Domingo joga-se no Maracanã a final do mundial do Brasil 2014, sem a presença da equipa da casa, que partia como grande favorita, mas acabaria por desiludir. Nem o 3º lugar que Scolari aponta agora como meta deixará satisfeitos os adeptos brasileiros, que noutras paragens nunca pedem menos que o título, quanto mais na prova que organizam pela segunda vez, e que tão cedo não poderão aspirar a vencer como país anfitrião. E como país anfitrião o país do futebol falha onde Uruguai, Itália, França, Inglaterra, Argentina e Alemanha já tiveram sucesso, e ficam apenas na companhia da novata Espanha, campeã em título, como país que nunca conseguiu vencer o torneio em casa - isto falando apenas dos campeões, naturalmente.
E são a Alemanha e a Argentina que vão pela terceira vez discutir o título de campeão mundial, tornando assim este o duelo que mais vezes serviu de final à prova maior do desporto-rei, ultrapassando o Brasil-Itália, que foi a final em 1970 e 1994. A Alemanha, tri-campeã, joga a sua nona final, e a Argentina, duas vezes campeã mundial, a quinta. As duas potências reeditam assim as finais de 1986, com vantagem para os sul-americanos, e de 1990, quatro anos depois, data do último título da "mannschaft", que viria a ser finalista vencida em 2002. Para os argentinos é também a primeira final da era pós-Maradona - depois de "Dios" se ter retirado, a Argentina nunca foi além dos quartos-de-final, classificação que obteve em 1998, 2006 e 2010.
E assim tudo se resume a duas selecções que tiveram nesta prova um percurso que no mínimo se pode considerar digno de dois finalistas. Os alemães tiveram um desempenho mais mediático, depois das goleadas frente a Portugal no jogo de estreia e nas meias-finais frente ao Brasil, esta última deixando o mundo com a boca aberta de espanto, enquanto os argentinos foram fazendo o mínimo que lhes era pedido para chegar a esta fase, não tendo vencido qualquer desafio por mais de um golo de diferença. Os alemães têm 17 golos apontados em 6 jogos, contra apenas 8 dos argentinos, enquanto os sul-americanos levam vantagem no capítulo defensivo, com apenas três golos consentidos contra 4 do seu adversário de Domingo. Analisando a prestação de ambos, pode-se dizer que estão frente as melhores defesas e os melhores guarda-redes da prova.
O mundial foi emocionante na primeira fase, com muitos golos, algumas surpresas e de uma forma geral com futebol bem jogado, passando então às rondas a eliminar onde se previligiaram os aspectos tácticos, com as equipas a primarem pela contenção, menos atrevidas, dando a iniciativa ofensiva ao adversário e aguardando uma oportunidade de facturar no contra-golpe. A lógica também prevaleceu, pode-se dizer, com todos os vencedores dos oito grupos a seguirem para os quartos-de-final, e daí três dos quatro favoritos seguiram para as meias-finais, com o Alemanha-França a colocar-se como a única partida entre dois potenciais candidatos à vitória final. Colômbia e Costa Rica conseguiram as melhores classificações de sempre, e a regressada Bélgica chegou aos quartos-de-final pela primeira vez desde 1986. Só a hecatombe do Brasil desafiou o primado da lógica, mesmo que as hipóteses de vitória fossem à partida iguais para ambos.
Da primeira vez que Alemanha e Argentina se defrontaram na final, em 1986, fica a memória de um excelente jogo de futebol, no ano em que Maradona passou a fazer parte da história, liderando uma equipa que contava ainda com nomes como Daniel Passarella, Jorge Valdano, Jorge Burruchaga, Oscar Ruggeri ou Sergio Baptista, e em 1990, num mundial pobre a mal disputado, a Alemanha destacou-se desde o início como grande favorita à vitória final, com Lothar Matthaüs sobressaindo-se num lote de jogadores onde se encontravam ainda Jürgen Klinsmann, Andreas Brehme, Rudi Völler ou Pierre Litbarski, entre outros. Curiosamente o percurso de ambas as equipas neste mundial do Brasil faz lembrar um pouco esse de há 24 anos, com a diferença da Argentina ter passado a fase de grupos com muito mais à vontade. Este será então o tira-teimas entre teutónicos e latino-americanos, o frente-a-frente entre o prático e corrido futebol alemão e o estilo de jogo mais técnico e contido praticado pelos homens do país do tango.
Se me perguntassem que final gostaria de ver, respondia sem pensar duas vezes: Alemanha-Colômbia. Foram estas as duas equipas que mais me chamaram a atenção; os primeiros pela sua eficácia, disciplina e determinação, e os segundos pelo futebol bonito que jogaram, com momentos de verdadeiro encanto que chegaram a fazer lembrar o Brasil de outros tempos. Infelizmente a forma como as selecções ficaram emparelhadas a partir dos oitavos-de-final nunca permitiriam este desfecho, e tudo parece indicar que a intenção inicial seria, no limite, proporcionar um final entre a equipa da casa e a campeã em título, a Espanha. Sem os espanhóis o caminho ficou aberto para argentinos e holandeses, que decidiram ontem o segundo finalista, com vantagem para os primeiros.
A Alemanha tem a melhor selecção desde 1990 - mesmo que eu preferisse essa, mas os tempos são outros - com jogadores de grande nível para praticamente todos os sectores do terreno, e a Argentina tem Messi e mais dez, mesmo que o "pulga" não tenha "explodido", ou esteja muito aquém do que seria de esperar dele, apesar dos quatro golos apontados. A Argentina tem valido sobretudo pelo conjunto, tem alternado o razoável com o sofrível, com poucos momentos de encanto, e em alguns momentos tem-lhes valido o bom momento de forma do guardião Sergio Romero. Com excepção de Messi, os argentinos não têm referências, falta mais alguém que decida, e só o maior apetrecho técnico de algumas das suas pedras têm evitado uma dependência absoluta do seu nº 10, à semelhança do que aconteceu com Neymar no Brasil.
Por estas razões acima referidas, fico a torcer para que vença a Alemanha, para bem do futebol, pois o contrário seria a afirmação do anti-futebol, da disputa por objectivos descurando a vertente espectáculo que é fundamental neste desporto de multidões que querem heróis, e não "empatas". Se a Argentina me contrariar no Domingo, faço a devida retração, mesmo que não fique convencido com apenas um bom jogo - seria como dizer que a Grécia foi a melhor equipa do Euro 2004, tendo ficado depois provado que não foi. Já que a lógica tem imperado, fico a aguardar que ambas as equipas joguem o que têm jogado até esta final, e aí, sem qualquer margem para dúvida, a Alemanha sairá tetra-campeã mundial.
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