As Filipinas estão ao rubro com a visita do Papa Francisco, a primeira em 20 anos de um sumo-pontífice ao único país asiático com uma população de maioria católica, e o terceiro do mundo com mais fiéis à Igreja romana, depois do Brasil e do México. A última vez que um Papa visitou este país do Sudeste Asiático foi em 1994, e na altura João Paulo II viu-se obrigado a ser retirado de helicóptero do meio de uma multidão em êxtase. O argentino que agora ocupa o trono que alegadamente pertenceu a Pedro, discípulo de Jesus, chegou ontem a Manila, e passou o dia de hoje a reunir-se com personalidades do Governo e da Igreja Católica. O país é tão crente quanto pobre, e a visita de Francisco está a ser rodeada de fortes medidas de segurança - no início da semana correu nas redes sociais uma notícia que nos dava conta do recurso a fraldas para adulto para atender às "necessidades" do pessoal encarregado da segurança do Papa. Bem menos humorada é outra notícia, que nos conta como foi feita uma certa "limpeza" à capital do país, Manila.
Centenas de crianças de rua foram recolhidas pelas autoridades nas semanas que antecederam a chegada do sumo-pontífice, algumas delas com cinco anos ou menos de idade. Rapazes e raparigas, pedintes, orfãos, abandonados pelos pais ou à mercê dos "gangues" criminosos que lhes encomendam pequenas tarefas que lhes vão garantindo a sobrevivência, foram levadas para orfanatos e centros de detenção sem condições, onde são obrigadas a dormir no chão, de onde apanham restos de comida, ou simplesmente passam fome. É comum serem agredidas e violentadas, ou como numa das imagens que vemos em cima, são acorrentadas a um poste para não conseguirem fugir. Estima-se que 20 mil crianças estejam detidas em apenas 17 (!) destes centros, e onde falta espaço, algumas são encarceradas em celas comuns em penitenciárias, juntamente com reclusos adultos, que se aproveitam da sua vulnerabilidade para as violar. A maioria das crianças foram estrategicamente removidas de áreas por onde o Papa Francisco vai passar, e uma assistente social do distrito de Pasay justificou a acção como "preventiva", alegando o aproveitamento que certos grupos de mendicidade organizado farão da visita do Papa, "sabendo que ele se comove com crianças pobres" - argumento frágil, uma vez que dificilmente se justificam estas imagens, bem como os testemunhos das próprias crianças: uma delas, de apenas 11 anos, diz ter sido recolhida 59 vezes, e sempre devolvida às ruas. Quando o Papa Francisco rezar missa para seis milhões de fiéis no Parque Rizal este Domingo, momento alto da sua peregrinação ao arquipélago que Fernão de Magalhães ajudou a evangelizar, há muito lixo que foi varrido para debaixo do tapete que não vai poder ver.
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