sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Notas eleitorais


DOIS CAREQUINHAS

Uma das campanhas mais dinâmicas foi a da lista 13, a da Associação dos Cidadãos Unidos de Macau, do carismático Chan Meng Kam. Natural da província chinesa de Fujian, Chan concorreu pela primeira vez em 2005 e obteve um sensacional 2º lugar, à frente dos sectores tradicionais e apenas atrás do Novo Macau Democrático, tendo conseguido eleger dois deputados: o próprio Chan e ainda Ng Choi Kun. O duo regressou em 2009, voltou a garantir a eleição, mas perdeu votos, passando dos 20 mil obtidos quatro anos antes para apenas 17 mil. Chan Meng Kam é um empresário da área da hotelaria e do jogo, e director-geral do Grupo Golden Dragon, que tem como bastião o hotel-casino com o mesmo nome, localizado na zona do Porto Exterior, em frente ao terminal de jetfoil. Foi no eleitorado de origem fukinense, como ele próprio, que Chan se projectou na política, e quando poucos esperavam tamanho sucesso, eis que os seus conterrâneos demonstraram a união que lhes é característica e ocorreram em massa às urnas, dando o seu voto a quem defendesse os seus interesses. Dos mandatos destes dois deputados, os mais atentos lembram-se certamente de os ver a tocar às campaínhas em busca de pensões ilegais, ou mais recentemente da polémica entre Ung e a Associação dos Advogados de Macau, e da forma curiosa como o primeiro interpretou a Lei Básica. Este ano Chan aparece com Si Ka Lom como seu imediato, no lugar e Ung, que se retirou da política e apresentou-se apenas como mandatário da lista. Si Ka Lom é um jovem, e se há algo que nos apercebemos ao olhar para os candidatos da Associação dos Cidadãos Unidos é a sua juventude. A campanha tem sido muito mais abrangente, indo muito além da zona norte da cidade, onde se encontra o grosso do seu eleitorado, e apela mais à população em geral, tentando afastar-se da sua componente étnica e regional. Prevejo que Chan Meng Kam melhore a votação de há quatro anos, pois parece estar a receber um "feedback" positivo do eleitorado. Ter-lhe-á passado pela cabeça adoptar a estratégia do Novo Macau e desdobrar-se em duas listas, de forma a conseguir um terceiro deputado, mas prefere não arriscar. Se calhar dois deputados chegam para o que têm a dizer.


NOVO MACAU UNITED

Os candidatos das três listas da Associação do Novo Macau Democrático (ANMD) tirou ontem no Jardim Camões uma fotografia de grupo, reafirmando que não existe nenhuma cisão na associação, que concorre este ano com três listas separadas. Já na altura da apresentação das listas os membros do Novo Macau apareceram juntos, e esta "foto de família" é mais uma mensagem aos cépticos: está tudo bem e ninguém está zangado com ninguém. A nova estratégia do Novo Macau - inédita e bastante ousada - é feita na esperança de aumentar a sua representação na Assembleia Legislativa.Assim na lista 19 temos os actuais deputados Ng Kwok Cheong e Paul Chan Wai Chi, considerados a ala conservadora da ANMD, e que tem inclusivamente o apoio de alguns sectores católicos; na lista 5 temos Au Kam San, que é visto como um contestatário, da ala mais interventiva do grupo, e que como nº 2 apresenta o "benjamim" Sulu Sou, de apenas 23 anos, um recém-licenciado em Ciências Políticas; e finalmente na lista 2 a grande novidade, os Liberais do Novo Macau, encabeçados por Jason Chao, que se tornou uma celebridade nos últimos meses. Alguns rumores indicavam que Jason Chao se teria candidato com esta terceira plataforma à revelia da ANMD, por não se querer sujeitar a ser o nº 2 de Au Kam San, como aconteceu há quatro anos. O objectivo será eleger um quarto deputado, confiando num equilíbrio ideal na transferência de votos por parte do seu eleitorado. Ng Kwok Cheung já admitiu que é arriscado, e diz que "já seria muito bom" se mantiverem três deputados. Pode ser bluff do líder histórico da ANMD. A experiência dos democratas nestas andanças dá a entender que têm uma carta na manga. Domingo logo se vê.


DEIXEM ESTE SONHO VOAR

Por falar em transferência de votos, o candidato da lista 3, Activismo para a Democracia, tem a sua concepção muito pessoal sobre o assunto. Falando na qualidade de representante do sector pan-democrático, o nosso conhecido Lee Kin Yun propõe uma divisão justa dos votos pelos eleitores democratas. Assim um agregado familiar com quatro eleitores vota nele e nas três listas do Novo Macau; com três eleitores, nele e em duas das três listas da ANMD; com dois, nele e numa das listas da ANMD. Escusado será dizer que os eleitores democratas que vivam sozinhos ou não tenham mais família com capacidade eleitoral votarão nele, Lee Kin Yun. O moço sonha muito alto, sem dúvida. Lee não simpatiza com o Novo Macau, talvez por não serem radicais q.b. para o seu gosto, mas daí, Lee não simpatiza com ninguém. Não deve haver pessoa, animal ou planta à face do planeta com que Lee simpatize. Este activista nato é a personificação moderna e à escala de Macau do "rebelde sem causa" - com as devidas distâncias de James Dean, claro. Se lhe perguntam contra o que protesta, ele pergunta "o que tens para mim?". E depois lá vai ele, de megafone em punho, certificando-se que chama a atenção de toda a gente, dos cães vadios e dos passarinhos nas árvores para o seu "one man show". Não será eleito, com toda a certeza, nem o eleitorado pró-democrata vai atrás da sua cantiga, mas aposto que vai melhorar o resultado de 2009, quando obteve 1141 votos. Dá-lhe falâncio!


A TRADIÇÃO JÁ NÃO É O QUE ERA

A maior parte dos analistas considera que os deputados que agora se recandidatam serão todos ou quase todos reeleitos, ficando a única dúvida em quem vai ocupar os dois novos lugares abertos este ano para a via directa. De facto existe uma grande rigidez no mapa politico de Macau, que não dá aso a previsões no sentido de grandes mudanças. Há quatro anos a única diferença em relação a 2005 foi a conquista de mais um deputado pelo Novo Macau, em deterimento dos "kai-fong", que perderam o seu segundo elemento. Este ano prevê-se que o sector tradicional se mantenha na mesma, com dois deputados pela UDP, Kwan Tsui Hang e a novidade Lam Lon Wai, que substitui Lee Chong Cheng, e os "kai-fong" terão que se contentar com a reeleição de Ho Ion Sang. A nº 2 dos "kai-fong", a controversa Wong Kit Cheong, vice-presidente da Associação das Mulheres, não tem a experiência ou o carisma para motivar o eleitorado, e tem contra si um certo desinteresse do eleitorado pelos sectores ditos tradicionais, com maior prejuízo para os "kai-fong". Apesar de apelarem ao voto dos novas gerações e criarem estruturas para cativar os futuros eleitores, são cada menos os jovens que se tornam operários, que vivem em bairros antigos, ou que dependem da caridadezinha destas associações. Não é nenhuma tragédia que estes grupos se vão dissipando; é apenas um sinal dos tempos.


NA MESMA COMO A LESMA

Além dos sectores tradicionais, há outros candidatos que destas eleições podem esperar o mesmo. Nem mais, nem menos. Angela Leong, Pereira Coutinho, Mak Soi Kun e Melinda Chan deverão ser reeleitos a sós nas suas listas, uns com mais dificuldade que outros. Angela Leong conta com o apoio dos trabalhadores do sector do jogo, o que só por si é suficiente para garantir um assento, mas eleger o seu nº 2, um tal Wong Seng Hong, seria muito mais que uma surpresa. Seria muito suspeito, até. Pereira Coutinho, apesar da tremideira e de uma certa oscilação em matéria de cumprimento da sua agenda e até alguma incoerência, terá no seu fiel eleitorado o garante da reeleição, mas Leong Veng Chai, apesar de ser uma boa escolha, ficará com Wong Kit Cheong e Wong Seng Hong a espreitar pela janela do hemiciclo. Mak Soi Kun, o tal senhor que adaptou o "Hino da Liberdade" à sua campanha, dar-se-á por satisfeito por cumprir mais um mandato, mesmo sendo discutível o seu "estofo" para o cargo. Deste grupo, Melinda Chan será a que menos bem tem dormido à noite. Longe vão os tempos gloriosos da CODEM, que em 2001 elegeu David Chow, marido da candidata, e Jorge Fão, tendo sido a quarta força mais votada. Há quatro anos Melinda Chan foi a última a ser eleita, e este ano não se espera que obtenha um resultado significativamente melhor. A haver uma surpresa, será a sua não-eleição.


A LIGA DOS ÚLTIMOS

Falemos agora das listas aspirantes a um dos dois novos lugares em aberto. Mantendo-se a mesma composição no que toca aos 12 mandatos actuais, existirão duas caras novas na AL, e mesmo que o Novo Macau concretize os seus intentos, existirá pelo menos um. Aqui quem se apresenta como super-favorita é Agnes Lam, que em 2009 ficou a 2500 votos da eleição. Este ano a professora de Comunicação da UMAC com uma visão muito sóbria da sociedade, recorrendo-se de estudos e estatísticas, ao mesmo tempo que dá ênfase ao trabalho de campo que tem realizando, conta com a experiência adquirida com a primeira candidatura, e colhe a simpatia de boa parte da comunidade portuguesa e não só. Tenho colegas que foram seus alunos e garantem que vão votar nela, e este é sem dúvida um "agora ou nunca" para o Observatório Cívico. Há quatro anos Agnes e o Observatório ficaram 60 votos atrás da União Para o Progresso e Desenvolvimento, na altura liderada por Lai Chon Wai, irmão de um conhecido empresário da diversão nocturna, e que tinha como nº 2 Kuan Vai Lam, que concorre este ano como cabeça-de-lista, mas não se prevê que repita a gracinha. As únicas "ameaças" para Agnes Lam partem das listas 4 e 18, lideradas respectivamente por Hong Weng Kuan e Kou Ngon Fong, que apelam também ao eleitorado mais jovem. Que desempenho terão estas novas propostas nestas eleições é uma incógnita, mas em teoria não irão muito longe.


OS MENINOS BONS VÃO PARA O CÉU, OS MAUS PARA TODA A PARTE

Finalmente gostava de dizer uma palavra sobre um candidato que dificilmente será eleito, mas que tanto eu como certamente muitos leitores gostariam de ver no hemiciclo. Trata-se de Paul Pun, presidente da Caritas, uma figura que certamente daria um excelente contributo para a discussão de alguns temas de índole social. Paul Pun, que foi quem menos dinheiro gastou na campanha, é conhecido pelo seu trabalho junto dos mais desfavorecidos, nomeadamente os cidadãos com menos direitos, como os não-residentes, por exemplo - que não votam. O maior problema de Paul Pun é ser muito "bonzinho", o que em política, e especialmente em Macau, é quase como suicídio na hora de ir buscar os preciosos votos. Pode ser que seja ele a grande surpresa de Domingo à noite. Não vou votar nele, mas fico a fazer figas para que consiga entrar.

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