segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Ourondo até ao fim


As eleições autárquicas em Portugal foram no dia 29, mas passado mais de uma semana ainda dão que falar. Duas freguesias boicotaram o acto eleitoral há oito dias, e ontem foram novamente chamadas às urnas, a ver se o pai morre e a gente almoça. As freguesias em causa são Alpendriz, no concelho de Alcobaça, e Ourondo, concelho da Covilhã, que estão contra a agregação com freguesias vizinhas, uma medida que visa reduzir os gastos com os municípios, o que até me parece boa ideia, francamente. Há por aí freguesias com duas ou três ruas e menos de cinquenta habitantes que têm uma junta de freguesia, onde deve trabalhar pelo menos metade desses habitantes. Em Alpendriz tudo tranquilo; os que acordaram cedo foram votar antes da missa, outros foram depois, e quem não está contente absteve-se. Em Ourondo voltou a haver molho.

Esta freguesia de Ourondo não se quer juntar à de Casegas, formando assim a nova freguesia de Ourondo/Casegas. Ou será Casegas/Ourondo? Tanto faz, não interessa. No dia 29 os Ourondenses organizaram-se e resolveram ir até à (única?) assembleia de voto do vilarejo demonstrarem-se pacificamente, apelando ao boicote voluntário dos seus conterrâneos. Lá chegados ficaram a saber que 5 (cinco) outros Ourondenses já tinham votado, passaram-se dos carretos, entraram por ali dentro e derrubaram a urna ao pontapé. Não sei se foram atrás dos cinco eleitores que foram cumprir o seu dever cívico com o intuito de os linchar, mas não me surpreenderia. Vivesse eu em Ourondo e nesse dia tinha certamente ficado em casa. Não, esperem lá, que parvoíce. Se eu vivesse em Ourondo já tinha emigrado há anos. Bazado, dado de frosques, posto-me a milhas, desopilado dali para fora.

Ontem foi mais do mesmo, com os nobre Ourondenses a manifestarem o seu descontentamento pela junção com Casegas. Na televisão vi uma idosa de olhos esbogalhados, parecendo possessa, a berrar “Nós somos de Ourondo!” com tal convicção, que quase lhe saltava a placa. De seguida entrevistaram o presidente da junta (eu é que sou…o prusidente da junnnta), mais calmo mas igualmente um cromo, que disse “não xei porqué nus fajem ixto, a gente xempre foramos autónamuz, etxetera etxetera”. Deve ser parente do Jorge Jesus, treinador do Benfica. Entre os manifestantes – que seriam cerca de vinte – notava-se uma maioria de mulheres, e a mais jovem teria uns sessenta anos. A que mais se destacava, na frente do resto do grupo de punho cerrado no ar, devia ter mais de oitenta. É bom saber que a juventude Ourondense se preocupa com futuro da sua terra, e não aceita misturas com esses diabos Caseguenses (?!).

Estou com Ourondo, caros leitores. Ourondo, amigo, o Leocardo está contigo. E não sou o único, pois a página do Facebook dedicada a esta causa tem já 22 likes! Quem conhece a História, a tradição e a fibra das gentes ourondenses sabe que é um insulto querer juntá-los a Casegas. Isto não se faz. Quem é ignorante e nunca tinha ouvido falar de Ourondo (como eu, até ontem), saiba que tem a área de 9,21 km2 e 372 habitantes, e fica…bem, no interior, atirado lá para o meio da serra, mais próximo da raia espanhola do que da costa atlântica. E não pensem que os caseguenses estão satisfeitos. Nada disso. Estão furiosos, só que preferem outras formas de protesto que não passem por boicotes eleitorais e arruaça. Saiba da indignação das gentes de Casegas no blogue “Casegas vai nua”. Vai sim senhor. As maravilhas do Portugal profundo…

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