segunda-feira, 9 de setembro de 2013

O que eu li de Lee


The vision fades a voice I hear
Listen to the madman!

But still I fear and still I dare not
Laugh at the madman!


Queen, "The Prophet's Song"

Daqueles que são considerados os sectores da pan-democracia no território, de onde o Novo Macau Democrático é o maior representante, destaca-se um nome que tem sido cada vez mais falado nos últimos anos: Lee Kin Yun, o tal rapaz da Associação de Activismo para a Democracia (AAD), e a quem já chamaram o “long-hair” de Macau. Para quem não sabe este “long-hair” é Leong kwok-hung, o activista de Hong Kong eleito em 2004 para o LegCo pela Liga dos Social-Democratas. Se este “long-hair” foi eleito, as comparações com Lee Kin Yun pecam por exageradas, até porque em termos de cabelo, Lee fica também em dívida com Leung.

A AAD de Lee Kin Yun concorre pela terceira vez nas legislativas, e depois de uns insignificantes 654 votos em 2005, subiu para 1141 em 2009. Há quatro anos Lei optou por se apresentar como nº 2 da sua lista, atrás de Ng Sek Io, um dos seus “camaradas de armas”, que ficou célebre pela sua detenção aquando da viagem de um grupo de residentes de Macau às ilhas Diaoyu, reclamadas pela China e actualmente ocupadas pelo Japão. Ng Sek Io abandonou o seu parceiro de Homens da Luta em versão macaense, e juntou-se à lista 17, como vice daquele senhor com umas sobrancelhas bizarras.

Pouco se sabe deste Lee Kin Yun, a não ser que é natural de Macau e tem 35 anos. Começou com algumas acções de rua por volta de 2002, e desde então tem merecido a marcação cerrada por parte das autoridades, especialmente aquando da visita de individualidades da China continental. Portador do salvo-conduto para a RPC, é impedido de atravessar as Portas do Cerco “por razões de segurança” – é persona non grata no país do meio. Alguns residentes mais acomodados chamam o activista de “maluco”. Muitos acusam-no de “estar ao serviço de potências estrangeiras”, nomeadamente “os americanos”, e no sentido de “destabilizar o sistema”. Para quem se contenta com a discutível bonomia do regime chinês, a presença de alguém como Lee Kin Yun é incómoda, sem dúvida.

De facto as iniciativas levadas a cabo por Lee Kin Yun e seus amigos não se inserem na definição de “normalidade” vigente no território, mas atendendo à passividade da maioria da população, que aceita de ânimo leve tudo o que vem de cima, Lee será considerado por alguns um “herói”, uma gota rebelde no oceano da anuência e da cobardia. A sua atitude de confrontação com as autoridades, a sua desodediência inata, os cartazes escritos à mão exibindo mensagens muitas vezes insultuosas contra elementos do Executivo, o aspecto sujo, de cabelo desgrenhado e e pele oleosa, a insistência em contrariar as directivas emanadas pela Comissão Eleitoral, são tudo características do “activismo” levado a cabo pelo líder da AAD.

A relação de Lee Kin Yun com o resto do sector pró-democrata é tudo menos pacífica. Recentemente o líder da AAD acusou Jason Chao de ter formado a lista “Liberais do Novo Macau” como forma de protesto por não ter sido escolhido para cabeça-de-lista da segunda plataforma dos democratas. Jason Chao considera mesmo processar Lee, que nestas coisas da “democracia” apresenta-se como “orgulhosamente sós”. Uma vez abordei-o, por altura das eleições de 2005, durante uma das suas tiradas isoladas de megafone na mão, em frente ao Eskimo da Rua do Campo. Ficou surpreendido com o meu interesse, uma vez que como português, sou visto como “um dos inimigos”. Entregou-me um panfleto, falou num inglês fluente, e disse-me que lutava pela “democracia”, a única palavra que disse em português. Através deste contacto deu-me a sensação de ser um rapaz estranho, diferente, mas muito longe do “maluco” que alguns pintam.

Maluco ou apenas idealista, Lee Kin Yun começa a ser uma referência no sector da pan-democracia em Macau. Os dez anos que leva a fazer barulho, a ser detido pela polícia e mantido durante a noite na esquadra vai produzindo resultados, e garantido uma cada vez mais respeitável legião de seguidores. Se em 2005 as seis centenas e meio de votos valeram-lhe o 15º lugar entre 18 listas, em 2009 os mais de mil votos garantiram-lhe o 14º entre 16. A tendência é para subir, e se Lee é um burro, as suas vozes vão chegando cada vez mais ao céu do eleitorado.

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