Aproveitando a excelente
reportagem publicada hoje no Ponto Final, queria regressar ao tema do "Compensated Dating", ou encontros compensados, uma moda que começou no Japão nos anos 90 e que se espalhou por outras partes da Ásia, incluindo Hong Kong e Macau. Esta forma de prostituição (jovens do sexo feminino combinam encontros com homens mais velhos trocando a sua "companhia" por dinheiro) é um sinal dos tempos, um vício da sociedade de consumo e um sinal cada vez mais evidente da alienação completa em que a juventude vive hoje em dia.
Todos sabemos como a vida é difícil. Foi muito difícil para os nossos pais e avós, foi menos difícil para nós, e promete voltar a ser bastante complicada para os nossos filhos. Hoje em dia praticamente todoso os jovens da classe média e alta frequentam o ensino superior, é cada vez mais difícil encontrar emprego, e por falar em empregos, estes são cada vez mais escassos e menos atractivos. Acabou a mina de ouro, entrámos na auto-estrada da informatização e as cabeças e os braços são cada vez menos necessários. Os números do desemprego não são apenas números. São compostos por pessoas com necessidades, e que passam dia após dia cada vez mais carências.
Melhor mesmo que queimar as pestanas a estudar e competir no agressivo mercado de trabalho é ficar em casa sem fazer nenhum, e de preferência com a bolsa cheia de dinheiro. Os Chanel, Louis Vuitton e Manolo Blaniks deste mundo tornaram a juventude obcecada com a moda, com a beleza, com a ostentação. Não interessa que os pais façam o melhor para dar aos seus filhos tudo o que eles querem, pois como se sabe o melhor dos pais nunca é suficiente. É por tudo isto que cada vez mais os jovens se atiram em propostas loucas de luxo, de dinheiro, da alta-roda, caíndo muitas vezes nas mãos de predadores sexuais e toda a espécie de escumalha da sociedade.
O sexo, esse, vale cada vez mais, enquanto a dignidade vale cada vez menos. A honra, o casamento e a virgindade são conceitos cada vez mais ultrapassados numa sociedade em que a pornografia é um negócio "como outro qualquer". Cada vez mais homens procuram as curvas, a sensualidade, a inocência. Cada vez mais as meninas detentoras destes dotes sabem o que isso vale, e não se importam de lucrar sacrificando esses valores. Uma teoria polémica mas que acaba por fazer sentido: o que ganha uma menina bonita dormindo com o namorado? Nada. No mínimo está a perder inúmeras oportunidades de negócio.
Basta passar por qualquer banca de jornais ou 7-11 para que se perceba a verdadeira dimensão do problema. Se nos detivermos a observar a capa de algumas revistas publicadas em Hong Kong, vemos luxúria, semi-nudez, perversidade. Jovens modelos ou actrizes que fizeram carreira não tanto graças ao talento mas devido a outros expedientes considerados "normais" na profissão (todos conhecemos mais ou menos bem um ou mais casos) em posições provocantes, lingerie sexy, caras cheia de cosméticos e retoques cirúrgicos. Claro que os homens gostam, mas que pai gostaria de ver a sua filha na capa de uma destas revistas nestes trejeitos? As mulheres jovens que casam com homens muito mais velhos e ricos são consideradas um "bom exemplo" para a nossa juventude. As feministas, sufragistas e afins do passado devem andar a dar voltas na cova.
Todas as jovens com alguma altura ou algum bom aspecto sonham com carreiras em que não seja preciso pensar muito ou acordar cedo. Há cada vez mais a cultura da "miss", da "next top model", o culto do belo e do elegante. Já nem quero falar aqui dos problemas paralelos, da anorexia, da frustração de muitas jovens em não possuírem o corpo que desejavam. E alguns pais contribuem quase inconscientemente para isto, ensinando às crianças do sexo feminino que o ballet é a forma de arte mais acessível, ou vestindo-as como bonecas, e ensinando-as a competir em termos de beleza com as amigas da sua idade. A quem sirva, que vista a carapuça.
Para sociólogos, psicólogos e afins este problema é ao mesmo tempo um desafio e uma oportunidade (se fosse toda a gente funcional e feliz ficavam sem emprego, não é verdade?), mas a parte de leão do problema passa pelos pais. É cada vez mais importante nos dias de hoje que os pais ensinem aos filhos o certo do errado, que não tenham pudor de lhes mostrar exemplos de decadência, o que muitas vezes não fazem para "os proteger". Protegê-los seria educá-los para os problemas com que muitas vezes não conseguem lidar por pura ignorância. É claro que existem e existirão sempre jovens inteligentes, empreendedores e educados. O que me deixa triste é que hajam jovens cada vez mais jovens a vender o corpo por dinheiro. E cada vez mais gente disposta a comprá-lo.
5 comentários:
então aqui em portugal,ui é só putas,basta ver os jornais online anuncios de convivio.em macau os jornais tambem poem estes anuncios?
Em Macau não é preciso, vêmo-las ao vivo e podemos escolher. Outro luxo, portanto.
pois,mas aqui tambem ha putas ao vivo nas ruas mas estas devem ter sida e outras doenças e sao tao feias que até assustam o diabo
Putas de rua não têm qualidade, e também as há em Macau, como em qualquer parte do mundo. Mas esta parte da Ásia é especial, e Macau não foge à regra: basta ir a qualquer bar, que há sempre "namoradas" disponíveis. De várias nacionalidades, algumas de grande qualidade, sem preço fixo (não é sequer impossível ter um caso sem preço acordado), e livres (algumas só vão com o "pretendente" se este lhe agradar). O flirt faz, portanto, parte do jogo, o que torna tudo muito mais agradável. Como disse, outro luxo, portanto.
P.S.: Em Portugal também há muitas dessas "namoradas" de qualidade, mas só os muito ricos é que têm acesso. Aqui na Ásia, pelo contrário, a classe média também se safa. Isto sim, é democracia.
Adenda: No fundo, não se trata de putas profissionais. É aquilo a que o Leocardo aqui chama "encontros compensados", que ao contrário do que muitos pensam, é um método que já existe há muito tempo. Neste momento (pelo menos aqui pela Ásia) só é cliente de putas ranhosas quem quer.
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