Às vezes dá-me a ideia de estar a viver numa dimensão paralela à das leis, à dos homens de bem, os justos, os que cumprem, respeitam-se mutuamente e respeitam os compromissos que assumem. Agora, se há algo de errado com as regras que deixamos escritas na forma de leis, ou seja, a expressão máxima do Direito, essa será questão que requer um debate abrangente, alargado à sociedade civil, e sem nunca dispensar a monitorização de quem das leis entende, neste caso os juristas. É por isso que me preocupa quando vejo pessoas que não elaboram as leis, e mais grave, têm a responsabilidade de garantir que todos sem excepção devem cumprir e respeitar a lei, vêm dizer que as leis que temos "não prestam". Ok, já sei que estou a ser faccioso, dizem antes que "não chegam", que "são curtas". Ora bem, olhando ao meu redor e não descortinando qualquer saque ou pilhagem, actos de vandalismo ou qualquer outro indício de anarquia generalizada, penso que não estamos assim tão mal. Podíamos estar melhor, nunca se está sempre como toda a gente gosta, mas depois olho para uma notícia que me diz que Macau "é a melhor cidade na China para viver", e fico esclarecido: melhor é quase impossível. O que não só não é impossível como já começa a tornar-se habitual é cada cabeça achar que a sua sentença é a que deve ser aplicada para todos. E piora quando quem está à mercê destes "delírios", ou seja, toda a gente menos o genial autor da "melhor maneira para todos viverem caso contrário saltem borda-fora do mundo que é meu", nem um pio dá, quando devia, isso sim, bater vigorosamente com o pé em protesto.
No início deste ano de 2015 fomos surpreendidos com uma notícia pouco normal para uma cidade relativamente pacata e ordeira como esta: um suposto "tarado" que seduziu dezenas de meninas
Agora preparem-se para cair da cadeira: o terrível bandido que levou a cabo este diabólico plano é agente da PSP! Isso mesmo, um polícia, como é possível! De apenas 22 anos! Mais uma vez isto explica-se facilmente: o homem é bom, do o problema foi...exacto, a internet. Não existisse internet e o rapaz estaria...sei lá? A caçar um brontossauro para o jantar? A tratar da horta? Em vez disso foi caçar pimbossauras que lhe "trataram da horta", através de chantagem. Ena, esta internet ensina tudo, bestial...quer dizer, que horror! Esta coisa da internet é tão má que esta hora deve estar aí um capeta, um servo de Belzebu qualquer a debitar quantidades monstras de sarcasmo para dizer em não-sei-quantos parágrafos o que poderia muito bem dizer em dois ou três. Não liguem ao senhor da polícia que falou em "melhor formação moral para os agentes das FSM". A culpa é SEMPRE da internet, que é tão má que de vez em quando há um anjinho que liga o computador e pimba! aparecem à sua frente centenas de miúdas descascadas, algumas delas menores de idade. É preciso pegar na lei e fazer uma suruba com ela para sairem de lá leis pequeninas que previnam este tipo de coisas. Isto de andar a receber queixas, a fazer relatórios e ter que ir explicar que alguém que tem o dever de nos proteger do mal preferiu antes enveredar ele próprio pelos caminhos do mal, portanto toca a obrigar toda a gente a identificar-se como deve ser na internet. "Bebé" não, sra. Beatriz Isabel Piuças dos Milagres de Arriaga; "Titi" não, sr. Timóteo Asdrúbal Homem das Neves. E por aí fora. É que no momento em que um agente da autoridade chega ao ponto de se fazer passar por uma mulher, tudo pode acontecer. Parece que quando foi detido, encontraram-no com o rato espetado na veia e tudo. Maldita internet. E as vítimas? Isto é um abuso, uma vergonha, e chega a ser até um insulto a quem trabalha, pá. Vejam como é injusto para as verdadeiras fadas-madrinhas que vão por aí todos os dias de carroça a recrutar todas as meninas púberes e jovens adultas para depois transformá-las em princesas. Não pode ser - Imaginem a angústia dos pais, que andaram ali anos a fio a investir nas meninas para que elas crescessem saudaveis e com aquelas curvas todas para depois serem carne-para-canhao desses tipos porreiros la do mundo da moda.
E de facto é necessário agir, e depressa, senão como é que vamos ter centenas de Giselle Bundchens em Macau? Com este clima de suspeição, não me surpreende que as top-models do território vivam em casas todas podres, na companhia de gente badalhoca e já sem dinheiro para comer a meio do mês, como se viu naquela fantástica reportagem premiada e favorita ao Oscar? Por este andar a H&M vai deixar de vir procurar talentos nas escolas secundárias de Macau, onde não estudam estas esbeltas e espadaúdas mocinhas. E ainda falam da diversificação da Economia. Putz! Não viram que nem aqueles tipos que são assistentes sociais sabem porque é que as miúdas fizeram aquilo? Por causa da internet, ora essa! Elas vêem os pais todos os dias a voltar todos contentes assobiando e rindo do trabalho, e como são muito boazinhas querem ser modelos, para trabalhar muito, muito, e tirando duas ou três "idas ao castigo" com os apalpadores de serviço, não precisam de aturar mais ninguém. Agora com a internet a estragar o esquema é que não pode ser nada. É preciso deter já esta internet, e adoptar um regime que permita saber exactamente quem é que está do outro lado, a ver o quê, a fazer o quê, e se não for pedir, porque está ele a ver e a fazer aquilo. Tudo pela nossa segurança, claro.
Portanto em vez de ensinar o homem a pescar, é favor deixar um trilho de minhocas que venham dar directamente até à cela, que andar por aí a entrar nas casas de gente tarada dá trabalho. E é favor para bem do combate à toxicodependência que os senhores drogados façam o obséquio de andar bem sinalizados, com uma sirene na cabeça que comece a soar quando compram estupefacientes, e já agora vejam lá se consomem na rua, que desde que tiveram essa ideia pioneira de tomar droga em casa aumentou o consumo. Faltam tantas leis que isto anda impossível, porra. Vejam lá vocês que para obter um mandato de busca domiciliária é preciso a assinatura de um juíz, e ainda é preciso provar que existem suspeitas e não sei quê. Depois falam da "presunção da inocência" e não sei que mais. Burocracia, é o que é! Deviam aumentar as penas, já agora, e não venham com essa de que "já aumentaram antes e o consumo não diminuíu", que a gente é que percebe disto: aquilo é preciso um ponto de optimização. Reparem que nas jurisdições onde se aplica a pena da morte para os crimes de droga, os tipos nunca mais se meteram naquilo. E agora, quem é que tem razão?
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