quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Ano novo, vida velha


Foi hoje o primeiro dia de aulas na Escola Portuguesa de Macau e no Jardim de Infância D. José da Costa Nunes, um momento sempre alto para a comunidade portuguesa a residir em Macau. E como já é tradição, a noite passada as crianças cá em casa tiveram dificuldades em adormecer, tal era a excitação do primeiro dia, rever os amigos, contar as aventuras das férias. Na EPM o ano lectivo começou a meio-gás, com a apresentação a ser feita hoje, enquanto as reuniões e as inscrições nas actividades extra-curriculares acontecem apenas na próxima semana.

Já sei que não é novidade para ninguém, e o cenário repete-se todos os anos. Tanto a EPM como o Costa Nunes iniciam o ano lectivo rodeados de polémica e incertezas. No jardim de infância há novidades, com um novo currículo mais diversificado, e também um inesperado aumento de propinas. Ninguém conseguiu dar uma satisfação convincente aos pais, que este ano apostaram mais naquela instituição de ensino, que conta com 60 novos alunos - o maior número dos últimos 10 anos.

Na EPM o número de alunos voltou a cair, tendência que se tem vindo a acenturar desde a inauguração da escola em 1999. No 1º ciclo o 3º e 4º ano contam com duas turmas, enquanto o 1º e 2º ano estão concentrados apenas numa turma cada. A principal novidade este ano é a introdução de um "ano preparatório" para alunos que sairam do ensino veicular noutra língua que não o português. As actividades extra-curriculares incluem pela primeira vez o andebol, voleibol e a natação. O basquetebol ficou de fora. O início do ano fica também marcado pelas medidas especiais de prevenção à Gripe A e antes disso à saída de alguns professores, alguns dos quais com história feita e provas dada na EPM.

O que mais me continua a fazer confusão é a formalidade com que fala e discute o papel da EPM, e de como todos os assuntos relacionados com aquela instituição de ensino são tratados como "mais um problema" que urge resolver. Cada ano há novidades, a escola vai-se equipando cada vez melhor, e contudo os seus responsáveis ficam a fazer figas para que dê tudo certo. Alheios a tudo isto estão os alunos, que continuam a gozar do ensino em português como qualquer outra criança em Portugal ou noutra qualquer escola portuguesa no mundo.

É mais que altura de se deixar de usar a escola como instrumento político. É altura de direcção, sócios e associação de pais se entenderem de uma vez por todas, e afirmar o papel da EPM como o de outra qualquer instituição de ensino do território. Não se conhecem tantos problemas e tantas incertezas em relação a outras escolas, mesmo as internacionais de que pouco ou nada se sabe, e que em teoria teriam mais dificuldade em sobreviver num território que foi, afinal, administrado por Portugal até há menos de uma década.

Se o problema é a FO, que saia, e que se deixem os Serviços de Educação da RAEM contribuir para a escola, que dinheiro é coisa que não falta e já o têm feito - e bem - de uma forma ou outra. Se a escola serve para algumas pessoas assumirem protagonismo, para aparecer ao lado de ocasionais bem intencionados da República nas suas visitas relâmpago ao território, guardem as fatiotas para os cocktails, e apareçam antes de fato-macaco, com mais vontade de arregaçar as mangas e ajudar a escola. Se serve para alguns pais darem "embalagem" aos filhos para quando eventualmente regressarem a Portugal, tornando-os estrelas de televisão ou meninos-bem, esqueçam lá isso. Deixem-se de tretas, a escola é de todos. Vamos lá todos trabalhar com tranquilidade, como diz o outro, e deixem lá de fazer as primeiras páginas da imprensa, sempre pelos piores motivos.

5 comentários:

Anónimo disse...

Muito bem Leocardo. Tenho dito

Anónimo disse...

Há instalações, há professores, há dinheiro (se for preciso, os Serviços de Educação ajudarão certamente), há programa escolar, há curriculum e reconhecimento, O QUE NÃO HÁ SÃO ALUNOS!!!

Se não se conhecem tantos problemas e tantas incertezas em relação a outras escolas, como diz o Leocardo, é porque certamente alunos não faltam para garantir o seu futuro. Algumas terão certamente outros problemas como a droga, a violência, o insucesso escolar, etc etc (coisas que na EPM felizmente não se colocam)

O problema é que cada ano há menos alunos e por este andar daqui a uns anos teremos uma escola quase deserta.

Já agora, qual seria na sua opinião a forma de resolver (ou atenuar) este problema. É que vejo-o falar tanto na EPM e nos seus problemas, mas nunca ouvi nenhuma solução ou ideia da sua parte.

Anónimo disse...

Realmente também nunca percebi muito bem qual a solução do Leocardo para o decréscimo constante de alunos da EPM.

Não havendo perspectivas de a comunidade portuguesa crescer significativamente no futuro.

Se não é a favor (como já o disse antes) de tornar a EPM mais internacinal de forma adaptar o curriculum e modelo a outro tipo de alunos com outros horizontes.

E se quer que a escola tenha futuro em vez de estar a morrer aos poucos.

Afinal qual é a solução que propõe??

Estou apenas curioso.

Lucio disse...

Pois é, fazer omoletes sem ovos é um bocado dificil

Anónimo disse...

O modelo actual dificilmente tem futuro. É muito dificil para a escola ser auto-sustentável com uma quebra de alunos desta ordem todos os anos.

Se a escola tem perdido uma média de 30 alunos por ano (este ano foi um pouco menos), daqui a 5 anos teremos pouco mais de 300 alunos, e em 10 anos mais vale a escola fechar...