sábado, 14 de setembro de 2013

Os animais mais feios


Se por acaso algum leitor pensava que era tão feio que seria impossível existir à face da terra alguma criatura mais feia, enganou-se. Nem em ser o pior você consegue ser o melhor, seu inútil! Mas chega de falar de você, sua massa disforme de moléculas, pois a Associação Britânica de Ciência elegeu o animal mais feio do mundo, e o prémio foi para o peixe-bolha, esta criatura na foto que mais parece uma criação da companhia de animação Pixar. O peixe-bolha, de tão tímido que é, habita nas profundezas do oceano Pacífico, longe da gente bonita. Mesmo assim a sua paz é perturbada pela pesca de arrastão, que ameaça a continuidade da sua espécie. Ninguém tem pena do peixe-bolha? Pode ser feio, mas tem um grande coração. Quer dizer, um grande nariz, perdão.


Em segundo lugar na lista dos animais mais feios ficou esta curiosa e rara ave, uma ave rara, portanto: o Kakapo. Este pássaro nativo da Nova Zelândia é um híbrido de papagaio e de mocho, e talvez por isso seja conhecido por "papagaio-mocho". Duh. No entanto o Kakapo não conseguiu reunir as melhores qualidades das aves com que se assemelha: não tem a plumagem e a elegância do papagaio, nem o instinto predatório do caçador mocho. O Kakapo tem as asas curtas e na idade adulta atinge o tamanho de um falcão, e por isso é incapaz de voar. Do mocho herda a qualidade de noctívago - neste caso um defeito. Por isso o pobre Kakapo rasteja pelos bosques neo-zelandeses pela noite, à espera de ser devorado por algum animal de quatro patas que não seja esquisito e não se importe de o devorar, mesmo sendo feio. Pessoalmente acho deselegante da Associação Britânica de Ciência fazer pouco de um deficiente, mas passemos à frente.


No terceiro lugar aparec o axolotl, um simpático peixinho que habita nos lagos do México, que se assemelha a um girino. Isto tem a sua razão de ser: o axolotl é um parente próximo da salamandra, que por sua vez é primo distante da rã. A palavra "axolotl" significa no antigo dialecto Nauhatl "monstro do mar". A aparência do peixe deve-se a uma deficiência que o impede de completar a sua metamoforse, mantendo-se num estado semi-larval. Mais um falhanço da natureza. Mais uma vez faz-se troça de uma deficiência, o que é assaz desagradável.



Os restantes candidatos, que ficaram de fora do pódio, está o macaco Proboscis (em cima), que leva o seu nome devido ao nariz escandalosamente grande, e que de entre os concorrentes é o que mais se assemelha com o leitor frustrado por não ter ido a sufrágio. Finalmente temos a rã do lago Titicaca (em baixo), exclusiva daquela porção de água partilhada entre o Perú e a Bolívia. É injusto que considerem este anfíbio "feio". Afinal ali está ele, de olhos bem abertos, como quem demonstra interesse pelo que temos para dizer. Pode ser pouco dotado de beleza, mas pelo menos faz companhia.

Coralie Young, da organização que levou a cabo esta votação, diz que a participação "foi um sucesso". A página do concurso foi visitada por cerca de 80 mil pessoas. Segundo Coralie, "é um modo simpático de alertar as pessoas a conservação das espécies". Simpático? Chamando-lhes de feios? E como se conservam as espécies apontando apenas os seus defeitos, nomeadamente a aparência asquerosa? Não faz lá muito sentido.

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