domingo, 8 de setembro de 2013

O dilema do Nobel


“Should I Stay or Should I Go Now/If I Go There Will be Trouble/If I Stay it Will be Double”, cantavam os Clash num dos seus temas mais conhecidos. E de facto deve ser assim que se sente agora o president Barack Obama, que anunciou recentemente o seu plano de intervir militarmente na Síria, onde há três anos decorre uma sangrenta Guerra civil. Os americanos apoiaram sempre o president Bashar al-Assad, tido como um garante da estabilidade na Síria, e a sua queda poderia implicar uma radicalização do islamismo naquele país, tornando-o em mais um vespeiro de terroristas, e uma potencial ameaça aos Estados Unidos. Mas à luz dos recentes eventos, que levantam fortes suspeitas quanto ao uso de armas químicas por parte do exército leal a al-Assad, Obama decidiu repensar a sua posição, e considera mandar tropas para a Síria. Isto depois de muita, muita, mas mesmo muita hesitação. Quando os americanos falam de Guerra, o resto do mundo torce o nariz, e apesar de concordarem com Obama que gasear criancinhas e civis inocentes é realmente uma grande maldade, as restantes potências esperam aguardar uma decisão da ONU, com vista a uma acção concertada que não deixe ninguém com dúvidas quanto à sua legitimidade. A China especialmente tem sempre sérias reservas quanto a este tipo de intervenções visando derrubar regimes soberanos pela força. Quem tem telhados de vidro, já se sabe.

Entretanto alguém se lembrou que este mesmo Obama que agora fala de guerra já foi em tempos laureado como prémio Nobel da…paz. O Partido Comunista da Rússia não se esqueceu deste “detalhe”, e pensa levar a cabo uma campanha para retirar o prémio atribuido ao president norte-americano em 2009. Segundo Ivan Melnikov, vice-presidente do Comité-Central do PC russo, a ideia de que a situação na Síria constitui uma ameaça à segurança interna dos Estados Unidos “é um disparate”, acrescentando que a posição dos americanos é a verdadeira ameaça, e por isso é urgente retirar o Nobel da Paz ao seu presidente. Mas se os comunistas russos já não são o que eram, há outras vozes de peso a apoiar a iniciativa, como é o caso de Alexei Pushov, presidente da comissão de negócios Estrangeiros da câmara baixa do parlamento russo. Pushov afirmou no final da semana passada que “se os americanos atacarem a Síria sem o aval da ONU, a comunidade internacional deve exigir que se retire o Nobel da Paz a Obama”. Também o físico russo Zhores Alfiorev, premiado com o Nobel da sua especialidade em 2000, diz “nunca ter entendido a razão de se atribuir o Nobel a Obama”, mas que nunca é tarde para emendar o erro. O pioneiro desta ideia de "sacar" o Nobel a Obama foi Evo Morales. O presidente boliviano fez esta sugestão em Março de 2011, quando acusou os norte-americanos de "estarem a fomenter a violência na Líbia". Contudo Obama pode dormir descansado e manter o Nobel pendurado na parede. É uqe de acordo com os estatutos da academia sueca, nenhum prémio pode ser retirado depois de atribuído. Isto de ser líder dos "polícias do mundo" tem que se lhe diga. Todos os dias são muito mais que apenas mais um dia no escritório. Obama que o diga.

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