O Chipre, lindo como ele só.
O clima de pânico económico que se tem vivido na União Europeia e na Zona Euro nos últimos anos conheceu esta semana um novo desenvolvimento com a ameaça de taxação dos depósitos bancárias no Chipre. Os cipriotas recearam que lhes deitassem a mão ao bolso, e deu-se a corrida aos bancos para levantar as poupanças antes que estas fossem subtraídas pelo estado, a quem a “troika” exije uma liquidez imediata de 6 mil milhões de euros. Receou-se uma epidemia nos restantes países em crise da Zona Euro – Portugal incluído, é claro – mas não passou de falso alarme. Afinal os cipriotas podem dormir descansados, não se vão taxar os depósitos, se bem que muitos habitantes daquele pequeno estado insular ao largo da Grécia confiem agora as suas poupanças à fruteira ou ao colchão lá de casa. A falta de confiança pode levar a outra situação indesejável: com os avultosos levantamentos de numerário, teme-se que os bancos vão à falência. A manta é curta, e quando se tapa a cabeça, ficam os pés de fora .
Pelo pouco que conheço do Chipre, confesso que não esperava que chegassem a este ponto. O povo cipriota, etnicamente helénico e identificado com a civilização grega, era um dos mais prósperos da Europa. Isto até cometerem o disparate de entrar na União Europeia, e mais tarde aderirem ao Euro. O Chipre foi nos anos 70 um barril de pólvora, com a invasão do norte da ilha pela Turquia, que ainda hoje mantém um estado (Northern Cyprus), fortemente militarizado, apenas reconhecido por Ancara. A economia do Chipre assenta em indústrias tão sólidas como a Farmácia, os instrumentos ortopédicos, material hospitalar, micro-tecnologia, pescado e citrinos, queijo e outros produtos alimentares. É ainda um porto estratégico no Mediterrâneo, e a sua população de pouco mais de um milhão não tinha muitas razões de queixa.
Do Chipre praticamente só ouviamos falar por altura do Festival da Eurovisão (a julgar pelas intérpretes femininas, há pitame de grande qualidade no Chipre), ou nos jogos de futebol contra a selecção portuguesa a contar para as fases de qualificação dos europeus e campeonatos do mundo. Alguns portugueses mais endinheirados conhecerão Paphos, uma estância balnear muito requisitada por turistas ingleses – até à sua independência em 1960, o Chipre era um protectorado britânico. Uma boa parte dos cipriotas fala fluentemente inglês, senão mesmo a maioria. É um local que mal conhecemos, e que agora é notícia pelos piores motivos. Já há alguns anos foi a crise irlandesa que apanhou todos de surpresa. Logo a Irlanda, que ainda nos anos 90 era a economia que mais crescia na União Europeia. Às vezes o mal vem de onde menos se espera.
Tinha um amigo cipriota, o Kostas (típico…) que estudou na Universidade de Aberdeen, na Escócia. O Kostas orgulhava-se da pujança económica do seu país e da sua qualidade de vida, muitos furos acima da sua “mãe” helénica, a Grécia. Aliás para ele uma das maiores desilusões da sua vida foi quando visitou a Grécia, país pelo qual todos os cipriotas têm um enorme carinho, e com que partilham a lingua e a matriz cultural. Se isso foi arrogância por parte dos pequenos cipriotas, os gregos devem estar agora a rir-se, e a dar-lhes as boas vindas ao clube dos falidos do Euro. Mas pode ser que os bravos ilhéus do país dos limões se consigam levantar. Daqui desejo-lhes rápidas melhoras.
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