Morreu o presidente venezuelano Hugo Chávez, um desfecho previsível depois de quase dois anos de luta contra o cancro da próstata por parte do general que em 1998 se tornou presidente de um dos mais ricos países latino-americanos, e que desafiou a hegemonia dos Estados Unidos no "novo mundo". O estado de saúde de Chávez foi alvo de muita especulação nos últimos tempos, e apesar das tentativas (patéticas) do regime venezuelano em minimizar a gravidade da sua doença, os mais informados estariam conscientes da fragilidade da condição do general. Só um daqueles milagres em que o socialisa bolivariano não acreditava o poderia salvar.
Chávez foi uma figura que ficou longe de gerar consenso. Colhia a simpatia dos mais básicos anti-americanistas e revolucionários sonhadores, e de outros demagogos e inimigos do capitalismo, e era olhado com desconfiança por outros. Não foi nada salutar para a relação entre a Venezuela e os Estados Unidos que estes últimos tenham apoiado em 2002 uma revolta para derrubar Chávez, mas isto foi também pretexto para o general levar a cabo uma série de extravagâncias que em muitos casos podem ser considerado tudo menos "reformas democráticas".
Há quem elogie o seu esforço em redistribuir a riqueza no país que é o segundo maior exportador de petróleo, há quem tenha considerado as nacionalizações e expropriações desatrosas para a economia venezuelana. A pintura terá ficado borrada com as alterações à constituição (até à própria bandeira do país) que lhe permitiram consolidar o poder e ser reeleito para um número ilimitado de mandatos, e com o estilo semi-ditatorial com que governou, chegando ao ponto de silenciar opositores, fechar jornais e canais de televisão incómodos, e outros expedientes que tornaram a sua antipatia pelos "yankees" menos refrescante.
Pelo menos Chávez cumpriu o seu desígnio de governar até à morte, que o deteve aos 58 anos - certamente antes do que o próprio estaria à espera. Na hora da sua morte chegaram condolências de toda a parte, as mais sentidas dos líderes socialistas que viam em Chávez uma espécie de Che Guevara dos tempos modernos. Foi caricato ver a forma como o próprio regime anunciou a morte do seu líder, numa voz arrastada, e reacções perigosamente próximas das que se viram após a morte de Kim Il-Sung na Coreia do Norte em 1994. Resta saber que direcção tomará agora a Venezuela, um país onde vivem muitos milhares de emigrantes portugueses. Fiquei sem perceber a insistência do "pivot" da RTP João Fernando Ramos em perguntar se os portugueses "iam deixar o país". Porque carga de água? A Venezuela não é Chávez, nunca foi, e agora é ainda menos.
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