Angola anuncia fim da parceria estratégica com Portugal
Macau, 15 de Outubro de 2013.
Prezados angolanos,
Eu, abaixo assinado, Leocardo, venho por este meio despedir-me de vós, que sempre amei. É com os olhos lavados de lágrimas que me despeço, ainda descrente do destino que faz com que os nossos caminhos se separem. Hoje sois um povo diferente, porquê não sei, ou talvez sejais os mesmos, mas o calor que de vós me chegava é agora um vento gélido e distante, que me arrefece o ânimo e me paralisa os sentidos. O que correu mal?
Vou confessar algo que guardei para mim durante 25 anos, um quarto de século: o meu primeiro amor foi angolano. Nasceu em Luanda, pai português, mãe angolana, fruto da nossa secular parceria que dotou o mundo da beleza dos mestiços, que nos atrevemos a criar em conjunto. Podia ter sido uma espanhola, uma alentejana, a vizinha do lado, mas foi de África que me acendeu a chama da paixão que ainda hoje se mantém acesa, e que recordo com tanta saudade. Saudade que é nossa, paixão que é vossa, o amor que é de ambos.
Não vou vos pedir contas, aborrecer-vos com as contas da História e da política, do nosso convívio, de tudo o que partilhamos, dos tempos em que sofremos juntos ou de como sempre vos recebemos de braços abertos, pois é do coração que eu falo. Pouco importa que partilhemos a mesma língua, que tenhamos trabalhado juntos pela paz, que nos abraçassemos tantas vezes como irmãos. Vós quisestes largar-nos a mão e não nos resta senão aceder. Segui pelo vosso caminho, e nós pelo nosso. Uma despedida tão fria e crua dói, mas as feridas saram, e ficarão apenas as cicatrizes.
Não vos vou odiar. Não guardo qualquer tipo de ressentimento. Vou continuar a adorar a vossa muamba, a vossa kizomba e o vosso kuduro, as vossas mulatas, a alegria que é de ambos, cada um no seu tom. Vou torcer secretamente pelas nossas selecções de hóquei em patins e de futebol. Aindo lamento não termos passado os dois naquele grupo do mundial da Alemanha em 2006, de mãos dadas como os irmãos que somos. Ainda vou gostar mais de vocês que os nossos outros irmãos, os moçambicanos, pois partilhamos o mesmo mar, o imenso atlântico. E sei que vocês sentem, como filhos de boa gente. Para vós seremos sempre aqueles "pulas" com quem partilham um passado e têm uma cumplicidade sem paralelo.
Ficai com as vossas riquezas afogai-vos com o vosso petróleo, vivei com a ilusão de que sóis uma nação de gente grande que se pode dar ao luxo de virar as costas a um irmão. Continuai a acreditar na vossa nomenclatura, no vosso presidente vitalício, da sua filha bilionária, da vossa democracia de cartão. Desculpa, Bonga, desculpa, Raúl Indipwo, onde quer que estejas, perdoa-me Rui Jordão, o meu primeiro herói dos pontapés na bola. Os meus amigos angolanos vão continuar a ser meus amigos, ponto final. Adeus, Angola.
Leocardo
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