O clima de tensão na peninsula coreana é crescente, e especula-se sobre um eventual reatamento do conflito armado entre norte e sul, que cessou em 1953 sem que nunca tivesse sido assinada a paz. Tecnicamente as duas Coreias encontram-se em guerra desde 1950, mas passados mais de 60 anos, as guerras já não são o que eram antes. A Coreia do Norte, o país mais fechado do mundo e por isso mesmo uma incognita, ameaça com o seu arsenal nuclear, e a Coreia do Sul está em estado de alerta. As ameaças do país dos Kim nunca foram levadas muito a sério, tendo em conta o estado deplorável da sua economia e a erosão do seu tecido social. Do pouco que se sabe da Coreia do Norte o mais evidente é a pobreza aflitiva da sua população, a fome e a ruína estrutural.
Não será razão para entrar em pânico, mas é uma possibilidade real que não pode ser ignorada. Um conflito bélico a larga escala entre as duas Coreias seria prejudicial, especialmente para a região da Ásia Oriental, onde Macau está incluído. Apesar de garantir que possui mísseis de longe alcance que “podem reduzir Washington a chamas”, ninguém tem dúvidas que o confronto com os norte-americanos seria suicídio declarado. A questão é a posição da China. Pequim apoia o regime norte-coreano, que lhe serve como estado-tampão às democracias do Sul e do Japão, mas tem perdido a paciência com as provocações constantes do regime, que parece indifferente às sanções da ONU. Deixar cair a Coreia do Norte é uma opção que não agrada à China, e combater a seu lado não parece sensato. Com amigos destes, Pequim não precisa de inimigos.
Uma eventual guerra nuclear, que seria um desastre, teria sempre a Coreia do Norte como grande derrotada, mas as consequências para a região e quem sabe para o planeta seriam imprevisíveis. A via da diplomacia parece há muito esgotada, e mesmo os mais optimistas se devem sentir incomodados com a atitude do regime norte-coreano. Mas como se resolverá esta crise no paralelo 38, a linha que divide o norte estalinista do sul capitalista da peninsula coreana? A animosidade crescente entre os dois lados só nos dá uma garantia: a situação será resolvida a curto ou médio prazo, e a unificação, a bem ou a mal, será inevitável. Apresnetam-se três soluções: uma indesejável, uma improvável e outra ideal.
A indesejável é esta, que infelizmente não é improvável. Deixada entregue a si própria, a Coreia do Norte seria aniquilada pelos Estados Unidos em poucas horas, e dependendo da dimensão da resposta norte-americana a um eventual ataque, poderemos ter um buraco no planeta a norte do parelelo 38, e a perspectiva de longos invernos nucleares. Caso a China e eventualmente a Rússia intervenham em defesa da Coreia do Norte, este pode ser muito bem um pretexto para o início de uma Guerra Mundial, a terceira. Nesse caso já se sabe, não haverá uma quarta. Cabe às duas maiores potências militares depois dos Estados Unidos continuar a exercer um papel mediador, e tentar impedir que o jovem Kim Jong-un faça um disparate e carregue no botão.
A solução improvável passa pela continuidade do regime. Em circunstâncias normais, até não seria de todo descabido, uma vez que Kim Jong-un tem “cerca de 30 anos” de idade, e caso nada de anormal acontecesse poderia dar uma continuidade mais longínqua à dinastia dos Kim. O problema é que a situação interna não o permite, e o país está a rebentar pelas costuras. A ideia de auto-suficiência, ou “juche”, idealizada por Kim Il-sung, foi resultando enquanto contou com o apoio logistico da União Soviética. Com a queda da URSS em 1991 e a morte de Kim Il-sung em 1994, Kim Jong-il herdou um país orfão, e pior que isso, falido. Kim Jong-un, apesar da sua juventude, nunca poderá pensar em perpetuar-se no poder, como fizeram o seu pai e avô, pois arrisca-se a ser obliterado pelo sistema. Ou o regime toma uma atitude que dê aos norte-coreanos uma nova razão de ser, ou o povo encarrega-se de o derrubar, mais cedo ou mais tarde. E isto leva-nos à terceira “porta”.
O ideal, ou o desejável, é que o regime se fosse gradualmente deteriorando, acabando por ser derrubado num levantamento popular suave, levando a uma reunificação pacífica das duas Coreias. No fundo um pouco como aconteceu com as duas Alemanhas, sem consequências para os países vizinhos e para o mundo. O problema é que os tempos são outros, e nem os sul-coreanos vêem a integração do norte no seu sistema politico com muito bons olhos. No estado em que a Coreia do Norte se encontra actualmente, seria dispendioso para a Coreia do Sul reintegrá-la. Mesmo assim seria uma solução quase perfeita, e certamente que a integração pacífica seria bem vista pela comunidade internacional, e apoios a todos os níveis não faltariam, certamente.
A solução, seja qual for, é por enquanto uma incognita, e o mundo precisa de tudo menos de se preocupar com os delírios do jovem Kim e dos seus generais de pacotilha. Quem continua “entalado” no meio de tudo isto é o pobre povo da Coreia do Norte. Enquanto nos preocupamos com a situação geopolítica de barriga cheia, eles vão morrendo de fome, aguardando que o regime os mobilize, ou que dê lugar a quem consiga resolver a sua situaçãp miserável. Tudo indica que vai ser o “vai ou racha” na peninsula coreana. E mais cedo que muitos previam.
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