quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Ele anda entre nós


1) Falo do Diabo, naturalmente. Pelo menos é isso que diz Pereira Coutinho, presidente da ATFPM e candidato pela Nova Esperança às eleições do próximo Domingo não gostou de ver noticiada a alegada difamação que sofreu num forum da CTM em dois jornais do território - um em língua chinesa, e outro em língua portuguesa. Este último é o Hoje Macau, a quem Pereira Coutinho acusa de fazer "jornalismo do Diabo". (Pensando bem isso não deve ser assim tão mau, uma vez Deus só lê O Clarim). O Hoje defendeu-se num editorial do seu editor Gonçalo Lobo Pinheiro, garante que se limitou a dar a notícia, e apresentou mesmo um fax mandado da ATFPM onde o candidato convoca a imprensa para anunciar uma certa "tentativa de difamação" - um dia antes da notícia ser publicada no jornal. Pessoalmente estou-me nas tintas com o que Coutinho faz ou deixa de fazer fora do tempo que dedica à ATFPM e à política, e nem isso me interessa muito, sequer. O que não consigo entender é a razão da sua indignação. Queria que a imprensa fizesse o quê? Declarasse a sua inocência, como cidadão acima de qualquer suspeita que é?

2) O presidente da Comissão Eleitoral, Ip Son Sang, apresentou a nova cabine de voto a utilizar nas eleições deste ano. A cabine é semi-transparente, garante a privacidade do eleitor e o secretismo do seu voto, mas ao mesmo tempo permite perceber se recorre a algum aparelho, nomeadamente um telemóvel, e se fotografa o boletim de voto – uma espécie de sistema de “sombras chinesas”. Ip Son Sang confia na consciência cívica dos eleitores de Macau – é mais optimista que eu – mas mesmo assim admite que “existirão casos de captação de imagem dentro da urna”. Devia antes garantir que exisitiriam zero, pois só assim garantiria as eleições claros que a CE tanto apregoa. O que falta ouvir da boca do presidente da CE é a forma como vão começar a ser feitas as primeiras projecções na noite de Domingo. Poucos se terão esquecido da “barraca” de há quatro anos, onde a mesma Comissão, na altura presidida pelo actual comissário do CCAC, Vasco Fong, atrasou a divulgação dos resultados, “roubando” o sono a muita gente que aguardava pela TV a constituição da nova Assembleia Legislativa. Mais tarde Fong justificou-se com a “recontagem dos votos nulos”, o que deixou muito boa gente a questionar a competência da CE. Era bom que Ip Son Sang garantisse que nada disto acontecerá na noite do dia 15, e que vamos ter estas eleições a ser tratadas pelo menos da mesma forma de outras jurisdições civilizadas, onde o sufrágio directo e universal é tratado como uma coisa série. Pelo menos neste aspecto era bom que Macau se assemelhasse a uma democracia “a sério. Se não for pedir muito…

3) A três dias do sufrágio propriamente dito, intensifica-se a campanha, com os candidatos a tentar convencer os indecisos e se possível captar votos de outros segmentos menos seguros da sua orientação de voto. Tem sido comum observar nos últimos dias os cabeças-de-lista a distribuir material de campanha um pouco por toda a cidade, lado a lado com os voluntários que desde a primeira hora têm oferecido aos transeuntes que por eles passam propaganda política, pacotes de lenços, porta-chaves e outras “simpatias”, sempre com as cores da lista em questão bem vincadas. Era interessante saber um pouco mais sobre estas “formiguinhas” ao serviço de cada lista. Quem são? Quanto ganham por dia pelo serviço? São mesmo apoiantes da lista para a qual trabalham ou consideram aquilo apenas “mais um biscate”? Tenho observado como algumas listas usam estudantes e gente nova, ainda abaixo da idade permitida de votar. O que pensam eles de tudo isto? Foi a grande reportagem que ficou por fazer.

4) Ao contrário das listas com fortes possibilidades de eleger um deputado, pouco se sabe das listas mais “pequenas”, aquelas que dispondo de menos meios para captar o eleitorado, apontam aos sectores mais desfavorecidos da sociedade, ou procuram votos entre as classes mais baixas e o operariado. Ao contrário de Paul Pun, presidente da Caritas, e Lee Kin Yun, o activista profissional, os restantes candidatos das listas pequenas são virtuais desconhecidos para a comunidade lusófona e estrangeira em geral – talvez porque não se aproximem delas, antes pelo contrário. Assim não me surpreende que numa das apresentações que o canal 1 da TDM fez destes candidatos se tenha confundido o nº 1 da lista 15, Leong Seak, com o nº 2 da lista 17, Ng Seak Io. É um facto que ambos se chamam “Seak” (“pedra” em chinês), mas foi Ng Sek Io que encabeçou a lista do Activismo para a Democracia em 2009, ao lado de Lee Kin Yun. Ng foi notícia há um ano quando fez parte de um grupo de residentes de Macau que viajou até às ilhas Diaoyu, reclamando a soberania chinesa sobre aquela território, acabando por ser detido pelas autoridades japonesas e posteriormente libertado, regressando à RAEM como um “herói”. De Leong Seak sei tanto como toda a gente: nada.

5) Ainda falando das pequenas listas, muitas recorrem a um expediente de validade discutível para convencer um segmento do eleitorado mais populista, e atrevo-me mesmo a dizer, mais ingénuo. Assim garantem que tudo vão fazer para reduzir ou mesmo para terminar de todo com a contratação de mão-de-obra não-residente. Algumas listas vão mais longe e especificam mesmo a nacionalidade desta mão-de-obra estrangeira que os incomoda especialmente, como é o caso da lista 16 de Lee Sio Kuan, que quer ver os filipinos pelas costas. Isto é demagogia pura e dura, em que nem os próprios candidatos que a proferem acreditam. O sector do jogo, turismo e restauração emprega actualmente milhares de trabalhadores não-residentes que auferem entre 4 e 5 milhares de patacas mensais, trabalham entre 9 e 12 horas seis dias por semana e muitas vezes por turnos. Como esperam que os residentes se sintam seduzidos por este tipo de condições que este patronato oferece? E quando chegar a hora de fazer o trabalho, e sem esta mão-de-obra barata, quem vai lá fazer o trabalho? Os operários que têm o direito à greve nas suas pretensões? Assim mais vale a pena fechar a porta.

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