domingo, 15 de setembro de 2013

Crónica de um voto (numa das listas do topo do boletim)


E já está. Cumprindo escrupulosamente o plano de reflexão que vos apresentei aqui na sexta-feira, hoje acordei cedinho e fui cumprir o meu dever cívico. Foram uns bons vinte minutos a pé de onde vivo até ao Instituto Salesiano, onde estou inscrito. Pelo caminho fiz uma espécie de reflexão suplementar: qual o candidato que promote acabar com este calor do c^&*$o? Pior foi quando lá cheguei, por volta das 9:45 da manhã.

Atravessei os portões do Instituto Salesiano, essa instituição de ensino do demo onde só estudam rapazes, pela terceira vez na minha vida, e fui dirigido à fila que dava até às mesas de voto - uma fila enorme, e podiam ter tido a gentileza de providenciar um local onde se pudesse fazer fila DENTRO do IS, e não cá fora, debaixo de um sol escaldante. Junto do labirinto circular onde aguardava pela minha vez, estavam colocadas duas tímidas ventoinhas, de que pouco adiantavam. Entrei na sala de voto em pouco mais de cinco minutos, mas demorasse outros cinco, ficava com a mioleira frita.

E quem ia votar àquelas horas da manhã? Velhos! E velhas! Isso mesmo, os tais que o peso da idade os impede de dormir, com medo de nunca mais acordar. Pareciam decididos a ir votar o mais rapidamente possível, e mantinham-se na fila numa postura muito defensiva: guarda-chuva aberto, cotovelos à ilharga, olhando sempre para a rectaguarda, não fosse alguém passar-lhes à frente. Deviam estar com pressa para ir receber o "lai-si" de 500 patacas da lista em que prometeram votar.

Uma vez lá dentro, os rapazes e raparigas da mesa de voto foram expeditos em conferir a minha capacidade eleitoral, e depois de pegar no boletim de voto, dirigi-me a uma da cabines, e repito, havia imensa gente a votar. Durante os dez ou quinze minutos que ali demorei, deverão ter votado bem mais de cem eleitores. Em relação ao tal boletim de voto, chamar àquilo de "boletim" é ser simpático. Mais parecia um daqueles editais à antiga onde se liam as comunicações do rei, de tão comprido que era. Como votei numa das listas do topo do boletim (eh eh), foi preciso dobrar a parte de baixo para o acomodar em cima da mesa.

Como estava com pressa e os funcionários da mesa de voto eram muito despachados (faziam sinais com as mãos a lembrar os agentes da brigada de trânsito), não me demorei a apreciar as novas cabines de voto, as meninas dos olhos do presidente da Comissão Eleitoral, Ip Son Sang. Mas tive oportunidade de reparar no cartaz colocado no centro de cada uma das mesas, com as instruções de como dobrar o boletim de voto (muito úteis, por sinal), e um aviso sobre a proibição do uso de telemóveis, aparelhos de gravação de imagem ou outras engenhocas que permitam a comunicação com o exterior. Depois de votar numa das listas do topo do boletim (☺), meti voto na urna e fui à minha vida.

No regresso a casa passei pela Rua do Seminário, e tive a oportunidade de apreciar a longa fila de eleitores que se alinhava no Colégio de S. José. Não há dúvida que a parte da manhã é a "hora do lobo" das eleições. Aposto que dois terços do eleitorado vota antes do meio-dia. Fosse a CE mais expedita, e começava a contar os votos depois do almoço, e assim podia anunciar os resultados totais ainda antes da meia-noite de hoje, em vez de dois dias depois, como aconteceu há quatro anos. "Num tim isperto no cabeço, esminino", como se dizia em Lourenço Marques em tempos idos.

A razão porque decidi madrugar na hora de votar foi para poder regressar o mais rapidamente possível a casa e ficar "de molho", longe do clima de tensão que paira na cidade, digno de um filme de faroeste, durante a cena que antecede um duelo ao pôr-do-sol. Qualquer casa de chá mais concorrida encontra-se especialmente cheia, mais do que o normal, mesmo para um Domingo, e à sua volta circulam indivíduos com um ar suspeito. Coisas da "cosanostra" chinesa, quero lá saber. Chegado ao conforto do lar e ao fresquinho, só me vou lembrar destas eleições logo à noite, durante o especial da TDM. Então até mais logo!

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