segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Conta-me outra


A TDM começou a transmitir aos Domingos a série "Conta-me História", uma produção da RTP com a participação do humorista José Luís Borges e um tal de Fernando Casqueira. Nunca tinha ouvido falar deste Fernando Casqueira, e uma pesquisa na net também não me ajudou a saber muito mais, a não ser que se trata aparentemente de um professor universitário, da área da História, arrisco um palpite, e que leciona na Universiade Lusíada. A sua aparência de vaqueiro veterano, aquele casaco, aquele chapéu, lembram-me alguém, mas quem? Deixa-me pensar, deixa-me pensar...ah, já sei! "Vamos brindar/com verde vinho que é do meu Portugal/e o vinho verde me fará recordar/aquela aldeia que deixei, ao pé do mar". Isso mesmo!

A série tem um carácter educativo, e isso sauda-se, pois fazem falta programas sobre História, e o desaparecimento do grande prof. José Hermano Saraiva deixou um enorme vazio, que muito dificilmente se preencherá. E não vai ser com programas deste calibre que vão lá, deixem-me dizer. A ideia é boa, o conteúdo é razoável - é História, tem um pendor de oficial - mas o que estraga tudo são os dois personagens: um velho sábio (Casqueira), e um jovem com idade para ser seu filho (Borges), que viajam pelo país e discutem os factos da História de Portugal, cujos episódios são recriados para o programa. Vendo bem essa até é melhor parte, e a mais bem conseguida.

O problema é que o personagem do professor é arrogante, e a do seu jovem companheiro é idiota. Casqueira fala de História como se tivesse todos os factos dos últimos mil anos na ponta da língua, e Borges responde com comentários despropositados ou piadolas sem graça. O mestre explica um evento da nossa História, e Borges manda bocas ridículas. Um bom exemplo é aquele que vimos no clip da TDM: Casqueira explica o mito do sebastianismo, e Borges comenta "olha, eu acho que o D. Sebastião está vivo, o Elvis também, e se calhar são amigos", e o professor reage com um risinho mordaz e diz "se calhar até são eh, eh", quando o mais indicado seria "cala a boca, palerma!" Desconfio que esta interação entre o homem maduro e literado e o pateta com boina preta ao contrário e barbicha de D. Quixote é algum comentário irónico ao desinteresse dos jovens pela ciência que estuda o passado e explica as nossas origens. Não vai ser com esta oratória do "escuta lá e não sejas parvinho" que se vão passar a interessar.

Fernando Casqueira é, como já disse, um complete desconhecido, pelo menos para mim. Confesso a minha ignorância se por acaso se trata de alguma figura ilustre e respeitada, mas naquela indumentária e com aqueles modos duvido muito que seja. José Luís Borges é um humorista reconhecido, que conhecemos principalmente do programa "Cinco para a meia-noite", onde é o apresentador das segundas-feiras, e não precisava de se sujeitar a isto. Compreendia-se se fosse um aspirante a comediante, mas se o José Luís Borges é uma pessoa remotamente inteligente, deve custar-lhe fazer aquele personagem e dizer aqueles disparates. Se já tinhamos saudades do grande José Hermano Saraiva, depois disto ficamos com ainda mais. Pessoalmente este "Conta-me História" é um insulto à sua memória. Ou se calhar "é mesmo assim", não sei, que o programa é um suceso e eu é que estou desactualizado. E prefiro continuar assim, obrigado.

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