quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Fraternidade Universal: o dia seguinte


Boas! Bem-vindos ao Bairro do Oriente versão 2014, e parecendo que não, este é o oitavo ano (vejam só...) que esta "tasca" na blogosfera está aberta a quem vir aqui parar, de propósito ou acidentalmente (mais acidentalmente, desculpem lá isso) - isto se contarmos com o último mês de 2007, que foi o primeiro da sua história. Parece incrível como já consegui atravessar duas Olímpiadas, dois europeus de futebol, e este ano preparo-me para trazer as novas do segundo mundial de futebol, depois de 2010, quando o maior certame do desporto-rei se realizou pela primeira vez no continente africano. São já seis anos e mais uns pózinhos a transmitir sentado da minha cadeira em frente ao PC, e tirando os sete meses entre Agosto de 2011 e Março de 2012 em que o blogue esteve interrompido por motivos pessoais - o meu "lost weekend" - tenho trazido novas de Macau e do mundo praticamente todos os dias. Penso que não deve haver um único dia dos 365 que compõem o ano civil que não tenha tido um "post", pelo menos. Se tudo correr conforme o planeado, chegarei ao "post" nº 10000 no próximo mês.

Como os leitores mais atentos devem ter reparado, dei a mim mesmo um dia de folga ontem, no primeiro dia do ano. Aproveitei para descansar do "stress" da quadra natalícia, bem como para colocar o sono e as ideias em ordem. Aproveitei ainda para dar um limpeza de Ano Novo à casa, lavar a loiça suja acumulada, varrer do chão o pó que restou de 2013, e já agora guardar alguma comida que sobrou da festa de terça à noite, não vá o sr. rato ficar tentado a fazer o seu regresso triunfal, ele que se tem mantido "entre as cobertas" ultimamente (será que percebeu dinalmente que estou chateado com ele?), e é assim que quero que permaneça. Enquanto dei por mim a fazer a faxina, cantarolava o velho tema dos Afonsinhos do Condado, "Vivi com a Lua cheia": Dei-lhe um beijo e abraçei-a/no Primeiro de Janeiro, amei-a/no segundo mês do ano, larguei-a/não fiquei com ela à esquina, dobrei-a/não deixei secar a vida, reguei-a/dei-lhe um soco e acordei-a/do seu leito tão perfeito, tirei-a/juntei toda a roupa suja, lavei-a/fui com ela pró deserto, sequei-a/vivi com a Lua cheia. A canção mais alegre que conheço para um 1º de Janeiro. Se não conhecem, escutem aqui.

E como foi o vosso "revéillon", ó tribo de maquistas natos, naturalizados e de faz-de-conta? Bem, para mim foi muito "private", juntei-me com família e amigos próximos na casa de um deles, fizemos uma fausta jantarada, contribuí com o peito de perú assado e o sempre imbatível Möet & Chandon, e pronto, "3, 2, 1...ehhhh!!!!". Eh o quê? Eh nada, pois, passa mais um ano, e parece mal deixar passá-lo sem fazer algum tipo de algazarra. Tentei passar a meia-noite sozinho na passagem de 2011 para 2012 e foi assustador, um pouco tétrico, até. Fiquei até com receio de ser visitado pelos fantasmas do Ano Novo passado, presente e futuro Por isso contactei de imediato o primeiro grupo de amigos e amigas que estavam a essa hora com o Facebook ligado no telemóvel e não mais de 15 minutos depois estava no Largo do Senado a respirar o ar do novo ano, que era igual ao do ano anterior, mas com um número a mais no calendário.

Convencionamo-nos desde novos que o "revéillon" deve ser celebrado com pompa e circunstância, e as imagem que temos de alguém que passa o ano sozinho é a de um pobrezinho, de um sem-abrigo ou de um louco. Mesmo esses já fazem o possível para combater esse estigma, e no caso dos dois primeiros juntam-se e assam uma ratazana que apanharam nesse dia perto das latas de lixo ou das barracas onde vivem, ou compram umas passas para assinalar as doze últimas badaladas do ano com Napoleão, Einstein e os restantes amigos imaginários (ou serão mesmo? entra agora música hitchockiana). Em suma, é-nos impingido esse conceito bacoco de passagem de ano, em que supostamente devemos tomar banho e vestir roupa nova para receber o, ahem, "Ano Novo". Na verdade não recebemos porra nenhuma, pois como já escrevi neste "post" (qualquer dia tenho um arquivo maior que a Torre do Tombo), não acontece nada de extraordinário à meia-noite do dia 31 de Dezembro; nem uma aurora boreal, ou um eclipse lunar que nos dê uma razão para estarmos ali a festejar feitos parvos.

No entanto há pessoas que insistem em investir umas massas na festa de passagem de ano, e não é tão pouco como isso. É uma das noites grandes do ano para hotéis, barcos de cruzeiro ou casinos decentes que têm espectáculos onde participam cantores a sério como Barbra Streisand, Tom Jones ou Cher, e não bandas filipinas anónimas como os nossos. Estes sítios estão normalmente sempre cheios dede gente que vem pagar o dobro ou o triplo do que pagaria numa noite normal por exactamente a mesma coisa, com a diferença de um "complementary" qualquer-coisa, normalmente um copo de espumante que toda a gente teima chamar de "champanhe", apesar de em muitos casos não ser sequer originário de França, e, claro, de ser noite de ano-novo. Quando faltam alguns segundos para a meia-noite, as duas tipas com maquilhagem de rabo-de-macaco que andaram a abanar o rabo toda a noite fazem a contagem, e depois berram "happy new year!!!". E depois segue-se o orgasmo fingido da festarola e da alegria, dos brindes e de mais "happy new years" para aqui e para ali. Que seca.

Não tenho nada contra quem vai passar o ano a esses sítios com um grupo de amigos, e eu próprio já fiz isso no passado, mas falo por mim, e não me sinto nada bem. Primeiro porque há gente a trabalhar no duro para que seja possível fazermos a festa, e não pensem que lhes pagam o dobro ou o triplo nessa noite, como nós pagámos para lá estar. Depois porque estamos rodeados de gente estranha. Sim, há sempre aqueles grupos grandes de amigos que reservam uma mesa para vinte e ainda conseguem fazer uma festa mais ou menos privada e ignorar os restantes pagantes, mas quando somos menos de meia dúzia arriscamo-nos, como disse um colega meu e bem, a "abraçar o bife que está na mesa ao lado". Depois reparem na quantidade de tipos que se fazem acompanhar de fulanas que são declaradamente pagas para lhes fazerem companhia nessa noite ou por apenas alguns dias. É fácil identificá-los: eles ocidentais, altos com um ar palerma, cara de Júlio Isidro mais jovem, e elas asiáticas, normalmente tailandesas, indonésias ou filipinas, com carradas de pintura e vestidas de putas. Quem paga a alguém para festejar o "revéillon" junto, é como quem paga para ter companhia para assistir à nossa equipa a ganhar a Liga dos Campeões, ela não percebe nada de futebol.

Não me lembro da última vez que passei o ano num desses sítios, rodeado de estranhos, mas lembro-me de um episódio que me aconteceu quando era mais novo. Tinha ido passar o "revéillon" de 1985 para 1986 no Barrete Verde de Alcochete, com os pais, o meu irmão e a minha irmãzinha Ana, que era ainda uma bebé de um ano e pouco. Quando soaram as 12 badaladas e eu, com a minha ingenuidade dos 11 anos celebrei entusiasticamente, dei um toque a um camarada mais velho que estava no salão e exclamei sorrindo de orelha a orelha: "Feliz Ano Novo! Estamos na CEE!". E estávamos mesmo, e já na pré-adolescência eu era dotado de consciência política. O tipo olhou de lado e resmungou: "olha a confiança", com cara de corno mal-disposto. Não era nenhum adulto pai de família com bigode, era um "puto" como eu, mas apenas ligeiramente mais velho, de uns 15 ou 16 anos no máximo. Há que lhe dar o devido desconto por ser provavelmente um troglodita alcochetano, mas aí está: por muito que levemos a sério isto do "revéillon", há sempre um ou outro filho da fruta para nos estragar a festa. E mesmo que faça a festa connosco nas primeiras horas do dia 1 de Janeiro, não nos conhece de lado nenhum no fim desse mesmo dia. Fraternidade Universal, pois, é um dia, como o Natal. Depois volta tudo ao normal.

1 comentário:

Anónimo disse...

Já agora aproveita o ano novo e muda a foto do blogue. Em Mac, pelo menos, vê-se qualquer coisa muito estranha. Bom ano. CMJ