segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Lágrimas


Mario Balotelli, avançado internacional italiano actualmente ao serviço do AC Milan, foi substituído na partida do último Sábado no Estádio de San Paolo, em Nápoles, onde os "rossoneri" perderam por três bolas a uma. Balotelli deu o seu lugar a Giampaolo Pazzini aos 73 minutos, numa altura em que a sua equipa perdia por 1-2, sentou-se no banco e desatou a chorar. Inicialmente levantaram-se suspeitas de que os adeptos napolitanos estariam a entoar cânticos racistas - quem segue o futebol de perto sabe que a aparência pouco italiana de Balotelli se deve ao facto de ser adoptado, e os seus pais biológicos serem originários do Gana. Mas apesar de Nápoles ser a cidade da Camorra onde o lixo fica meses sem ser recolhido, não há provas de que efectivamente o jogador tenha sido vítima de racismo. Então porque chorou o matulão?

Na conferência de imprensa após o jogo, o treinador milanês Clarence Seedorf, antiga glória do clube que substituíu no cargo Massimiliano Allegri, despedido a 13 de Janeiro, explicou porque chorava Balotelli. Aparentemente o rapaz anda frustrado com o seu desempenho durante o jogo de Sábado, e como "profissional que é e sente a camisola que veste", converteu a frustração em lágrimas. O AC Milan adiantou-se no marcador logo aos sete minutos com um golo do marroquino Adel Taarabt, mas permitiu o empate ainda antes do descanso, e aos 56 minutos ficariam em situação de desvantagem. Balotelli estava em dia não, e a sua pujança de afro-italiano esbarrava no sangue quente latino da dupla de centrais do Nápoles, composta pelo espanhol Raúl Albiol e o argentino Federico Fernandez. Mais deve ter chorado ainda quando do banco assistiu ao terceiro golo do adversário, apontado pelo igualmente argentino Gonzalo Higuaín, que bisou nessa noite. Estranha esta atração dos napolitanos por jogadores argentinos. Tango mucho?


Falemos primeiro da actual situação do AC Milan, a equipa italiana com mais sucesso a nível internacional, tendo no seu currículo sete títulos de campeão europeu, quer na extinta Taça dos Campeões, quer na actual Liga dos Campeões, que já venceu este século em duas ocasiões, em 2003 e 2007, ambas sob o comando de Carlo Ancelotti. A nível interno conquistaram 18 campeonatos, tantos como os rivais milaneses do Inter e menos onze que a Juventus. Actualmente ocupam um modesto 10º lugar na Serie A, a 31 pontos (!) dos juventinos, que lideram destacados, e a 18 pontos do seu adversário de Sábado, que ocupa o 3º lugar que dá acesso à última vaga na Liga dos Campeões do próximo ano. Nesta edição os "rossoneri" continuam em prova, e enfrentam os espanhóis nos oitavos-de-final já no próximo dia 20, mas estão longe de serem considerados favoritos pelos "bookers" a levantar pela oitava vez o troféu. Talvez a decadência do AC Milan tenha qualquer coisa a ver com a decadência do seu proprietário e presidente, o ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi. Nunca se sabe, pois na Itália tudo é possível.

Balotelli é um dos jogadores com mais "pedigree" do actual plantel do AC Milan, de onde constam alguns "renegados", como são os casos dos brasileiros Robinho e Káká, o ganês Mickael Essien ou o japonês Keisuke Honda. Com 23 anos e uma carreira inteira pela frente, Balotelli ainda tem muito para dar ao futebol, mas apesar da tenra idade, tem um historial que se pode considerar no mínimo...excessivo. Os italianos não esquecem os dois golos que marcou à Alemanha nas meias-finais do Euro 2012, que lhe valeram a alcunha de Super-Mario, ou as suas lágrimas após a derrota da "squadra azzurra" na final por 4-0 frente à Espanha - mais lágrimas de frustração. Quem também ficou frustrado foi o seu compatriota Roberto Mancini, que trabalhou com ele dois anos no Manchester City, e a quem a sua conduta errática levou também às lágrimas. Quem deve ter chorado, e muito, foi a sua ex-namorada Rafaella Fico, que há um ano deu à luz uma menina de nome Pia, e a que Balotelli se recusou assumir a paternidade. Agora após um teste de ADN, ficou provado que é ele realmente o pai. Será por isso que choras, rapazola?

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