Os japoneses estão furiosos com um "cartoon" publicado por um jornal francês, que faz alusão à recente atribuição da organização das Olimpíadas de 2020 a Tóquio e à catástrofe nuclear de Fukushima, em Março de 2011. O "cartoon" em questão, que me custa a designar por "humorístico", não por ser ofensivo, mas não ter piada nenhuma, foi publicado no semanário Le Canard Enchaine na última quarta-feira.
Nele vemos dois lutadores de sumo anormalmente magros a competir em frente à infame central nuclear, perante o olhar de dois espectadores vestidos com um fato anti-radiação. Um dos lutadores, que aparenta estar a usar uma fralda com as cores do Reino Unido, tem um braço a mais e um olho a cair-lhe da cara, apenas preso por um fio. O outro, de origem indeterminada, tem uma terceira perna - e não, não é essa que estão a pensar. Enquanto isso um apresentador, também equipado com um fato anti-radiação, anuncia que "graças a Fukushima, o sumo é um desporto olímpico". Assim, e mais nada. Ah, ah, ah...
Já riram tudo? Bem, quem não achou mesmo nada engraçado foi o ministério dos negócios estrangeiros nipónico, que considera o desenho "uma ofensa à vítimas do acidente", além de "não representar as condições da central de Da-ichi, em Fukushima". A diplomacia japonesa criticou ainda o "timing" da brincadeira, que aparece numa altura em descargas de água contaminada originárias da central têm sido feitas no oceano Pacífico, causando apreensão entre a comunidade internacional. O editor-chefe do jornal, Louis Marie Horeau, recebeu uma carta de protesto através da embaixada nipónica em Paris, mas ainda não reagiu.
Na mesma edição deste semanário aparece outro "cartoon", onde aparecem dois personagens vestidos com fatos anti-radiação a medir a radiação da água de uma piscina com o auxílio de um dosímetro, e onde se lê numa legenda: "Fukushima já tem uma piscina olímpica". Realmente têm um sentido de humor do caraças, estes franceses, que riem da desgraça alheia. Sabem o que tem mesmo imensa piada? O exército nazi a marchar sobre o Arco do Triunfo, e mulheres francesas violadas e obrigadas a prostituirem-se por soldados alemães. Ah!
Contudo é curioso observar o desportivismo do governo japonês e dos próprios japoneses, que optaram pelos canais diplomáticos para resolver a questão. Conheço um certo país por estas bandas que já tinha banido tudo o que fosse produtos da França, e negado vistos de entrada a turistas com passaporte francês. A Susana Chao ia ficar tão roxa de raiva que até o seu blogue começava a fumegar. É tudo uma questão de saber atribuir as culpas. Faz parte dessa coisa tão simples mas que às vezes querem complicar, e que se chama "civismo".
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