Estava a ver um programa dedicado à moda, nomeadamente à criadora portuguesa Fátima Lopes, uma referência nacional vinda da Madeira para o mundo, qual Cristiano Ronaldo. Nem sei quando é que a Ana Salazar, a (única?) criadora de moda nacional da minha infância se deixou ultrapassar por esta espécie de Cleópatra das passereles. O que é feito da Ana Salazar? Será menos comercial devido ao apelido que nos lembra o ditador? Terá pendurado o dedal, a agulha e a linha? Mistério.
Voltando à tal Fátima Lopes, a moça move-se pelo mundo da “haute couture” parisiense, e tem uma relação bestial com as câmaras. Fala pelos cotovelos, gesticula, explica os comos, os ondes e os porquês do seu ofício, enfim, está como um peixe na água. Lá no fundo até gosto da lata da magana. É despachada. Tem carisma. Deve ter aprendido com o tio Alberto João, o cacique da sua Madeira natal. Se é um exemplo de compatriota de sucesso que devemos todos admirar, não vou por aí. Isto da moda tem que se lhe diga.
Às vezes quando estou a fazer o almoço gosto de mudar de canal para a Fashion TV e aumentar o som do aparelho. Tenho que admitir que a escolha da música de fundo deste canal dedicado à moda foi bem conseguida. Muito actualizada, consequente, e até um pouco dançável, se me permitem a ousadia. Alguns colegas e amigos dizem maravilhas desta Fashion TV, nomeadamente no que toca à qualidade das modelos. Ouço opiniões no sentido de que se vê ali “material de primeira”. Aí não me resta senão discordar. Na forma e no feitio.
As modelos que desfilam nessas tais “catwalks” (passadeiras de gato, numa tradução literal) são das criaturas mais deprimentes que existem à face da Terra. Congratulo-me que se tenha (finalmente) tomado consciência que a excessiva magreza destas modelos é uma má influência para jovens que sonhem com uma carreira no mundo da moda. Além do mais, estas tais roupas com que desfilam são destinadas a quem? Outras múmias anoxéricas como elas? Isto para não falar de alguns “designs”, com que ninguém no seu perfeito juízo sairia à rua. Enfim, acho que percebo muito pouco de moda, para ser sincero.
Já que a tendência actual é para escolher modelos que tenham pelo menos um pouco de chicha, agradecia já agora que lhes exigissem também um pouco de massa cerebral. Modelos que tivessem pelo menos um dos hemisférios do cérebro a funcionar já não seria mau de todo. Cada vez que estas criaturas têm um minuto de tempo de antena batem um recorde mundial de disparates e profanidades debitadas durante esse período. Até parece que competem para o manequim mais burro. Aliás um manequim de plástico desses que decoram as montras das lojas de roupa não lhes ficam a dever muito no que toca à inteligência. Pelo menos esses não abrem a boca.
O pior é mesmo quando são inquiridas sobre hábitos de leitura ou qualquer coisa remotamente relacionada com a cultura que não têm. Neste aspecto são como as misses dos concursos de beleza. Deviam alegar alguma espécie de direito à reserva e evitar pronunciar-se sobre conceitos que lhes são perfeitamente alienígenas. Não lhes falta à vontade para falar, é certo, mesmo do que não sabem, e o YouTube está cheio de exemplos de belezocas que cometem calinadas épicas com a naturalidade de quem não tem capacidade para elaborar uma frase coerente, quanto mais para dar opiniões concisas sobre assuntos concretos.
Quando lhes perguntam que livros lêem, a maioria responde “revistas de moda”, que como se sabe têm muito pouco que se “leia”. As mais ousadas alegam que estão a ler um livro qualquer, e se por acaso se lembram do título, espalham-se ao comprido ao descrever o enredo. Sobre filmes é a mesma coisa: “Gosto daquele, uhh…com aquele tipo…é brilhante, é fantástico, uhhh…”. Chega a dar pena. Mas e depois? Isto é gente com uma conta bancária bem recheada, pouco importa o que nós, pessoas cultas mas que tem que dar duro para pagar as contas pensa. Se são tão boas a gerir os rendimentos como são a construír uma frase, é recomendável que tenham um bom contabilista.
Não passam de gente bonita, um conjunto de moléculas bem formadas, que normalmente acabam casadas com atletas ou actores de cinema ou TV igualmente néscios, e com quem têm filhos “lindos” a quem dão nomes exóticos que não lembram a ninguém, e que são motivos de chacota. Gostava de saber o que vai acontecer aos Brooklyns e às Lyonces Viiktórias desta vida se não herdarem o talento (?) de pelo menos um dos pais. Pois é, chamem-me invejoso se quiserem. Talvez tenha a minha vida menos facilitada que estas criaturas maravilhosas, mas pelo menos sou consciente. E no fim morremos todos, afinal, portanto dá empate. Ora toma. Comam esta posta de pescada e depois vão meter os dedos na boca e regorgitá-la.
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