sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Prossegue a birrinha


Foi presentada a edição deste ano do Festival de Gastronomia de Macau, que se realiza habitualmente no terreno anexo à Torre de Macau em inícios de Novembro, por alturas do Grande Prémio. Os meses de Outubro e Novembro so um fartote em termos de animação no território, pois além da Gastronomia e e do Grande Prémio, há ainda o "nosso" Festival da Lusofonia, para não falar do Concurso de Fogos de Artifício, que deixa boa parte da população a olhar para o céu e a exclamar "uahhh!". O tempo ameno convida a sair de casa, e nada como um pouco de festa para sacudir a humidade do Verão.

Voltando ao Festival de Gastronomia, a Future Bright de Chan Chak Mo, organizadora do evento, anunciou que a Tailândia será o país em destaque este ano. Uma boa ideia, uma vez que o país dos sorrisos e as suas gentes, em tempos muito na moda em Macau, vai ficando um pouco esquecido. Além da riquíssima e variada gastronomia tailandesa, vamos ter ainda uma surpresa: massagens tailandesas. Não sei ainda em que termos, a que preços e em que condições, mas promete ser uma atracção bem concorrida, nem que seja pelo factor da novidade, e apenas para "exprimentar".

O que não é novidade não tem piada nenhuma é a ausência, mais uma vez, do Japão, que até ao ano passado era presença habitual no Festival. Há um ano estávamos no auge de uma troca de galhardetes diplomática entre a China e o Japão por causa das ilhas Diaoyu, reclamadas por ambos os países. Os egos inflamados levaram a um boicote a tudo o que era japonês no continente chinês, e Macau não quis ficar atrás, cancelando a participação da empresa de pirotecnia japonesa no tal Concurso de fogos, e banindo o sushi e o sashimi do Festival de Gastronomia. Uma parvoíce pegada, uma saloiice extrema sem ponta que se lhe pegue.

Não que em Macau se tenha verificado um sentimento anti-nipónico entre a população, mesmo que esta apoie a China na questão das ilhas disputadas. Os residentes do território continuaram a comer nos restaurants japoneses, a conduzir os seus Hondas, Toyotas e Mazdas, e a tirar fotografias com as suas Cannon. Mesmo os pacotes turísticos para o país do sol nascente, que sofreram com a crise de há um ano, tiveram agora uma retoma, para alegria da população local, que, e por muito que isto custa aos patriotas mais inflamados, gostam do Japão. De facto muitos sentiram-se incomodados, preocupados até, com a "crise" das Diaoyu, e os efeitos que poderia ter nas suas viagens de lazer.

É lamentável que Macau copie estes exemplos que vêm da China, e que neste caso nem sequer são suportados por nenhuma directiva oficial do regime, numa demonstração patética de lealdade. Compreende-se que a população se mobilize por uma causa como o terramoto de Sichuan, ou qualquer outra válida com fins beneméritos ou humanitários, mas saltar para dentro desta carroça do nacionalismo bacoco fica-nos mal. Aliás não me recordo de ouvir a opinião pública exigir que se boicotassem os produtos japoneses, ou qualquer coisa relacionada com esse país. Para os residentes de Macau com dois palmos de testa, essas questões da política ficam para os politicos resolverem entre eles.

Não sei se ao tomar estas posições tão radicais, ainda por cima à revelia do que a população pensa, os responsáveis da RAEM pensam estar a fazer o seu trabalho de casa, e recebem uma festinha na cabeça da parte do seu "mestre", que lhes continua a mandar borregos do continente para a matança dos casinos locais. Pode ser que seja esta a explicação para algumas destas atitudes "esquisitas", mas ao fazê-lo, ao andar a toque de caixa da China, estão a levantar dúvidas sobre o tal "elevado grau de autonomia" de que Macau alegadamente usufrui. E quem pior fica nesta fotografia é Chan Chak Mo, que numa altura em que a ferida começava a sarar, resolve voltar a abri-la, e ainda esfrega sal nela. Com o seu peitinho de rola inchado e o seu sorriso parvinho de orelha a orelha, o empresário/deputado anuncia orgulhoso que na sua festa o Japão não entra. - "Fui um bom menino, mestre?" - "Foste sim, meu pequeno pateta alegre".

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