Tenho adiado este "post" tantos dias que não o posso deixar adiar mais, sob o risco de passar de validade. Por isso, mesmo com pouco tempo e quase a cair para o lado de sono, preciso de passar para o cibermundo a compilação de opiniões que tinho vindo a juntar nos últimos cinco dias, desde que regressei de férias. E se algo de positivo se pode tirar desse adiamento, é que hoje passa exactamente uma semana desde que Sulu Sou Ka Hou se tornou presidente da Associação do Novo Macau Democrático (NMD), sucedendo assim a Jason Chao. Um desfecho que já se previa, pois tanto o actual presidente como o seu antecessor tinham dado a entender que a presidência dos democratas ia mudar de mãos. Sulu Sou vem tendo desde há algum tempo um certo imediatismo, e viria ser um dos protagonistas das manifestações de 25 e 27 de Maio, que tiveram como consequência a retirada da polémica proposta de lei do regime de garantias dos titulares dos principais cargos públicos. Uma das curiosidades da eleição deste jovem para a presidência do principal grupo pró-democrata do território é essa mesma: a sua juventude. Sulu Sou tem 23 anos, tantos quantos a Associação a que agora preside.
Esta questão da idade de Sulu Sou tem levantado algumas questões, nomeadamente sobre a sua capacidade para exercer o cargo, e se a sua inexperiência não poderá ter um efeito preverso. No último programa "Contraponto", da TDM, Carlos Morais José abordou o assunto, enalteceu o "lirismo" do NMD, mas avisou para o factor idade, que poderá pesar na hora de discutir os temas com gente mais experiente. Eu adoro o Carlos, como vocês sabem, e em circunstâncias normais ele teria razão. Só que em Macau funciona tudo um bocadinho como no Mundo ao Contrário, e duvido que existam na Assembleia Legislativa, por exemplo, mais de meia dúzia de deputados com uma retórica superior à de Sulu Sou, que nos debates do canal chinês da TDM durante a campanha eleitoral em Setembro último deu provas de conhecimentos na área da política, que foram até bastante elogiados. Claro que há a questão da maturidade, e que nenhum de nós, dos que temos 40 ou 50 anos pensa ou encara a vida da mesma forma de que quando 20 ou 25 anos. Pode ser apenas conhecimento teórico, mas imaginem Sulu Sou num debate político com Fong Chi Keong. Ia ser um festival de risota, com o empresário a desaparecer de circulação durante uns bons tempos depois disso - e daí talvez não, tal é a vaidade com que o deputado exibe a sua ignorância.
Os críticos do NMD, e mesmo alguns observadores neutros, falam de uma rotura entre os veteranos da Associação, mormente Ng Kwok Cheong, Au Kam San ou Paul Chan Wai Chi, e a nova geração, onde se inclui além de Sulu Sou, o seu antecessor Jason Chao, que deixou expostas algumas fragilidades ao comentar abertamente as suas diferenças com os elementos mais antigos, e logo durante um período sensível do seu mandato, pouco antes das eleições para a AL do ano passado. Para quem não entende como apesar das evidentes diferenças entre as duas gerações, Ng e Au entreguem a "chave do castelo" aos mais novos, há uma razão muito simples: Ng Kwok Cheong e Au Kam San não querem acumular a direcção do NMD com as funções de deputado, e primeiro deixaram Paul Chan Wai Chi na presidência - prática comum em muitas associações que elegem um deputado, e talvez a única excepção seja Pereira Coutinho, pelo menos que eu tenha conhecimento. Depois deste ser também eleito em 2009, passou Jason Chao à presidência, e a entrada de Sulu Sou pode-se explicar tanto pelo desgaste da imagem de Chao, como por uma mera estratégia, com o presidente cessante a planear dedicar-se mais à Consciência Macau, o mais recente satélite dos democratas. Mas sem dúvida que para quem olha de fora, o Novo Macau parece a fonte da juventude do filme "Cocoon".
Já tinha falado aqui no blogue do "gap" geracional que existe no NMD, e na última sexta-feira o próprio Paul Chan Wai Chi fez uma referência ao tema, num
artigo que assinou nas páginas do Hoje Macau, e onde afirma que durante o período que presidiu à direcção, já tinha chamado a atenção para a "falta de sangue novo" dentro do grupo. Olhando para os nomes fortes do NMD, temos Ng, Au e Chan, a caminharem para os 60 anos, e depois Jason Chao, Sulu Sou e Scott Chiang com menos de 30 - ficou a faltar uma geração no sector democrata, alguém na casa dos 40 anos. Lá haver há, mas assim de repente só consigo pensar em Bill Chou, cuja chegada é relativamente recente, e Andrew Cheong, que se assume mais como uma figura da rectaguarda, e o seu protagonismo resumiu-se praticamente à controvérsia do ruído nos bares do NAPE há dez anos, tendo feito muito pouco digno de registo a partir daí. Talvez este "vácuo" se explique devido a um certo receio que existiu da parte dos jovens em se juntarem ao activismo e ao sector da pan-democracia durante os primeiros dez anos desde a criação da RAEM . O desempenho do I Executivo era tido como "excelente", e só começaram a surgir sinais de descontentamento após o caso Ao Man Long, e depois disso foi o que se sabe, e nos últimos dois anos começou a ser menos "arriscado" fazer-se ouvir e expressar opiniões opostas às do Executivo.
Os críticos do NMD podem aproveitar este desfazamento do tradicional para os atacar, alegando que "uns são demasiado velhos e desactualizados", os outros, "demasiado jovens", e "portanto não sabem o que dizem", e por enquanto vão apenas jogando pelo seguro, apostando no cavalo das "diferenças" que provocam "desunião" no seio do sector democrata. Se por um lado esta é uma casa onde os avós nunca tiveram filhos que lhes seguissem os passos, têm agora uns netos que, e isto é salutar, que além da juventude têm algo que está em falta na geração anterior à sua: consciência cívica e conhecimentos de política. Já não são os maluquinhos que se põe aos gritos na rua até que a polícia os leve para a esquadra até "arrefecerem a tola", como o caso de Lei Kin Yun e outros meio "tantãs". Estes são miúdos saídos das universidades, ou que as frequentam, ou para onde ainda caminham (uma das novas caras do NMD, Wong Kin Long, terminou este ano o secundário), e não têm medo. E isso é óptimo, porque é do medo que se alimentam os que não têm capacidade de liderança, não apresentam soluções, e vão-se simplesmente acomodando, refastelados na cadeira do poder. É preciso fazê-los mexer, ou pô-los a mexer.
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