terça-feira, 8 de outubro de 2013

Não batam mais nos ceguinhos


A FIRS, Federação Internacional de "Roller Skating", responsável máxima pelas competições internacionais de hóquei em patins, emitiu ontem uma circular que pode ser considerada estranha, no mínimo. O presidente do organismo, o alemão Harro Stucksberg, apela ao "fair-play" durante o mundial de sub-20 que se realiza desde Domingo na Colômbia. Parece boa ideia, mas a que tipo de "fair-play" este responsável se refere? Às "cabazadas" que algumas selecções têm aplicado a outra mais fracas.

Na missiva, escrita num inglês deplorável, Stucksberg lamenta alguns resultados demasiado volumosos, dando o exemplo da goleada da Itália frente à estreante Costa Rica por 40-0. Outros resultados volumosos incluem as partidas da India (1-35 c/ Argentina e 1-26 c/ França) e os Estados Unidos (0-19 c/ Chile e 0-17 c/ Itália), isto para não falar do caso de Macau, que sofreu 37 golos nos primeiros três jogos. O presidente da FIRS recorda aí que o "goal-average" só conta no caso de três equipas terminaram com o mesmo número de pontos, ao mesmo tempo que desencoraja a organização colombiana a atribuir prémios de melhor marcador ou de melhor jogador. Mas porquê?

Os costa-riquenhos estream-se em mundiais, e na verdade é a primeira vez que oiço falar de uma equipa de hóquei em patins da Costa Rica. A missiva terá sido levada a sério, pelo menos pela selecção chilena, que venceu "só" por 6-0 a equipa que a Itália tinha brindado com 40 golos. Se por um lado um resultado de 40-0 pode parecer desmotivador para uma equipa, principalmente uma equipa jovem e estreante, será que ajuda se os adversários forem "bonzinhos"? Aprendem alguma coisa assim, ou evoluem? Vão-se sentir melhor saber que perderam por dez ou doze, sabendo que podiam ter perdido por trinta ou quarenta?

O hóquei em patins é uma modalidade muito querida para nós, portugueses, mas infelizmente pouco praticada no resto do mundo. Além de Portugal, apenas a Espanha, Argentina e Itália têm possibilidades realísticas de competir pelo primeiro lugar de um mundial, e apenas pontualmente outro país atinge um lugar do pódio, dependendo de como pode ou não surpreender um destes quatro que referi. A diferença de qualidade entre as equipas fortes e medianas mede-se em resultados expressivos; se os mais fortes conseguem por vezes golear equipas de nível médio, contra as equipas mais fracas ou com menos pergaminhos neste desporto, o fosso acentua-se, obviamente.

Um campeonato mundial é uma competição de alto nível, seja qual for o desporto de que estamos a falar. No hóquei em patins chega a ser difícil conseguir um lote de vinte países com condições desportivas para disputar o torneio, e por vezes, como neste caso, chegam a ser convidadas selecções sem condições para fazer melhor do que server de "saco de pancada", sem passar por nenhum tipo de qualificação ou outra triagem. Compreenda-se que compitam selecções onde não existe sequer um campeonato interno, e/ou que a equipa tenha sido improvisada, seja demasiado jovem ou inexperiente, mas dar-lhes a ilusão que "não são assim tão maus" não os ajudar a melhorar. Assim mais vale nem sequer fazer o mundial.

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