Foi com uma enorme tristeza que fiquei a saber da notícia do falecimento do Pe. Albino Pais na última sexta-feira em Portugal. O Pe. Albino Pais foi um dos sacerdotes católicos mais porreiros que já alguma vez conheci, e tenho pena de só ter começado a trocar um ou dois dedos de conversa com ele nos últimos dois anos. Gostava de o ter conhecido melhor. Um dos portugueses que residia há mais anos em Macau, regressou a Portugal o ano passado, o que me apanhou meio de surpresa, e só depois vim a saber que tinha sido por motivos de saúde. Tive pena, mas pensei que iria recuperar a saúde e retirar-se do divino ofício, aproveitando o que lhe restava dos setenta e alguns anos que já viveu para descansar, cumprida que estava a sua missão. O Pe. Albino Pais foi um dos clérigos mais humanos e mais acessíveis que encontrei, e como humano era igual a qualquer um dos nós: tinha dias bons e dias maus, comia, bebia, ria, participava das tertúlias com a malta dele, e fora da sua função eclesiástica falava connosco olhos nos olhos, escutava-nos sinceramente, berrava se nos armássemos em parvos, e se fosse preciso mandáva-nos à fava. Uma forma de aproximação à fé deveras refrescante, sem nada a ver com aqueles lobos vestidos de pele de ovelha, a dar uma de anjinho, "ai que Deuche te cachetiga, meu filho", e olhavam para cima com um ar plácido da tanga - devia ser para ver se chovia, ou se uma pomba não lhes depositava um "pai-noxo" na testa.
O Pe. Albino Pais era uma pessoa que nos deixava à vontade, ao mesmo tempo que levava a sério o seu trabalho de propagar a mensagem de Cristo, e eu via nele uma figura representativa do carácter progressista da Igreja, que me enchia de esperança que um dia se podia realmente transformar e adaptar-se aos dias de hoje, deixando cair aqueles dogmas e afastando de vez essa ideia que as pessoas têm dos padres católicos: de que estão acima de nós e abaixo de Deus. Foi também director do jornal "O Clarim" durante mais de 20 anos, e transformou esta publicação da Diocese de Macau num media a sério, fazendo-a sair do marasmo do folhetim eclesiástico, com as datas das missas e sermões compridos que no fim acabavam por não dizer nada. Mando aqui um abraço para a malta d'"O Clarim", nomeadamente aos meus amigos Pedro Daniel Oliveira e José Miguel Encarnação, que o conheceram bem enquanto tiveram a sorte de trabalhar com ele, e que vão com toda a certeza sentir muitas saudades. Força aí, rapazes. E até sempre Pe.. Albino Pais.
Vaya con dios, hombre!
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