O programa TDM Talk Show da última quinta-feira, teve como convidada Eileen Stow, proprietária da pastelaria e café “Lord Stow’s”, junto do Largo General Ramalho Eanes, na vila de Coloane. Eileen veio para o território em 1993 a convite do seu irmão, o já desaparecido Andrew Stow, criador das célebres “Portuguese egg tarts”, uma sobremesa inspirada nos “nossos” pastéis de Belém. Inspirados sim, nunca imitados, e este foi deixado bem claro por Eileen Stow, que na meia-hora de conversa com José Carlos Matias, tranbordava classe, elegância, educação, saber-estar, enfim, nem sei porque não convidam mais gente como ela para aparecer no Canal Macau. Uma “lady” que aos 58 anos, como a própria referiu, é verdadeiramente educadora. E está muito bem conservada para a idade.
Eileen explicou como apareceram as “egg tarts”, uma criacção do seu irmão, que usou três ou quatro técnicas que aprendeu com os seus mestres, e inventou um pequeno “Frankenstein” da pastelaria, que goza de grande popularidade na região. Depois de ficarmos a saber mais um pouco da história e da composição do produto, contou-nos um pouco do que é gerir uma empresa como a sua, e elogiou a localização, em Coloane, longe da confusão que Macau se vai tornando cada vez mais. O ar puro, claro, é uma das vantagens, e por isso Eileen apelou ao Governo que pensasse bem antes de deixar a mancha da construção civil entrar pela ilha. O seu apelo certamente cairá em saco roto, mas apraz-me saber que pelo menos ela pensa assim, e sem qualquer tipo de hipocrisia, pois é ali o seu negócio e isto diz-lhe directamente respeito. Fico a gostar ainda mais dela.
E como empresária falou de negócios, claro, e de como é cada vez mais complicado às pequenas e médias-empresas, como a dela (mesmo que muito lucrativa, continua a ser uma empresa média), recrutar pessoal suficiente para garantir a manutenção das operações. No seu caso, disse como é difícil pensar em expandir o seu projecto, uma vez que encontra obstáculos na contratação de trabalhadores não-residentes, e não é fácil encontrar locais dispostos a ganhar o que uma empresa daquela dimensão pode pagar, e ainda por cima ter que se deslocar diariamente a Coloane, com as implicações do tempo e do preço do transporte. Uma questão pertinente, que é preciso considerar antes que um dia os clientes cheguem a Macau, que se quer uma cidade de turismo internacional, e os pequenos comerciantes lhes digam: “desculpem mas no vos vamos poder servir; temos falta de pessoal”. Um exemplo dado pela própria entrevistada.
Ainda a propósito de serviço, Eileen falou da falta de qualidade do mesmo, muito pouco para quem apostar no crescimento de visitantes vindos de outros mercados que não a China. Contou como por vezes entra numa loja e os empregados dão risadinhas ficam intimidados, em vez de se dirigirem a ela e lhes perguntarem “o que deseja”. E é tal e qual como Eileen Stow diz. O serviço aqui é por vezes anedótico, especialmente quando se trata de ocidentais. Chego a entrar numa loja de roupa qualquer e metade dos empregados foge de mim, como se tivesse chegado a peste. Não dominam o inglês e por isso querem evitar embaraços, mas assim nunca vão aprender e acabam por não servir para nada. E o pior é que isto se nota sobretudo nos mais jovens. No McDonald’s, por exemplo, quando chega a minha vez de ser atentido a caixa é sempre um/uma jovem que em vez de me servir pede a um colega que o substitua. Quer dizer, nem o nome em inglês daquelas porcarias que passa o dia todo a vender eles sabem?
Eileen Stow, com quem passei o “reveillon” de 2003 num restaurante da Praia Grande (“Mel on the bend”? Qualquer coisa assim…) onde já me havia inteirado do seu charme e simpatia, é o que faz falta em Macau: empresários a sério. Em Macau temos os da construção, do imobiliário, do jogo e de todas as outras indústrias lucrativas, que são o que se sabe, e do outro lado temos os mais pequenos a oscilar com a falta de trabalhadores, e a incompreensível alergia aos não-residentes. É como se tivessemos a Superliga e a segunda divisão das empresas no território, com o Governo a estimular os mais fortes e a fazer a vida difícil aos pequeninos. Se não estimulamos a vinda de empresários como Eileen Stow, então aí vamos perder o desafio. Em vez de “cidade internacional” passamos a ser apenas mais uma na China.
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