O "lobby gay" de Macau entregou ontem na Assembleia Legislativa uma petição no sentido de ver reconhecida a União Civil entre pessoas do mesmo sexo. O paladino do reconhecimento dos direitos dos casais homossexuais tem como rosto Jason Chao, membro da Associação Novo Macau Democrático, que organizou no passado dia 20 de Dezembro uma primeira forma de manifestação "gay" no território - uma ideia pioneira, que contudo se saúda. Não passaram a existir homossexuais no território há apenas três meses quando Jason e os seus amigos e amigas saíram a rua para fazer ouvir a sua voz. A homossexualidade foi e é ainda um tema tabú, se bem que os indivíduos com este estilo de vida alternativo nunca tenham sofrido qualquer forma de descriminação ou represálias ao longo dos anos anteriores a esta nova vaga contestatária. Estiveram sempre bem identificados, nunca precisaram de enverdar pela clandestinidade, e não é algo que se "identifique" sequer, pois só os problemas se identificam, e este não é um problema de todo.
Os homossexuais, entendendo-os como um grupo que contribui para o desenvolvimento de Macau, trabalha, paga impostos e vota, tem por inerência os mesmo direitos de qualquer cidadão da RAEM. Não é preciso criar leis que façam deles "espécie protegida", ou sequer em vias de extinção - antes pelo contrário. Numa cidade ainda muito conservadora, a que se juntou o epíteto de "do Santo nome de Deus", temos homossexuais, bissexuais, e ainda "bi-curiosos", indivíduos heterossexuais, casados e pais de filhos que "provaram" (ou querem provar) esse "prato". Querem fazer parte da brincadeira, para saber como é. Acho que me faço entender muito bem. Há ainda os homossexuais reprimidos, homens e mulheres homossexuais que casaram por pressão familiar, tudo em nome da "harmonia". Existe ainda um conceito que um indivíduo homossexual "está apenas confuso", e que se pode "endireitar".
Não sou adepto do casamento entre pessoas do mesmo sexo, já deixei isto bem claro, mas não faço disso um cavalo de batalha. A adopção por casais "gay" é também um tema muito sensível, mas pessoalmente acho que uma criança está melhor com dois "pais" ou duas "mães" que lhe providenciem um lar, conforto, educação e carinho, do que institucionalizada, tantas vezes ao deus-dará, entregue a orfanatos e outras instituições de qualidade e intenções duvidosas, Se os homossexuais acham que os seus direitos não estão a ser devidamente observados, têm toda a legitimidade de os reivindicar, como qualquer outro cidadão. Se pensam que a vida lhes pode corer melhor se virem reconhecidas as uniões civis, com os mesmos direitos dos casais heterossexuais, isso é algo que apenas a eles lhes diz respeito.
Como contraponto foi hoje realizada uma outra petição, junto da Igreja de S. Lourenço, no sentido de recolher assinaturas contra a intenção de reconhecer a União Civil entre pessoas do mesmo sexo. Esta iniciativa foi fomentada por "alguns católicos", se bem que apenas uma senhora tenha dado a cara, publicitando-a no Facebook. A pessoa em questão, aparentemente uma católica devota, alega que a iniciativa de Jason Chao e seus pares pode magoar os sentimentos da comunidade religiosa de Macau” e “pode influenciar negativamente a sociedade”. Permita-me a ousadia, mas quem sois vós para falar em nome da sociedade? Que autoridade tem a autora desta iniciativa? E já que fala em nome da "sociedade", onde eu próprio me incluo, em que pode o reconhecimento das uniões civis homossexuais "influenciar negativamente"? Vai provocar uma epidemia de homossexualidade? Explique lá isso bem, e é favor não trazer Deus ou os santinhos para a conversa porque estes não lhe terão passado uma procuração para falar em Seu nome. Não sei se a Diocese de Macau apoiou esta palermice, mas espero que se tenha demarcado, em nome do bom senso. Seja como for, hoje choveu a potes todo o dia. A recolha de assinaturas não terá corrido assim tão bem, espero. Deus escreve direito por linhas tortas.
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