terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Listas e pintas (negras)



1) Foi com enorme satisfação que dei conta do regresso do meu camarada José Rocha Dinis à sua rubrica de opinião das segundas-feiras no Telejornal da TDM, e por duas razões, além da mais óbvia (as saudades): primeiro porque regressou de férias com um óptimo aspecto, e a juntar a isso demonstrando um entusiasmo a toda a prova quanto ao desempenho do novo elenco governativo para os próximos cinco anos - claro que todos gostariamos de partilhar do seu optimismo, para o bem de Macau, é lógico. Mas como contraponto à forma arrojada com que o secretário Alexis Tam abordou a questão da saúde no território (mesmo sem ter avançado com alguma medida prática, note-se), temos a infame questão da "lista negra", uma hipotética lista contendo o nome de pessoas consideradas "indesejáveis" em Macau, e que uma vez chegadas a um posto fronteiriço da RAEM é-lhes negada a entrada, alegando "razões de segurança interna. Rocha Dinis mantém o que já disse antes em relação a este assunto, e que dificilmente alguém poderá refutar: no que toca à segurança, o segredo é a alma do negócio. No entanto não partilho tanto da visão alarmista de que basta uma pequena falha para colocar em risco a estabilidade. Bem, isso poderia ser um pretexto para justificar algum excesso de zelo, mas nada justifica impedir a entrada a um bebé de um ano pelas razões que foram depois feitas públicas - se até Chui Sai On se desculpou, não terá sido por um trabalho bem feito, com toda a certeza. Será que estamos na presença do rigor acima de qualquer bom senso? O barista a quem pedimos para encher a taça, mas é preciso acrescentar para não deixar transbordar e molhar a mesa toda? A favor das Forças de Segurança podemos alegar a solenidade da visita do presidente chinês, para mais depois de um ano que não foi nada fácil quer para ele, que para o Governo Central no seu todo. Podemos ainda alegar os reais motivos que levaram ao território exactamente nesta ocasião figuras que provavelmente sabiam que iam encontrar obstáculos à sua entrada, e se era apenas um teste, correu-lhes à mil maravilhas: conseguiram o que pretendiam. Não há que negar no entanto a falta de tacto com que se tem tratado este problema, pois os critérios utilizados são um mistério: quem pode ser impedido de entrar? Por ter feito o quê, exactamente? Que "perigo" representam estas pessoas, concretamente? Esclarecer estas simples dúvidas não iria pôr em risco a segurança - antes pelo contrário, ao insistir nesta conduta do "porque sim" fomenta-se a insatisfação e a desconfiança junto da opinião pública, pelo menos. Mesmo não sendo de todo inocente o motivo que levaria e deputada Emily Lau a Macau durante a visita de Xi Jingping, não nos resta senão concordar com ela quando coloca em causa a validade do segundo sistema. E de que forma tão pouco discreta, permita-me acrescentar. Quando o meu caro Rocha Dinis levanta dúvidas quanto à existência ou não da tal lista negra, uma vez que, segundo ele, foi dito pelas FS que tal lista "não existia", deixe-me que lhe diga, a bem ou a mal, espero bem que exista. Caso contrário o que mais poderia ter levado as autoridades a tomar medidas desta natureza? Se é bem feita ou mal feita, ou se lhe dão outro nome, isso já é outra conversa, mas para nosso bem espero mesmo que a tal lista seja real. Livra!



2) Passando agora de listas para pintas, e igualmente negras, falemos dos pandas. Sempre atento às movimentações da "reaça", o camarada Leocardo Matos chamou-me a atenção para o artigo de opinião do Ponto Final de hoje, assinado por Sandra Lobo Pimentel, intitulado A Culpa não é dos Pandas. Não entendo o porquê desta chamada de atenção, pois desconheço a autora deste texto, e é para mim uma completa novidade (aprendi este truque com eles...com "eles", sabem?). No entanto parece-me agora pertinente levantar esta questão da acomodação dos simpáticos mamíferos oferecidos pelo Governo Central por altura do 10º aniversário da RAEM, e uma vez que um deles não resistiu à emoção que é viver na economia com o quarto maior PIB per capita do mundo, vai chegar agora um outro, fresquinho, para o substituir. Ao contrário da Sandra, não fui ver os pandas do parque de Seac Pai Van, e se "ver pandas" é um "must" como experiênica de vida, já vi os do Ocean Park de Hong Kong há uns dez anos - não me impressionaram, e quem vem dois ou três, vê todos. Mas claro que só posso concordar com a ideia de que os animais não têm a culpa de viver em condições muito melhores do que a maioria da população de Macau, com um conforto que muitos apenas podem sonhar. Postas as coisas nestes termos, não se gastaria um centavo que fosse em quase nada, pois haveria sempre alguém a chamar a atenção para este e aquele problema mais urgente, e enquanto houver um triste qualquer que não tenha onde cair morto, ficamos de pernas e braços atados. O que penso que a mensagem que aqueles que responderam ao inquérito quiseram fazer passar não foi tanto a de antipatia pelos pandas, mas pelo ridículo que constitui viver num território onde - e como a Sandra referiu, e bem - os lucros dos casinos ainda são chorudos, mesmo com a tal acentuada quebra, em piores condições que um par de ursídeos. Isso é algo que pode custar a alguns aceitar, enfim, entende-se. Ah pois, e prazer em conhecê-la, também.

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