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Macau acordou incrédulo: a Polícia Judiciária desmantelou ontem à noite uma rede de prostituição que operava há um ano no Hotel Lisboa, detendo 96 prostitutas e seis funcionários do hotel, suspeitos de lenocínio. Segundo o que a PJ conseguiu apurar, a rede controlava cerca de uma centena de quartos do Hotel Lisboa, e para as jovens poderem exercer a sua profissão pagavam uma "jóia" de 200 mil patacas, e uma taxa mensal de 10 mil, chamada de "protecção". Uma vez saldada esta conta, podiam guardar o dinheiro que fizessem, que varia entre os 1500 e os 5000 dólares de Hong Kong por dia. A rede terá obtido lucros na ordem dos 400 milhões de patacas no último ano. As mulheres detidas têm entre 20 e 27 anos e são quase todas originárias da China continental. A rede fazia o recrutamento através da internet, e a polícia encontrou uma base de dados contendo informações sobre 2400 mulheres, que terão feito parte do esquema. As investigações decorrem desde Abril último, quando as autoridades receberam uma denúncia.
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Um dos suspeitos detidos é nem mais que Alan Ho Ion Long, sobrinho de Stanley Ho, e um dos empresários mais bem sucedidos da região. A notícia caíu que nem uma bomba na imprensa regional, merecendo grande destaque em jornais locais em língua chinesa, de Hong Kong, e do continente. Alan Ho nasceu há 68 anos em Londres; licenciado em Gestão de Empresas nos Estados Unidos em 1971, deu aulas na Universidade Chinesa de Hong Kong entre 1979 e 1985, altura em que foi estudar Direito para a conceituada Universidade de Harvard. Exerceu advocacia até 1991, e pouco depois juntou-se à STDM como administrador. O seu envolvimento nesta rede é ainda uma incógnita, e a medida de coacção a lhe ser aplicada depende ainda do testemunho de outros suspeitos, mas a imagem do magnata algemado enquanto é levado pelas autoridades é forte, e dá azo a forte especulação sobre a situação do clã Ho, e conhecendo o que a casa gasta, a pergunta que muita gente faz neste momento é: "qual foi a cauda comprida que andaram a pisar"?
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Todos sabemos o que se passa nos corredores do Hotel Lisboa, vai para alguns anos. Quem visita hoje aquela que foi a menina-dos-olhos de Stanley Ho fica surpreendido com o que se veio a tornar após a transferência de soberania - só alguém muito ingénuo vai pensar que as belas jovens que se passeiam um pouco por todo o espaço comercial entre a "coffee shop" e o casino estão ali a vender cosméticos. O comentador José Rocha Dinis falou hoje no Telejornal da TDM de "iniciativa privada", comentário que se pode interpretar como alguma surpresa pelas ramificações deste negócio. É lógico que nunca se poderia tratar de "prostituição voluntária", e teria sempre que haver alguém com ligações ao submundo do crime a lucrar com esta "actividade", que muitos consideraram paralela ao próprio jogo. O que me deixa surpreso a mim, ao director do JTM e muito boa gente é quem se encontra agora sob suspeita, e especialmente porquê - esta é uma daquelas coisas que, sendo ilegais, são normalmente "olhadas de lado", desde que não se cometa excessos ou se verifiquem actividades paralelas mais graves. Resta aguardar agora pelos desenvolvimentos futuros, e que impacto poderão ter quer na SJM em particular, quer na indústria do jogo em geral.
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