar à tal “classe média” que a própria não consegue identificar muito bem, Agnes Lam comete dois erros: o primeiro é o de excluir o eleitorado dos estratos sociais inferiores. A sua mensagem dá a entender que não tem nada para oferecer aos eleitores com um nível de educação mais baixo. Uma eventual franja de eleitores com origem no operariado que não se identifique com as associações que os representam nunca entenderia a mensagem de uma lista que se diz “virada para a classe média, sector cultural e profissões liberais”. O segundo erro é exactamente esse. Agnes Lam não representa nada de novo, ou pelo menos nada que o NMD não represente. Os democratas têm a vantagem da experiência, dos resultados e sobretudo de muito trabalho de campo. Agnes Lam engana-se quando pensa que há por aí milhares de intelectuais e pensadores livres que anseiam por uma alternativa que ela se propõe a oferecer.
Caso a professora avance com a candidatura, tudo indica que o resultado seja o mesmo de há quatro anos. O Observatório não deverá beneficiar com o alargamento de dois lugares no sufrágio directo, que deverão ser disputados por eventuais números dois de listas com representação garantida. Quem sabe se em vez de apelar à tal classe média, Agnes Lam devia antes apelar ao elevado número de abstencionistas – só em 2009 foram mais de 100 mil. Uma dízima destes já seria suficiente para garantir a eleição. Como politóloga assumida e boa investigadora que é, deveria procurar qual é realmente o espaço que ainda falta ocupar no panorama politico de Macau. Só com classe média e interesses culturais não chega lá, pelo menos através da via directa.
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