Depois da humilhação às mãos da Alemanha na última terça-feira e ter colecionado numa única partida praticamente todos os recordes negativos na "canarinha", muitos pensavam que era desta que Luiz Filipe Scolari ia finalmente engolir aquele orgulho besta com que nos tem moído o juízo desde...sempre? Desde que nasceu, sei lá, acho que o tipo quando veio ao mundo não chorou, e depois de duas palmadas dadas pelo médico no rabiosque, deve ter atirado com qualquer coisa do tipo: "Quer que eu chore? Chora você seu viado. E vê se larga do meu rabo, boiola".
Confesso que senti alguma simpatia pelo senhor quando veio assumir a responsabilidade pela hecatombe do "escrete" no Mineirão, uma tragédia que entra para os livros de história, onde constará ao lado do desastre do Hindenburg ou do naufrágio do Titanic. Fosse aquilo um filme pornográfico e ficava arquivado na secção de "gangbang". Ou de "ass rape", com um "bukkake" para finalizar. Mesmo assim notava-se ali alguma arrogância, como quem acha a coisa "normal", e que "só não acontece aos que lá não estão". De facto, concordo com esse pressuposto: não aconteceria com o Leixões ou com o Arouca, com toda a certeza, mas para que é que estou a falar de equipas de futebol, quando o Brasil foi tudo menos uma equipa, e não mostrou nenhum futebol?
Sei que agora é fácil falar, mas nunca em qualquer momento durante este torneio o Brasil demonstrou ter categoria para levantar a Taça do Mundo amanhã no Maracanã. E digo isto com pena pelo povo brasileiro, que merecia uma alegria dessas. Faria todo o sentido que o país do futebol comemorasse em casa o título máximo desse desporto, que por aqueles lados é mais do que isso: é uma paixão, uma espécie de religião. Pode não haver comida na mesa, mas sem bola no pé não há alegria, e sem alegria não vale a pena sequer tentar. O problema é que para alegrar um povo que prefere o circo ao pão, o melhor seria não levar essa expressão tão à letra. É que "circo" foi aquilo que tiveram, e à cabeça do elenco de saltimbancos estava o sr. Scolari, que nos últimos dias deve andar a perguntar à sra. do Caravaggio: "Porquê, e porquê comigo?". E essa é a pergunta que se impõe: porquê com ele. Só que a resposta foi dada de forma cabal no jogo frente à Alemanha: o cozinheiro só sabe fazer omeletes, e desta vez faltaram-lhe os ovos.
Em retrospectiva, fico a pensar no que seria se logo na estreia frente à Croácia estes tivessem acreditado um pouco mais que poderiam começar ali o calvário do Brasil, com três estações, a última delas frente aos Camarões a fazerem de Barrabás, e crucificação do Messias dos pés-de-barros que é Scolari logo no dia 23 de Junho. Teve sorte, pois os croatas foram demasiado humildes, e talvez fosse tudo diferente caso não ficassem incrédulos com o autogolo de Marcelo, julgando tratar-se de algum "isco" para os fazer subir no terreno e depois serem massacrados. O Brasil, da forma que se apresentou neste torneio não ia massacrar ninguém, e foi valendo Neymar - que nem sequer é tudo aquilo que pintam dele - para resolver alguns apertos. A seguir tiveram a orientação da estrelinha da sorte no jogo contra o Chile, e depois uma Colômbia que mais uma vez sem se entender bem porquê, prestou vassalagem a um rei que ia nu.
Não me levem a mal, se calhar estou a exagerar um pouco, mas fosse o Brasil hexa-campeão, seria por inerência, por jogar em casa, e teria que contar com uma Alemanha muito desastrada naquele dia, e uma Argentina muito condescendente amanhã no Maracanã. Imaginem um possível "twist of the tale", onde o Brasil chegava à final depois dos alemães terem consumido Guaraná marado e derreterem-se em diarreia no dia do jogo, e seriam depois os argentinos a revelar as fragilidades do "escrete", aplicando-lhes eles os 7-1 na final. Seria o "Maracanaço" elevado à milésima potência, com uma escalada no número de suicídios. Vendo bem o "povão" até devia estar agradecidos aos alemães, que tornaram esse cenário impossível. E por falar em "Maracanaço", tiro o chapéu ao jornal brasileiro Extra, que no dia seguinte ao jogo com a Alemanha deu os parabéns à selecção de 1950, que protagonizou aquele que é agora o segundo maior vexame da história da "canarinha"; é que esses mereciam ser campeões, e não o foram apenas devido a uma partida queo destino lhes pregou. Estes de 2014 já se podem dar por satisfeitos por terem chegado às meias-finais.
Voltando à reacção de Scolari à humilhação frente aos alemães, volto a dizer que o respeitei por se ter assumido como responsável máximo, e posto isto, só lhe restava anunciar a saída depois do mundial terminar. Em vez disso insistiu na "normalidade" da situação, deu a entender que não saía, e dias depois aparecia com uma estatística do seu desempenho, como ganhou mais jogos do que empatou ou perdeu, e depois disso ainda falou de um "objectivo terceiro lugar", dando o exemplo dos alemães, que em 2006, quando Scolari orientou Portugal no mundial da Alemanha, "levaram esse objectivo a sério", e que "partiram desse ponto até onde estão hoje". Até pode ser que tenha razão, mas os pragmáticos alemães estabelecem como meta ganhar um mundial daqui a 10 ou 20 anos, e os seus adeptos aguardam pacientemente, até mais, ou o tempo que for preciso. Os brasileiros não ficam convencidos com mais nada senão o título, e abaixo do primeiro, todos os outros lugares valem tanto como o último. Há quem diga que o cargo de Presidente dos Estados Unidos é o mais difícil do mundo, mas o de treinador do Brasil não lhe fica muito atrás. O destino acaba sempre por ser o desemprego: se ganha o mundial, sai porque não há mais nada para ganhar, e se não ganha sai porque não ganhou.
É preciso recuar até 1986 para encontrar o último técnico do "escrete" que fez dois mundiais seguidos: o mítico Telé Santana, o último que fez com que o Brasil jogasse "bonito". Depois só se viu qualquer coisa parecida com Romário em 94, Ronaldo depois disso, Rivaldo e Ronaldinho, ou Káká, se insistem mesmo, e a partir daí algo está podre no reino do "samba" quando Neymar é praticamente o único jogador de classe mundial. É fácil de perceber, basta olhar para a equipa a jogar, se é que se pode chamar àquilo "equipa". Num grupo daqueles, que por baixo da fina camada de folha dourada há apenas lata, não dá para fazer milagres, mas Scolari pensa que dá, que é milagreiro, e que no Brasil lhe iam extender a passadeira como fizeram em 2002 na Coreia e no Japão. Não que eu queira retirar-lhe o mérito dessa vitória, mas para além da Inglaterra nos quartos-de-final e a Alemanha na final, com quem mais jogaram para tornar o "penta" memorável? E mesmo os alemães, que encontrariam na final, chegaram ali entre dois Euros, os de 2000 e 2004, onde nem passaram da fase de grupos. Aquela de terça-feira é a verdadeira Alemanha, e não se pode dizer que Filipão tenha ficado "encantado" por conhecê-la finalmente. A de há 12 anos apareceu na final do mundial de todas arbitragens esquisitas.
O debate sobre o desempenho de Scolari à frente da selecção portuguesa durante os seis anos em que a nossa federação lhe andou a pagar um salário astronómico é frequentemente pautado por duas facções que se extremam: há os que atendendo principalmente aos resultados, vêem um trabalho bem feito, e há os que defendem que o "sargentão" chegou durante o auge de uma geração que começou finalmente a desabrochar em 2000, atingindo o pique em 2006. Eu sinto-me inclinado para qualquer coisa intermédia, mas mais para os primeiros. Reconheço que fez algo de positivo, é responsável pelas duas melhores classificações de sempre da selecção, mas faltou ganhar à Grécia na final do Euro 2004. Quer dizer, perder duas vezes com os gregos é obra, e espero que Scolari tinha ido tirar notas no ano seguinte, na Taça das Confederações que o Brasil de Parreira venceu batendo a Argentina na final por 4-1, e onde na fase de grupos bateram facilmente os helénicos por 3-0. Por outra lado achei indecente como anunciou a sua saída, em pleno Euro 2008, depois de vitórias sobre a Turquia e Rep. Checa na primeira ronda. Depois do anúncio de que iria para o Chelsea, Portugal perdeu com a Suíça e foi afastado nos quartos-de-final pela Alemanha. Abramovich já devia ter começado a desconfiar logo ali que lhe tinham ventido gato por lebre, mas só meses depois conseguiu dar conta do erro.
A sua arrogância e a interminável prepotência são outros dois traços de carácter pelos quais Scolari é tristemente conhecido. Dizer que a sua relação com a imprensa é "pouco pacífica" é o mesmo que dizer que a bomba de Hiroshima foi "uma pequena fuga de gás". Vê-lo nas conferências de imprensa chega a dar náuseas, e já nem consegue enganar ninguém, pois tem apenas três formas de responder às perguntas dos jornalistas:
1) Não responde ou pergunta o que quer que ele lhes diga, como quem diz "a sua pergunta é tão ou mais idiota que você".
2) Fica irritado e passa para o insulto fácil e reles, levantando a voz e atirando com objectos para o chão e dando murros na mesa.
ou 3) Responde, falando calma e pausadamente, como quem explica a um atrasadinho mental como se abre um pacote de bolachas.
E a imprensa ainda se vai safando com uma birra ou outra, mas o mesmo já não pode dizer o defesa sérvio Ivica Dragutinovic, que Scolari agrediu (ou tentou agredir) com um safanão uma partida de qualificação para o Euro 2008, no Estádio de Alvalade. Valeu ao senhor o "gigante" Dragutinovic se ter contido, pois caso contrário deixava-o a ver estrelas. Se calhar tinha sido melhor, que assim apanhava algumas que podia ter usado neste mundial de todas as decepções para o Brasil.
E no momento em que edito este texto, já é conhecido o resultado de Brasil-Holanda, que terminou com 3-0 para os holandeses, e mais um recorde para Scolari: o Brasil sofreu 14 golos durante o mundial, mais do que qualquer equipa desde 1986, e o pior registo de qualquer país organizador. Se depois de ter falhado também este "objectivo" ainda não quiser sair, então é mesmo burro, coitado. Devia mudar de nome para Asinino Jumentino dos Coices Burraldo.
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