Coutinho preocupa-se com os funcionários, os pensionistas, os jovens e as alfaces.
Infelizmente o meu tempo tem estado demasiado ocupado por motivos profissionais, e a hora a que tenho chegado a casa mal me dá para jantar, quanto mais para as actividades que me dão mais prazer: actualizar o blogue, e acompanhar a hilariante campanha eleitoral e os tempos de antena reservados às 20 listas candidatas ao sufrágio do dia 15, que passa pelas 21 horas no canal 1 da TDM. No entanto hoje fiz o possível para não perder esta excelente série cómica, que apenas peca por ser tão curta e de quatro em quatro anos. E não me arrependi da “limpeza” de agenda, foi hilariante! E o que tivemos hoje na ementa?
O primeiro espaço foi da responsabilidade da lista 8, a União Macau-Guagdong, encabeçada por Mak Soi Kun, que vai tentar manter o assent conquistador há quatro anos. Foi de longe o melhor da noite, e talvez o melhor a que assisti até ao momento. Apesar de ser feito completamente em língua chinesa e sem legendas, achei enternecedor o apelo ao voto em português que se lia no canto inferior esquerdo do ecrã: “Por favor, vote para 8 lista”. Digno de fazer parte de qualquer daquelas hilariantes compilações de “pretoguês” que se encontram na net. Mak Soi Kun aparece sempre com um aspecto informal. Demasiado informal, francamente, e perante os restantes elementos da lista parece o servente, apanhado no meio do filme vindo de ir buscar o farnel para os outros janotas. Nem falo da higiene oral descuidada e do par de óculos que já passou de moda duas vezes, mas nota-se que Mak Soi Kun está nitidamente mais magro, mais velho que o energético bonacheirão que há quatro anos foi pela primeira vez eleito para o hemiciclo. Afinal ser deputado deve da tanto trabalho que não há tempo para comer ou lavar os dentes.
O tempo de antena foi brilhante. Numa cena vemos uma idosa a transportar com dificuldade um carrinho cheio de cartão, e qual super-homem, eis que surge do nada um elemento da lista, dispondo-se a ajudá-la na tarefa.De seguida vemos outra idosa, sozinha em casa, sentada na sala a chorar. Na parede nota-se uma enorme racha de alto a baixo, e por segundos pensei que o pranto da senhora se devia a não ter dinheiro para um estocador, dada a sua parca reforma. Mais é aí que chan-chan! aparece um dos homens de Mak que lhe instala um aparelho auditivo, e a idosa começa então a sorrir. Estava triste porque não podia escutar o tempo de antena da União Macau-Guangdong. Sim, deve ser isso. Dá para ver ainda outro candidato a ajudar outra idosa (o eleitorado alvo deve ser do sexo feminino e acima dos 70 anos), que se move com a ajuda de canadianas, a atravessar a estrada. A União Macau-Guangdong é como os escoteiros, mas tem a cidade inteira sob supervisão, talvez de algum qualquer quartel-general equipado com um sofisticado sistema de câmaras, que lhes permite ver onde há uma velhota em apuros.
A lista 15, da Frente do Movimento Operário (FMO), não embarca em super-produções para convencer o seu eleitorado. Numa simplicidade verdadeiramente encantadora, o seu cabeça-de-lista Leong Sek aparece num estádio, sem mais nada à sua volta, e lê-nos o programa da sua plataforma, quase imóvel, com um ar gélido. Só isto. E para mais sem legendas, o que me deixa sem saber se têm algo no programa que seja do meu agrado, e que me permita considerar votar neles durante o Sábado antes do acto eleitoral, dia reservado à reflexão. E não pensem que estou a brincar, pois levo isto mesmo a sério e quero reflectir, em vez de dar o meu precioso voto a uma lista que me iluda com falinhas mansas. Só que deste jeito a FMO não ajuda, e em vez de ir aprender a ler e falar fluentemente cantonês, prefiro ignorá-los, assim como eles me ignoram, potencial eleitor.
Finalmente surge o “nosso” José Pereira Coutinho (pelo menos o “vosso”, o de alguns), e a sua Nova Esperança, a lista 9. Completamente em língua portuguesa – tem pelo menos esse mérito – o tempo de antena da NE apresenta uma lista de “podres” da acção do Executivo, nunca esquecendo a actuação de Florinda Chan. Que outra lista ia trazer o caso das campas para esta campanha? De seguida vemos um empresário macaense a elogiar Pereira Coutinho, e a sempre fotogénica Jerusa Antunes a referir as qualidades do deputado, realçando o seu interesse pelos jovens e pelos estudantes, os seus “problemas” e tudo mais. Jerusa é a relações públicas da NE, dá um toque “sexy” à verve contestatária de Coutinho, é a “femme fatale” que nos recorda que a lista 9 não é apenas trabalho, e de vez em quando há tempo para um conhaque. Um tempo de antena feito à medida para o eleitorado de Pereira Coutinho, que certamente entendeu a mensagem – e porque não haveria de entender? Afinal é sempre a mesma.
Tive pena que a lista 5, a Associação do Novo Macau Democrático (ANMD) tenha prescindido do espaço que lhes foi reservado no canal em língua portuguesa da TDM. Um dos vertices do tridente com que a ANMD se apresenta a estas eleições, este tem como cabeça-de-lista o irreverente Au Kam San, que conhecendo como o conheço, não tomou esta opção por desprezo à nossa comunidade ou aos eleitores lusófonos, nem por “xenofobia”, como alguns detractores profissionais do Novo Macau certamente estarão agora a pensar. É apenas pragmatismo, e já se sabe que nesta coisa de eleições a ANMD não tem tempo a perder, nem recursos a esbanjar. Mesmo assim já ficava contente se mostrassem o mesmo tempo de antena que apresentam no canal chinês. Sempre era melhor que nada.
2 comentários:
Caro Leocardo
Como acontece quase sempre, a sua confrangedora admiração pelos rapazes da Novo Macau abafa o seu discernimento. Salta-lhe a tampa sempre que ouve ou lê críticas aos dito cujos, mas recusa-se a ver o que é óbvio para a maioria da comunidade portuguesa...e da macaense. Sim, porque, ao contrário, do que por vezes tenta fazer transparecer, o Leocardo não representa minimamente as ideias defendidas por essas pessoas.
Quem ler este post, percebe perfeitamente que, perante a mesma situação, tanto aperta a mão a Au Kam San como o pescoço a Leong Sek. Então, um candidato sem recursos que apenas dispõe de meios para fazer propaganda em chinês está a desprezar a comunidade portuguesa, enquanto que outro que não teria tantas dificuldades para fazer passar a sua mensagem na língua de Camões não o faz....apenas por pragamatismo? Não é por desprezo nem xenofobia? Tem mesmo a certeza, ou por acaso é director de campanha dessa lista e, por isso, conheça toda a estratégia a fundo?
Então, deixe-me lembrá-lo há muita gente, na comunidade macaense, como eu próprio, funcionários públicos, etc, etc, que além de português também falam cantonense e por isso poderiam perceber perfeitamente o que o seu amigo Au teria para dizer.
O problema é que, se calhar, não tem nada para nos dizer. Recordo duas ou três situações, para lhe avivar a memória:
Em Dezembro de 2011, Au Kam San disse na AL que “a ideia de proteger os indivíduos de etnia portuguesa já perdeu relevância”.
Em Dezembro de 2007, Au obrigou Leonel Alves e Pereira Coutinho a levantarem a voz em protesto na AL, depois de ter dito qualquer coisa como isto: “Os recursos públicos roubados nos últimos anos em Macau atingiram valores superiores aos roubados pelos portugueses durante 400 anos”. Depois de levar nas orelhas, e de lhe serem exigidas provas, disse apenas “assumo a responsabilidade política” pelo que disse...como se os deputados fossem responsabilizados nesta terra!
Razão tem Coutinho, que os conhece de perto, como sabe, mas não tem problemas em dizer (ouvir entrevista à Rádio em Abril de 2012) que Ng Kuok Cheong, Au Kam San e Chan Wai Chi “muitas vezes discriminam etnicamente”. “O que é que diziam antes, durante a Administração portuguesa, e o que é que dizem agora? Procuram falar menos. Ou então, quando falam, é para captar a comunidade portuguesa para os votos. Nós temos de ter a memória fresca”, disse Coutinho, COM TODA A RAZÃO.
Um conselho “democrático” caro Leocardo: Aprenda a respeitar quem não partilha as suas ideias, evite insultos pessoais, e não tente atirar areia para os olhos das pessoas. Esse disco de apoio ao Novo Macau já está riscado, aprenda com Jason Chao e mude de disco.
Mais uma vez lamento que se façam segundas, terceiras e vigésimas leituras de um post, e me acusem de afirmar algo que simplesmente não está lá escrito.
Não digo em parte nenhuma deste texto que o candidato Leong Sek descrimina a comunidade portuguesa, e é apenas com a mesma dose de ironia com que conduzo o resto do post que digo "em vez de ir aprender a ler e falar fluentemente cantonês, prefiro ignorá-los, assim como eles me ignoram, potencial eleitor". Se por acaso também acreditou quando eu disse que a lista 8 de Mak Sio Kun "tem a cidade inteira sob supervisão, talvez de algum qualquer quartel-general equipado com um sofisticado sistema de câmaras, que lhes permite ver onde há uma velhota em apuros", deixe-me dizer-lhe que estava apenas a brincar. Não vá pensar que a União Macau-Guangdong opera de alguma estação do estilo dos X-Men ou algo que se pareça.
Repare como ainda "tenho pena" que Au Kam San não se tenha dignado a usar o espaço que lhe foi reservado no canal português, e como dou a entender que não dizer nada ou falar em cantonês "é a mesma coisa", pelo menos para mim, mas no último caso sempre é melhor que nada.
Já que refere o episódio de 2007, que registei na altura neste blogue, repare num detalhe curioso: Au diz que "o actual governo conseguiu roubar mais em 8 anos do que os portugueses em 400". No entanto foram os "portugueses", aqui representados por Pereira Coutinho e Leonel Alves, que perderam as estribeiras, enquanto os restantes deputados, a que Au chamou 50 vezes mais ladrões que os portugueses, ficaram caladinhos e até acharam piada. Pense no assunto.
Recordo-o ainda dos abraços e beijinhos entre Pereira Coutinho e os deputados do NMD em 2005, aquando da eleição do primeiro. Na altura dizia-se que eram "as duas forças democráticas na AL". Só que a malta do NMD não quis nada com Coutinho, e este fez birra, e agora diz cobras e lagartos deles. Cada macaco no seu galho, portanto.
Fico feliz por servir de contraponto à restante comunidade portuguesa, que tem a tendência de "malhar" no Novo Macau, pois as ideas que defendem vão contra um estado de coisas que não deixando muito boa gente satisfeita, serve na perfeição aos portugueses. É como uma bananeira a que estão encostados e se sentem confortáveis. Não sei porque pensa, você e os restantes detractores da força repetidamente mais votada por quem é livre de votar em quem quiser e não obrigado a votar na sua entidade patronal como receio de represálias, que outra árvore senão a tal bananeira não daria também uma sombra e fruta fresca. Rejeitamos a ideia porque de facto estamos mesmo muito acomodados.
Se acha que nutro uma "confrangedora admiração pelos rapazes da Novo Macau", espere só até ler o post principal deste Domingo, intitulado "A estratégia do Novo Macau". Aí vai ser a sua tampa que vai saltar :)
Cumprimentos.
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