Uma notícia que deixou muita gente chocada na semana passada: uma mulher de Shandong, na China, foi obrigada a abortar quando estava grávida de seis meses, tendo sido mesmo arrastada de casa pelas autoridades às quatro da madrugada, que lhe arrombaram a porta e tudo. Lin Xinwen, de 33 anos, e o marido Zhou Guoqiang já têm um filho de 4 anos, e esta segunda gravidez vai contra a política do filho único, instituída em 1980 com o intuito de reduzir as elevadíssimas taxas de natalidade na China, onde a população passou de pouco mais de 500 milhões em 1950, para quase mil milhões em 1978.
A notícia teve honras de Telejornal da RTP e tudo, e com toda a certeza que os portugueses ficaram revoltados. Esta é uma daquelas coisas que nos atinge em cheio na nossa natureza humanista, e que nos deixa a pensar que este tipo de gente é desalmada ao ponto de cometer uma monstruosidade destas. Os apologistas do pró-vida que desprezam a prática do aborto, mesmo que nas primeiras semanas de gestação, devem ter tido um chilique. E de facto pode parecer uma crueldade extrema – para nós. Na China, meus amigos, isto é o pão nosso de cada dia.
Este caso nem é tão grave ao ponto de figurar na lista dos piores naquele país. Há abortos destes e piores, crianças que são asfixiadas, afogadas e abandonadas no lixo depois do parto, mulheres esterilizadas à força, obrigadas a fugir perante a denúncia de vizinhos, e até abortos praticados depois dos sete meses, em alguns casos por vontade da própria mãe. A política do filho único só permite que um casal tenha mais que um filho se o primeiro for uma menina, e no caso de uma segunda gravidez não trouxer o rapaz que todas as famílias chinesas querem, faz-se um aborto depois de se determinar o género.
Sim, a política do filho único leva a extremos pouco compatíveis com a nossa cultura, mas é preciso não esquecer que falamos de um país com 1300 milhões de habitantes, onde a comida mal chega para toda a gente. Imaginem o que seria com 2000 ou 2500 milhões? O que mais me surpreendeu desta notícia foi…a própria notícia. O caso veio a público, mesmo além das fronteiras da própria China, a mulher foi entrevistada, manifestou o seu descontentamento e até apontou o dedo às autoridades. Informação a mais, muito suspeito. Esta não é a China a que eu estava habituado.
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