Numerologia aplicada às eleições (por Leocardo)

Hoje é 9 de Setembro de 2009. Ou seja, 09/09/09. A minha sinóloga de serviço explicou-me que que este dia é melhor para casar do que 08/08/08, pois o "9" representa "longevidade", que no caso dos casamentos é mais útil do que a "prosperidade", simbolizada pelo número 8. Daí que se realizaram centenas de casamentos em Macau e especialmente em Hong Kong, onde a população é de sete milhões e a malta mexe-se com muita rapidez. As conservatórias tiveram que acelarar os processos dado o número de pedidos. Isto prova que a superstição ainda é o que era.

E nas eleições? Ao contrário de outras democracias, aqui é mais difícil ao eleitor identificar as cores partidárias, e por isso as listas são numeradas, como nas eleições para as Associações de Estudantes nas escolas. E o feng-shui? Será que alguém se importa? Há quatro anos a Associação Activismo para a Democracia foi a lista 4 (um número aziago para os chineses, com uma pronúncia que faz lembrar a palavra "morte"), e a verdade é que morreram mesmo nas urnas. Duvido que Ng Kwok Cheong, cabeça-de-lista da lista 4 este ano se importe com isto. Ou o seu eleitorado, que certamente lhe dará a sua confiança. Gente inteligente é outra coisa.

Depois o número 8, o tal da prosperidade, foi entregue há quatro anos a Fong Chi Keong e à sua União para o Bem de Macau (UBM). Conseguiu ser eleito, um pouco de surpresa. Já o nº 8 este ano, Equipa de "Justiça Social", de In Kam Seng, precisa mais de um milagre. E não existe um número específico para "milagre". Também a lista de Casimiro Pinto, a nº 14, foi bafejada por um número que os chineses evitam nas matrículas dos automóveis. Em chinês 14 diz-se "sap sei", que se pode traduzir por "morrerás de certeza". Não é lá muito simpático.

Quanto à ordem, os resultados dão força ao velho ditado "os último serão sempre os primeiros". Nunca percebi muito bem o sentido deste adágio popular, bastante optimista por sinal. Mas quando há quatro anos Chan Meng Kam e os seus Cidadãos Unidos de Macau foram a última lista no boletim, a nº 16, iam vencendo as eleições; já a nº 1, a Por Macau, ficou entre os últimos. Este ano a lista 1, a União Macau-Guangdong, deverá ter uma sorte semelhante à Por Macau, mas quanto a Paul Pun, cabeça-de-lista da lista 16, não deverá ser tão afortunado como Chan Meng Kam há quatro anos. Já Angela Leong deve estar satisfeita por encabeçar a lista 10. A senhora semprese achou um "perfect ten".

E a numerologia ocidental? Diz-se que o sete e o nove são números de sorte. Este ano o 7, o meu número preferido, está nas mãos de...Chang Meng Kam, exactamente. O nove pertence desta feita à democracia radical, liderada este ano por Ng Sek Io (a propósito hoje a minha sinóloga traduziu o tempo de antenas do AAD, e é hilariante, só que fica para outra altura). Voltando ao meu gosto pessoal, não gosto dos nºs 6 e 11. O primeiro é de Agnes Lam (bah, coincidência) e o 11 é do praticamente desconhecido Lei Man Chao, da Aliança da Democracia de Sociedade. Já o nº 13, o do "azar", ficou entregue aos kai-fong. Vamos ver se o azar não bate à porta dos Moradores.

Mas garanto que nada disto vai influenciar o meu sentido de voto. Uma análise mais extensa deste tema deve ser entregue à Numerologia, essa ciência exacta que previu o 11 de Setembro e a ascensão de Hitler. Nós é que "não percebemos". A propósito, como é que alguém ainda diz conseguir prever o que quer que seja através de datas e números, que afinal foram inventados por nós mesmo?