terça-feira, 5 de março de 2013

Os salteadores do porco balichão tamarinho perdido


O Porco Balichão Tamarinho "da Manuela". Not too shabby.


Dona Aida de Jesus, a cavaleira dos templários que mantém o segredo do Porco Balichão Tamarinho perfeito.

Quim jã falâ, nôs Maquista sabe gozâ
Divera sã gostâ, comê até bariga inchâ
Nôs non tem culpa, tudo hora sã tem passâ
Tanto comizaina, que nôs senti tã rebentâ


Armando Santos, Comizaina

Sân deveras. A comida macaense é um verdadeiro mimo, e para quem conhece é um mundo interminável de surpresas. Gostei da reportagem do JTM de hoje sobre o Restaurante Riquexó, que reabriu há quase dois meses depois de ter encerrado no local onde funcionou durante 35 anos, no antigo Park'n'Shop em frente ao Edifício Hoi Fu, no fim da Av. Sidónio Pais (perto do Colégio D. Bosco). O Riquexó recomeçou quase ao lado, num beco anexo ao antigo BCM, e apesar do espaço mais exíguo, conta agora com uma agradável esplanada com cinco ou seis mesas. O tempo ameno e o sol convidam a que se sente lá fora e aprecie os sabores desta gastronomia única no mundo.

Fui lá hoje almoçar, com faço pelo menos uma vez por semana, e optei pelo minchi. A semana passada foi o Bafassá, e antes disso o Porco Balichão Tamarinho, esse triunfo da culinária macaense, do encontro das culturas euro-asiáticas. O Porco Balichão Tamarinho consiste de costelas de suíno cortadas de forma miudinha, temperadas com balichão (pasta de camarão) e tamarinho (uma fruta típica do sudeste asiático, popular na Tailândia, Indonésia e Filipinas, com um sabor agri-doce, açucarado e salgado). O segredo de um bom Porco Balichão Tamarinho é um dos segredos mais bem guardados do mundo.

E quem faz o melhor Porco Balichão Tamarinho do mundo? A dona Aida de Jesus, do Riquexó. Sim, a mãe da Sónia, a sogra do Palmer, o casal de vendeu o antiho Park'n'Shop e manteve o Riquexó naquele beco ali ao lado, muito por culpa dos aficionados da genuína comida macaense. A Manuela do Litoral faz um Porco Balichão Tamarinho decente, a ADM faz um sofrível, e desconheço se algures numa casa maquista ou na diáspora macaense espalhada por esse mundo fora alguém consiga fazer um que compita com o da dona Aida, mas duvido muito. O problema (que ao mesmo tempo é uma virtude) é que a dona Aida tem quase um século de idade, e não dá a receita a ninguém. O tempo urge, e o melhor Porco Balichão Tamarinho do mundo está em risco de extinção.

Não vou implorar à dona Aida que revele o seu segredo. Para o seu e para o meu bem espero que continue por muitos e bons anos a ir comer o seu Porco Balichão Tamarinho no Riquexó da Sidónio Pais. Mas será um dia triste quando isto deixar de acontecer. Será o fim da História. Ah sim, e não se pense que só de Porco Balichão Tamarinho vive o Riquexó. Recomendo ainda a Capela, o Minchi ("just right", sem ser muito seco), o caril de galinha, a adé cabidela e o Chai di Bonzo, todos triunfos da culinária local, tudo "ui di sabroso". Que o porco e os seus acompanhantes, sejam eles bafassás, balichÃo tamarinhos ou minchis perdurem entre nós por muito tempo. Comê até bariga inchâ!

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