segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Um homem não é uma ilha - mas às vezes é


Parece que está aí a dar que falar a ambição da Escócia em tornar-se totalmente independente, colocando assim um fim à ligação com o Reino Unido - isto apesar do elevado grau de autonomia de que gozam (onde é que eu já ouvi isto). No entanto parece que os "Macs" têm encontrado alguns obstáculos difíceis de ultrapassar nesta sua (legítima) ambição, uma vez que de Londres já chegaram sinais de que se é a independência que querem, não contem com a libra esterlina como moeda, e de Bruxelas veio o recado de que a Escócia independente não será automaticamente membro de pleno direito da União Europeia. Entretanto tem circulado a este propósito este "slogan" que tem aparecido em cartazes, autocolantes, camisolas e tudo mais: "Scottish not British", ou seja, "escocês e não britânico". Eu até não tenho nada contra a independência dos ruivinhos de saiote, até porque foram referendar a coisa e maioria quer saír do Reino Unido, mas nada disto serve de desculpa para tamanha ignorância - é que façam o que fizerem, NUNCA deixarão de ser britânicos.

Isto é o que dá quando se confunde política com geografia, quem pensa que "geopolítica" é uma combinação das duas, saiba que não é bem assim. Faz-se muita confusão sobre a diferença entre o Reino Unido e a Grã-Bretanha, e há mesmo quem diga que é "a mesma coisa". Ora bem, se fosse "a mesma coisa", não existiria a necessidade de lhe dar nomes diferentes, pois não? Perceber esta diferença é muito fácil, e aprende-se nos bancos da escola. Um britânico é, como o nome indica, um originário das ilhas britânica. Ilhas, plural, o que indica que existem várias, sendo a maior delas a Grã-Bretanha, que inclui os territórios da Inglaterra, País de Gales, e ainda a Escócia, localizada nas terras altas dessa grande ilha. Mesmo que façam muita força todos juntos, os escoceses não vão conseguir arrancar a sua terra da Grã-Bretanha. Já o Reino Unido inclui as ilhas britânicas, contendo os países que mencionei, e ainda a Irlanda do Norte, uma pequena parte de outra ilha, a Irlanda, que se encontra ocupada pelos "bifes", dando origem a todos aqueles problemas que são bem conhecidos de todos. Basta olhar para o passaporte de qualquer bife e ler na capa: "United Kingdom of Great-Britain and Northern Ireland" - Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte.

Portanto resumindo é assim: a Escócia fica situada nas Ilhas Britânicas, mais precisamente na Grã-Bretanha, e quem lá nasça será sempre britânico. Até podem obter a independência de Londres, mas continuam a ser britânicos, o que não tem nada de mal, uma vez que a coitadinha da ilha não tem nada a ver com os gajos mauzões que estão lá em Londres. Os galeses, ingleses e escoceses são todos britânicos, assim como os naturais da Ilha de Man, e dos bailiados de Jersey e Guernsey (que é composto por três ilhas), junto da costa francesa, também conhecidas por "Channel islands", ou "ilhas do Canal da Mancha". Os naturais da Irlanda do Norte não são britânicos, mas sim irlandeses, tal como os naturais da República da Irlanda. "Irlandês" designa alguém da ilha da Irlanda, que é portanto outra ilha não relacionada com as ilhas britânicas. Caso um dia os sacanas do bifes devolvam a Irlanda do Norte a quem lhe pertence por direito, os seus residentes deixarão de fazer parte do Reino Unido - que assim passaria apenas a chamar-se "Reino Unido da Grã-Bretanha - e serão apenas aquilo que sempre foram: irlandeses.

Dizer "sou escocês, não sou britânico" faz tanto sentido como dizer "sou francês, não sou europeu". Trasnportando isto para uma realidade aqui próxima, seria como um alguém de Taiwan dizer "sou taiwanês, não sou chinês" - e nem o mais convicto partidário da independêcia da ilha nacionalista diria tal coisa. Aliás a definição de "chinês" ultrapassou a definição geográfica (China deriva do sânscrito "Cina", ou "o povo dos Qin"), e passou a ter uma pendente étnica. A enorme diáspora chinesa em todo o mundo considera-se sempre chinesa, mesmo que tenha nascido nos Estados Unidos, em Portugal ou na Austrália. Mesmo um nigeriano, um sul-africano ou um egípcio são africanos, para todos os efeitos, e pouco importa o detalhe da côr da pele. Portanto, amigos de Edimburgo, nada de mal em ser britânico, como sempre foram e sempre serão. Boa sorte com isso da independência, e bem precisam, e não sejam tão..."edimburros".

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