sábado, 7 de setembro de 2013

No escurinho do cinema, parte X: os filmes da minha vida


Chega ao fim esta rubrica dedicada ao cinema, e de um ponto de vista menos objectivo e mais de acordo com o meu gosto pessoal, é hora de falar dos filmes que mais me enchem as medidas, dos que vi, dos que não vi, e dos que me faltam ver. Não me considero um cinéfilo por excelência, e sou até um pouco "teimoso" na hora de embarcar em algumas modas. Por exemplo, não vi nenhum dos filmes da série "Senhor dos Anéis", "Harry Potter" ou "X-Men", falando dos maiores "blockbusters" dos últimos anos, e nunca vi - e isto juro que é verdade - nenhum dos "Star Wars", nem dos antigos, nem dos mais recentes. Não me orgulho nem me envergonho deste facto, mas simplesmente nunca estive para aí virado. Não me encantam estes filmes que deixaram milhões um pouco por todo o mundo a sonhar.

Outros filmes que nunca vi são capazes de deixar alguns a torcer o nariz, e a questionar a minha paixão pela sétima arte. Nunca vi "E tudo o vento levou", "Casablanca", "Metropolis", "Dr. Zhivago" ou "Lawrence of Arabia", e para muito boa gente isto quer dizer que não percebo nada de cinema, mas para mim significa que nunca calhou, nunca tive a oportunidade, não estava para aí virado. Foi apenas aos 35 anos que vi "Citizen Kane", e mesmo o filme "Trainspotting", elogiado pela generalidade da crítica e do público, vi apenas mais de 10 anos depois de ter chegado às salas de cinema. Como já disse, não embarco em modas, e no caso dos filmes que são inquestionáveis clássicos, como "Casablanca", vou vê-los um dia. Quando calhar. Tenho menos de 40 anos e não estou a sofrer de nenhuma doença incurável. Há tempo que chegue e sobre.

E dos filmes que vi e gosto mais? Qual é a minha lista? É complicado elaborar um top-10, mas aqui vai uma pequena tentativa:

1) "Goodfellas", de Martin Scorsese. A história inspirada nas actividades da mafia italo-americana, da família Lucchese, conta com a realização de Scorsese e com as interpretações de Robert de Niro, Ray Liotta e Joe Pesci, que venceu um óscar para melhor actor secundário no papel de Tommy DeVito, um personagem inspirado por Tommy DeSimone, um dos elementos do grupo que em 1978 levou a cabo o assalto ao avião da Lufthansa, que valeu 6 milhões de dólares.

2) "Dr. Strangelove", de Stanley Kubrick. Um filme de 1964, realizado em plena Guerra Fria e pouco depois da crise dos mísseis de Cuba e o assassinato de JFK. A paranóia do confronto nuclear realizada a preto-e-branco contou com a brilhante interpretação de Peter Sellers, que desempenha três papéis. Dr. Strangelove recebeu quatro nomeações para os Oscares: melhor filme e realizador (para Kubrick), melhor actor (Sellers, claro), e melhor argumento adaptado, com Kubrick a beber da inspiração e Peter George e o seu "Red Alert", um livro sobre o pânico nuclear. Nesse ano "Dr. Strangelove" competiu com "My Fair Lady". Azar.

3) "Slumdog Millionaire", de Danny Boyle. A adaptação de um conto de Vikas Swarup colheu a simpatia do público e arrebatou os Oscares em 2009. Uma fábula da India moderna, que segue o percurso de um jovem oriundo de uma família pobre que subitamente se torna numa celebridade graças à sua prestação no concurso "Quem quer ser milionário". O primeiro filme que me comoveu desde "E.T. - O extraterrestre", e é preciso ter em conta que eu tinha na altura sete anos.

4) "Salteadores da Arca Perdida", de Steven Spielberg. Para mim este é o grande filme de aventura: o mais bem escrito, pensado, realizado e interpretado. A primeira saga da série Indiana Jones, com Harrison Ford no papel principal. O facto de existir mesmo uma arca da Aliança torna a trama do filme ainda mais credível. Ah, sim, e também existiram nazis.

5) "Taxi Driver", de Martin Scorsese. Um dos maiores clássicos do cinema, com Robert de Niro no papel de Travis Bickle, um taxista que resolve fazer justiça pelas próprias mãos, cansado da sujidade que testemunha durante as suas rondas pelas ruas de Nova Iorque. De Niro perdeu o Oscar "apenas" porque a estatueta foi entregue a título póstumo a Peter Finch, pelo seu desempenho em "Network".

6) "Annie Hall", de Woody Allen. Provavelmente a melhor comédia romântica de todos os tempos, com Woody Allen a desempenhar o papel de Alvin Singer, um argumentista e comediante que faz uma busca interior pela razão porque falham os seus relacionamentos amorosos. Allen recorre a vários expedientes geniais, suportados por um argumento sólido, que lhe valeram o Oscar para melhor filme, melhor realizador (o seu único até hoje) e melhor argumento original (o primeiro de três), e o Oscar de melhor actriz a Diane Keaton.

7) "Pulp Fiction", de Quentin Tarantino. À segunda tentativa como realizador, Tarantino convence a crítica com um filme que é uma manta de retalhos, contado em intervalos de tempo, entre as desevnturas de cada um dos seus personagens. Infelizmente para Tarantino o ano foi de "Forrest Gump", e "Pulp Fiction" precisou de contentar-se com o Oscar para melhor argumento original.

8) "Habla con ella", de Pedro Almodovar. Pode ser entendido como um dos filmes mais sombrios do realizador espanhol, mas é com toda a certeza o mais genial. Pegando numa história improvável, Almodovar concretiza a sua visão com uma mestria apenas ao alcance de poucos. Um filme que requer preparação prévia para que se aprecie na sua plenitude.

9) "The Shining", de Stanley Kubrick. O segundo e Kubrick na lista, e um dos mais controversos filmes de sempre. Jack Nicholson brilha no papel de Jack Torrance, um escritor que se isola com a família num hotel fechado para o Inverno, e entra numa espiral de loucura e tendências homicidas. Provavelmente o melhor filme inspirado num livro de Stephen King.

10) "Frida", de Julie Taymor. Não podia deixar de incluir este biópico na minha lista, de tão encantador que é. Frida Kahlo foi uma pintora mexicana que poucos conhecerão, mas a sua vida ganha um novo alento com a interpretação de Selma Hayek. Uma das boas surpresas que tive nas minhas experiências com o cinema.

Espero que tenham gostado desta rubrica dedicada ao cinema que humildemente apresentei durante os últimos oito dias. Obrigado pela vossa paciência, e citando o imortal Lauro Dérmio: "always watch good moves".

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