Os Serviços de Saúde de Macau (SSM) emitiram esta semana um aviso no sentido de orientar a população no sentido de prevenir o vírus do Ébola, e já na quinta-feira anunciaram que
vão "avaliar o estado de saúde e a proceder a açcões preventivas junto de cidadãos portadores de passaporte da Guiné, da Libéria e de Serra Leoa que entrem na RAEM". Mas esperem lá, Ébola? Ébola?!?! ÉBOLA??!!?? Isto não é a mesma coisa que a febre de dengue e a gripe aviária, e perante este o vírus da SRAS é um calafrio provocado por uma corrente de ar causada por uma janela mal fechada. Nos dois primeiros basta não ser porcalhão: despejar a água parada dos vasos e não andar por aí a soprar no cu das aves, e em termos de "prevenção" basta um "spray" repelente de mosquitos e fazer dieta de frango, mas aqui não há nada a fazer! Quem ficar infectado com o vírus do Ébola tem quase tantas hipóteses de sobreviver como numa catástrofe aérea. Se isto chega aqui, não vão haver ex-infectados a falarem da experiência na televisão de Hong Kong, como aconteceu com a SRAS - não vai haver ninguém, ponto final. Viram aquele filme com o Will Smith, "I am legend"? Vai ser mais ou menos assim, só que pior.
E pronto, aqui estou eu a substituir-me aos SSM e ainda por cima estou a semear o pânico. Ora, se for detectado 1 (um) caso de Ébola em Macau, e as autoridades sanitárias disserem que "não há razão para alarme", seria o mesmo que o patriarca Noé estar a construir a arca e quando os curiosos lhe perguntassem "porquê" ele responder "porque me apetece, vão à vossa vida". Se suspeitam que uma galinha era portadora do vírus H5N1 mandam matar as aves todas do mercado, o que farão com o Ébola? E nem precisam de se incomodar em fazer o mesmo que às galinhas, pois o próprio vírus encarrega-se disso. Cidadãos de onde se deu a epidemia do Ébola entrarem na RAEM? Epá vejam de onde é que eles vieram e prendam os gajos que os mandaram para cá. Isso é o equivalente a um ataque com armas químicas. Nada contra os países em questão, coitados, mas para mim pouco importa que venham da África, da Patagónia ou do Pólo Norte. O meu amigo Hugo Gaspar devia estar mais preocupado com isto do que com a Islamização. Entre uma coisa e outra, eu até me antecipava e tornava-me já num "mijahideen".
Agora um pouco mais a sério. Os SSM estão a fazer o que lhes compete, que é o mínimo que se pode fazer e seria uma grave falha ignorar por completo a actual situação. É que este vírus pode não ser nenhuma novidade, pois foi identificado em 1976 e desde aí já aconteceram mais de vinte epidemias, sempre contidas e controladas. Só que desta vez não conseguiram conter os doentes infectados na zona de pressão do vírus, e é possível que andem por aí, por esse mundo fora, a espalhá-lo. A doença que recebeu o nome de um rio do Congo junto ao qual se deu a primeira epidemia é causada por cinco espécies, ou "estirpes" de vírus, sendo o mais mortal o EBOV. Este surto que teve início em Fevereiro na Guiné-Conacri e se espalhou pela Libéria e Serra Leoa já vitimou mais de 700 dos 1300 doentes contaminados, ou seja, 55% do total, mas teme-se que a mortalidade poderá atingir os 80 ou 90 em cada 100 infectados - e adivinharam: é a estirpe EBOV do vírus do Ébola.
O período de incubação é de cerca de duas semanas, podendo ir até às quatro semanas, e os primeiros sintomas são semelhantes ao da gripe comum acompanhada de febre. Quando o vírus atinge o sistema nervoso central do seu hóspede, começam a surgir sintomas como o desorientação, o delírio e eventualmente o coma. A febre torna-se hemorrágica, ou seja, causa a falência de alguns orgãos, especialmente dos rins e do fígado. A partir daí é uma questão de dias para que se dê a morte - aquela cura para todos os males. Não adianta pensar que as hipóteses de sobrevivência dependem da resistência do doente infectado, das condições de higiena ou da qualidade dos serviços médicos providenciados; a agressividade do EBOV deixa a sua vítima entregue à sorte e nada mais. O risco de contágio é elevado, bastando a proximidade com alguém que é portador do vírus - alguém ou algo, pois não só a transmissão se dá entre seres humanos, como o vírus também se pode introduzir na cadeia alimentar, e até nos animais de estimação. Os cães, por exemplo, podem ser portadores e não revelar qualquer dos sintomas.
E o pior de tudo: não há cura para a doença do vírus do Ébola. Como já referi, tudo depende da sorte, de como o organismo responde às investidas do intruso, e por estes lados isto leva-me a temer o pior. Temos uma população que em grande parte dá por vezes a impressão de que tira prazer da ignorância, e basta espalhar o rumor de que "o gás butano previne o Ébola", e toca de enfiarem todos a cabeça dentro do fogão. As botijas de gás esgotam em meia-hora, com multidões a ocorrerem às lojas, velhinhas a acotevelarem-se para chegar à frente, apelando que as deixem passar porque "são viúvas e não querem morrer" (isto nem faz sentido...), e os isqueiros a gás começam a ser vendidos a mil patacas a unidade. Portanto, quem é crente, faça um favor a si mesmo e aos que não gostam de depender da vontade divina, como eu: rezem com todas as forças. É que este Ébola é mesmo f..., e não brinca.
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