O acesso rápido à informação, aos media e ao entertenimento são hoje uma realidade que aceitamos com normalidade. Tudo se processa ao segundo no mundo virtual, e não há notícia de relevo que não percorra o mundo em poucos minutos. Estamos mais bem informados que nunca, está tudo à distância de um clique. Como costumo dizer, é um tempo fantástico para se estar vivo, e tenho a certeza que o futuro vai ser ainda mais cheio de surpresas. Só para dar um exemplo, quando a Nokia lançou o primeiro modelo de telemóvel com GPS, que permitia filmar, tirar fotografias e enviá-las em segundos, todos pensaram que se tinha atingido o pique das telecomunicações. Depois chegou o iPhone. E certamente não vamos ficar por aqui; o caminho é para a frente, e quem se considera “satisfeito” é porque perdeu a “joie de vivre” – e mesmo estes rendem-se mais cedo ou mais tarde às mais recentes inovações.
Aqui estou eu outra vez a soar a um velho de barba branca, bengala e dentadura, mas ainda sou do tempo (aí está…) em que prezávamos o acesso à informação, que era muito mais difícil de obter. Antes do evento da internet existia uma coisa chamada “livros”, antes do jornais online existiam jornais de papel, que publicavam notícias do dia anterior (pasme-se!). Para saber os resultados de futebol das divisões secundárias e das ligas estrangeiras era necessário esperar pelo dia seguinte. Antes da Wikipedia existiam as bibliotecas, e consultavam-se enciclopédias clássicas que eram verdadeiros calhamaços e ficavam desactualizadas no dia seguinte à sua publicação. Por incrível que pareça, muita gente dependia dos serviços noticiosos na televisão para ficar informado. É curioso que apesar de ser possível saber de tudo o que se passa no mundo através da internet e em tempo real, existem cada vez mais blocos noticiosos na TV.
Mesmo a música (e nem vou falar dos filmes), que há alguns anos ainda se pagava (e bem), tornou-se um bem acessível a qualquer um que tenha um computador e uma ligação à rede, graças ao evento dos downloads ditos “ilegais” (eu pessoalmente fiquei fo… com o dinheiro que gastei em discos e CD’s até ao final dos anos 90). Quando era puto só comprava discos no aniversário ou no Natal, ou caso conseguisse juntar umas massas (o que era raro). Os mais velhos estarão certamente lembrados que um LP, aqueles discos redondos de vinil preto, custavam por volta de dois contos de réis ainda nos anos 80! Quando comprava um disco (CD’s só mesmo em Macau) guardava-o religiosamente. Hoje fazemos os próprios CD’s em casa e temo-los atirados pelos cantos da sala. Se os perdemos, riscamos ou partimos, fazemos outro. Oferecer um CD como prenda a alguém foi um luxo, em tempos, hoje é quase um insulto.
Não surpreende que exista uma grande dose de nostalgia por parte dos mais velhos e curiosidade entre os mais novos, que não entendem muito bem como viviamos sem internet. O programa da RTP “Não me sai da cabeça”, apresentado pela hiper-activa Sílvia Alberto relembra êxitos da música portuguesa dos anos 80 e que muitos ainda sabem de cor. A semana passada o programa foi dedicado ao tema “Dunas”, dos GNR, e esta semana foi a vez de “Chiclete”, dos Táxi. Quase trinta anos ou mais depois, há quem saiba a letra das canções de cor, mesmo os que eram ainda bastante pequenos, e alguns que nem tinham ainda nascido! Uma boa canção resiste à ferrugem dos anos. É engraçado e ao mesmo tempo trágico observar como os músicos mudaram tanto desde então. No fundo somos nós que envelhecemos também. Já sinto arrepios quando vejo fotos minhas de quando tinha 20 anos, e não foi assim há tanto tempo.
Outro programa que nos estimula a glândula nostálgica é aquele que passa por volta das 11 da noite ao Domingo na TDM, “Estranha forma de vida”, que faz uma resenha histórica da música portuguesa. Os primeiros programas eram dedicados aos primórdios da canção nacional, ao fado, música ligeira e restantes géneros dos quais restam poucos sobreviventes. Os programas mais recentes são dedicados ao período que se seguiu ao evento do “rock” português, e aí pudemos recorder grupos como os Salada de Fruta, os Roquivários, os Peste & Sida, os Heróis do Mar, os Ban, entre muitos outros. Leva-me de volta ao passado, ao tempo em que aguardava ansiosamente pelos programas musicais na TV onde podia assistir (e gravar, afinal existiam as cassettes VHS) aos meus videos preferidos. Hoje temos o YouTube. Devia sentir-me mais feliz por poder ver qualquer clip musical sempre que me apeteça, mas não sei porquê, sinto-me indiferente.
Tenho saudades dos tempos em que percorria as lojas de discos em Lisboa à procura dos meus albums preferidos, de percorrer com os dedos os discos organizados por autor, em ordem alfabética. Chegava a passar tardes inteiras na Valentim de Carvalho dos Restauradores (aquela que tinha os discos na cave, lembram-se?), e nunca me inibia de entrar em qualquer loja de discos que tivesse a porta aberta. Sabia lá que surpresas podia ali encontrar? Quando comprava um disco gravava para os amigos, em compensação eles gravavam-me os discos deles, e assim se realizavam os desejos melómanos da adolescência. Gostos não se discutem, é o que menos interessa. Quando vi num programa apresentado pelo Álvaro Costa nos finais dos anos 80 (Via Rápida?) que em Londres as lojas de discos “já só vendiam CD’s”, tremi, pois do alto da minha ingenuidade juvenil receava nunca poder comprar um leitor de CD, e que os meus queridos discos de vinil acabassem. A verdade é que acabaram sim, mas os CD’s também para lá caminham.
A realidade é que há 20 anos, em plena idade do Walkman, ninguém imaginava que hoje podiamos levar milhares de canções num aparelho do tamanho de uma carteira de fósforos, o iPod. Ninguém pensava que podiamos “sacar” da rede discografias inteiras dos nossos artistas favoritos (incluíndo raridades), cujos discos comprávamos com tanto sacrifício. Claro que quem ficou a perder foram os próprios artistas, que vêem assim o seu trabalho acessível a preço zero, à mercê de qualquer cibernauta, e condenados a viver dos concertos. Não sei se hoje é melhor que no meu tempo, eu diria apenas que é diferente. Não posso deixar de me sentir um pouco frustrado, contudo. Quando era um adolescente “teso” sonhava com o dia em que podia comprar um disco sempre que me apetecesse, com o dinheiro obtido através do suor do meu rosto. Assim lixaram-me, pá. Não se faz…
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