Três dias após a tragédia que vimitou 298 passageiros de um voo da Malaysia Airlines, continuam a surgir na imprensa notícias, umas que causam consternação, e outras que provocam sentimentos de revolta. Soube-se que iam a bordo do Boeing 777 abatido enquanto sobrevoava o espaço aéreo da Ucrânia 18 crianças, três delas bebés com poucos meses de idade. Uma das imagens mais chocantes foi a de um desses bebés jazendo no meio dos destroços, já sem vida mas com o corpo intacto, sem uma única queimadura. Quanto à autoria do atentado, não restam dúvidas que os responsáveis são os rebeldes separatistas ucranianos, apoiados por Moscovo. Estes terroristas, que não merecem que lhes chamem outro nome, não só cometeram este acto horrendo que vitimou quase três centenas de inocentes, como não estão arrependidos, e ainda se acham no direito de estar no comando da situação. Depois de impedirem o acesso ao resgate dos corpos dos passageiros do voo MH17, soube-se que saquearam as bagagens e os pertences das vítimas, e depois disso ainda se acham no direito de supervisionar o transporte dos destroços do avião e dos restos mortais.
O presidente russo Vladimir Putin recusa-se a demarcar-se destes barbáricos salteadores, e ainda vai tentando encontrar uma saída "diplomática" para justificar o injustificável. Apreender a noção do certo e do errado é impossível mesmo para ele, que se julga uma espécie de super-herói; aqui as vítimas não são terroristas chechenos, rebeldes da Ossétia do Sul ou separatistas do Daguistão, nem outro grupo com que o líder do Kremlin tem que lidar dentro de portas, e por muito reprováveis que sejam os métodos que utiliza, não deixam de ser problemas internos - os russos elegeram-no, portanto os russos que o aturem. Aqui as vítimas foram civis que não têm absolutamente nada a ver com as jogatinas territoriais e políticas do sr. Putin, e só lhe ficava bem condenar as acções destes rebeldes e cortar-lhes qualquer apoio, seja ele logístico, financeiro, e até moral. Mas não, o presidente russo reserva-se ao direito de massacrar inocentes em nome do que considera certo, e acha-se o senhor supremo da razão. Deve ter acordado um dia, e depois de se olhar ao espelho chegou à conclusão que é Deus.
Uma leitora do blogue deixou esta tarde no Facebook um comentário a respeito da organização do próximo mundial de futebol, que será na Rússia, e chamem-lhe Percepção Extra-Sensorial ou aquilo que quiserem, mas dois minutos antes estava eu a pensar no mesmo. É este país com estas pessoas com esta mentalidade que vai receber daqui a menos de quatro a maior competição de selecções a nível mundial do desporto-rei? O mesmo Vladimir Putin que esteve no Maracanã faz hoje exactamente uma semana não percebeu que aquilo é mais do que receber as selecções e os adeptos, construir os estádios, os acessos e tudo isso? O Campeonato do Mundo não é só dinheiro; tem mais significado, e não deve ter lugar em regimes onde se trata uma lamentável tragédia desta forma tão plácida, desculpando os seus responsáveis com expedientes que só ele próprio considera válidos. A forma fria e quase inumana com que o sr. Putin encara estas situações, e que confunde com a coerência das suas convicções pode até ser bem recebida entre os russos, mas deixem-me recordar que não somos todos russos.
Posto isto apelo ao sr. Joseph Blatter, presidente da FIFA, que se pronuncie sobre este caso, e condene a postura de Moscovo, em nome da festa do futebol que a instituição a que preside organiza, e que se deve desmarcar da forma como o país organizador do próximo mundial encara uma tragédia desta natureza. Não se pede que retire a organização à Rússia, mas que censure esta posição, e que prometa que a FIFA ficará atenta à forma como se comporta o país que assumiu o compromisso de receber o campeonato do mundo, que é de todos. É que os adeptos deste desporto de paixões querem ter a certeza que não estão nas mãos de nenhuns malucos homicidas, que decidem rebentar com qualquer coisa a qualquer hora apenas porque sim, que lhes dá jeito, estão no seu direito e ninguém os pode julgar pela forma como conduzem os seus assuntos internos. Se for assim, o melhor é ficarem a jogar sozinhos.
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