sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Os sons dos 80: música "irópita"


A primeira vez que ouvir desta expressão, "música irópita", foi de um colega e trabalho, um homem do norte (só podia ser...). Quando lhe perguntei que palavra era essa, "irópita", que não constava do meu vocabulário, explicou-me: "então...música irópita é música para ir ao pito". Foi assim, mas com sotaque do José Estebes. Fique completamente esclarecido, e penso que não é preciso especificar do que se trata esta música...erm, "irópita". No fundo é aquele tipo de música que tem por finalidade criar um ambiente romântico, com melodia fácil, letra que não leve a puxar muito pela cabeça, e ah sim, e já agora que não distraia. Os anos 80 foram férteis neste tipo de canções, mas quando chegámos ao último dia de 1989 eu tinha apenas 15 anos, foi preciso esperar mais algum tempo para poder usufruír delas na sua plenitude. Mesmo assim foram muitas as festas, bailes, matinés e outros "rendez-vous" feitos à medida dos adolescentes onde se podia dançar ao som destes temas chochinhos, de rosto colado ou com a cabeça no ombro do parceiro. Como hoje é Dia dos Namorados, vou recordar aqui um pouco do melhor que se fez na década de 80 em matéria de música "irópita", para gaúdio dos valentinos e clementinas.


A década não podia começar melhor para os passarinhos apaixonados, pois logo em 1980 tivemos este "Reality", de um tal Richard Sanderson, que incidentalmente fazia parte da trilha sonora do filme "La Boum 2", que contava com uma Sophie Marceau ainda adolescente. É difícil de perceber o que fazia uma canção inglesa de um artista britânico num filme francês, mas talvez o facto da mãe do cantor ser francesa possa ter alguma coisa a ver com isso - sinceramente não sei. A verdade é que Sanderson teve uma carreira bem discreta depois disto, mas "Reality" foi nº 1 em quinze países, e vendeu mais de oito milhões de cópias na Europa e na Ásia. E quase que me arrisco a dizer, foi responsável por muita pouca vergonha durante boa parte dos anos 80.


Esta penso que será também uma escolha consensual para integrar esta lista. Chris de Burgh é um personagem interessante, com uma vasta discografia, se bem que pouco divulgada. Nasceu na Argentina, filho de um diplomata britânico e uma mãe irlandesa. O seu avô materno era Eric De Burgh, que foi chefe da guarnição britânica na India durante a II Guerra Mundial. Ainda jovem, a família foi viver para a Irlanda, num castelo, onde Chris entretia os convidados ao piano. Originalmente o seu apelido é Davidson, mas quando começou a carreira artística adoptou o De Burgh do lado da mãe. "Lady in Red" é de longe a sua canção mais conhecida, que em 1986 lhe valeu o nº 1 do top de vendas do Reino Unido e de vários outros países. A propósito da composição do tema, De Burgh diz que se inspirou na primeira vez que viu a sua mulher Diane. Querem algo mais lamechas que isto?


Este dia vem mesmo a calhar, pois queria inserir os Europe nesta rubrica dedicada aos anos 80, mas não sabia como. O grupo sueco de "glam-rock" (pelo menos de aparência...) liderado por Joey Tempest saltou do anonimato para o mega-estrelato com o tema "The Final Countdown", do álbum de 1986 com o mesmo nome, que foi nº 1 em 25 países, incluíndo o Reino Unido. O terceiro single desse longa-duração foi este "Carrie", um tema com uma elevada carga "irópita", e que curiosamente chegou da nº 3 da Billboard, enquanto "The Final Countdown" não passaria de um modesto nº 8. Dizia-se muita coisa sobre esta canção, que a tal Carrie era uma namorada de Tempest que tinha morrido, ou de acidente ou de "overdose", mas nada de definitivo. Suspeito que o líder dos Europe escreveu a canção "porque sim". E precisa de mais alguma razão?


Ah, o Verão de 1988, tantas memórias. As rejeições, as "tampas", a masturbação excessiva...como era bom ter 13 anos. Bem, uma das canções desse ano foi este "Oh Patti (Don't Feel Sorry for Loverboy)", dos britânicos Scritti Politti, uma banda discreta, mas que por incrível que pareça foi criada em 1977 e ainda se encontra no activo. "Oh Patti", como era conhecida na sua forma abreviada, garantiu-lhes o único top-20 no seu país natal, chegando ao nº 13.


É melhor sairem da frente do ecrã, que o "irópitómetro" está prestes a rebentar. Glenn Medeiros, um músico norte-americano de ascendência portuguesa nascido no Hawaii, obteve no Verão de 1988 um sucesso estrondoso com "Nothing's Gonna Change my Love for You", um original de George Benson incluído no seu álbum de estreia, que lançou com apenas 17 anos! E tem ascendência portuguesa! A partir daí não fez mais nada digno de registo (e mesmo o melhor que fez foi cantar um tema previamente gravado por outro artista), mas a "brincadeira" levou-o ao nº 1 do top do Reino Unido, e de muitos outros países, chegando também à liderança do Eurochart. Nada mau para um músico de ascendência portuguesa. É impossível falar de música para fazer bebés no contexto dos anos 80 sem incluír este êxito de Glenn Medeiros, que basta colocar no sistema de som, e podem-se dispensar os preliminares. E já vos disse que o rapaz tem ascendência portuguesa?


E para completar este ramalhete de S. Valentim, aqui está um favorito das senhoras: Richard Marx e o seu "Right Here Waiting". Não há nada que uma mulher goste mais de ouvir de um gajo que ele está ali à espera dela, como um bom cãozinho. O tema é o segundo single do álbum "Repeat Offender", de 1989, e foi o maior sucesso de Richard Marx, atingindo o nº 1 da Billboard e o nº 2 da tabela de singles no Reino Unido. E para não dizerem que eu não ponho empenho nisto, até deixei aqui um vídeo legendado em Português (do Brasil). Feliz Dia de S. Valentim!

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